A adoção de Sistemas Agroflorestais (SAFs) no semiárido do Rio Grande do Norte pode representar uma resposta concreta aos desafios da desertificação, da insegurança alimentar e do desemprego rural. Segundo o secretário estadual de Agricultura, da Pecuária e da Pesca, Guilherme Saldanha, esses sistemas sustentáveis têm potencial para gerar até 50 mil empregos no estado, com foco especialmente em áreas degradadas e assentamentos da reforma agrária.
Os SAFs integram o cultivo de árvores, culturas agrícolas e criação de animais em um mesmo espaço, promovendo benefícios ambientais, sociais e econômicos. “Esses sistemas podem gerar empregos diretos e indiretos para os agricultores e suas famílias, promovendo a fixação do homem no campo”, afirmou Saldanha em entrevista ao Investindo por Aí. Além disso, a produção diversificada resultante desses arranjos contribui para o aumento da renda das famílias, ampliando a segurança alimentar e reduzindo a vulnerabilidade às condições climáticas adversas do semiárido.
A combinação de espécies nos SAFs melhora a fertilidade do solo, aumenta a biodiversidade e reduz os efeitos da erosão, fatores cruciais para o combate à desertificação. Segundo o secretário, “esses sistemas permitem ainda a diversificação da produção, incluindo madeira, frutas, forragem e outros produtos, aumentando a resiliência dos agricultores”. No entanto, Saldanha destaca que o sucesso dos SAFs depende do fornecimento de capacitação e apoio técnico contínuos aos agricultores familiares.
Apesar dos benefícios, a implementação em larga escala dos Sistemas Agroflorestais ainda enfrenta obstáculos no estado. O principal deles, de acordo com o titular da pasta, é a necessidade de mudança cultural. “O principal desafio é a conscientização das pessoas para que façam parte deste processo”, pontuou. Ele lembra que apenas nas últimas décadas universidades e instituições públicas começaram a investir de forma mais sistemática nesse modelo, e que ainda há resistência causada pela tradição agrícola convencional e pela forte presença das indústrias de defensivos químicos no mercado.
Como estratégia para superar essas barreiras e fomentar o uso de práticas sustentáveis, o Governo do Rio Grande do Norte tem apostado no Plano ABC+RN — Política Estadual de Agricultura de Baixo Carbono. O programa, criado a partir do decreto estadual nº 33.079/2023, tem entre seus objetivos a ampliação das áreas com Sistemas Agroflorestais e de Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) em todo o território potiguar.
“O projeto prevê a captação de recursos para implantar o modelo em áreas possíveis, sejam elas propriedades privadas ou de associações do campo, e com isso, aumentar a produção e a qualidade do produto, inclusive com potencial para a exportação”, explicou Guilherme Saldanha. Ele também destacou a importância da parceria com o Ministério da Agricultura e da Pesca, por meio da superintendência estadual, para viabilizar as metas do plano.
O Plano ABC+RN está alinhado às diretrizes nacionais de redução das emissões de gases de efeito estufa no setor agropecuário, promovendo o uso sustentável dos recursos naturais e fortalecendo um modelo produtivo mais resiliente frente às mudanças climáticas. A implementação dos SAFs, nesse contexto, aparece como uma alternativa viável e de alto impacto para transformar o cenário rural potiguar, ao mesmo tempo em que combate o avanço da desertificação que ameaça o semiárido.
Com investimentos adequados, apoio técnico e articulação entre instituições públicas e comunidades locais, os Sistemas Agroflorestais podem transformar áreas degradadas em territórios produtivos, fortalecendo a economia verde e promovendo justiça socioambiental no campo.