
A Bahia será o primeiro estado fora da China a receber uma fábrica de vidro solar, com aporte de R$ 1,8 bilhão da Homerun Brasil, subsidiária da mineradora canadense Homerun Resources. A unidade será instalada em Belmonte, a 600 km de Salvador, após a assinatura de um Memorando de Entendimentos (MoU) envolvendo a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia (Secti), a Bahiagás, a Prefeitura local e a Homerun Brasil.
Localizada em um terreno de 60 hectares cedido pela prefeitura, a planta deve gerar cerca de 600 empregos diretos e 2.800 indiretos. O empreendimento utilizará tecnologia avançada para fabricar vidro solar de alta eficiência, inserindo-se na cadeia produtiva do setor fotovoltaico.
A escolha de Belmonte está ligada à jazida de areia silicosa de alta pureza no distrito de Santa Maria Eterna, sob titularidade da CBPM. Segundo a Homerun Resources, a reserva possui 25,56 milhões de toneladas medidas e 38,35 milhões de toneladas inferidas, com teor superior a 99,6% de dióxido de silício (SiO₂).
Areia de alta pureza
Henrique Carballal, presidente da CBPM, enfatizou a importância técnica da matéria-prima para o projeto: “Estamos lidando com um ativo geológico de altíssimo valor agregado. A areia silicosa encontrada em Santa Maria Eterna possui granulação fina, baixa umidade e pureza superior a 99,6% de dióxido de silício (SiO₂), o que a torna adequada para processos industriais de alta performance, como a produção de vidro solar. Nosso papel tem sido oferecer os dados geológicos, garantir a titularidade mineral e atrair a verticalização produtiva para o estado.”
Antonio Vitor, diretor-presidente da Homerun Brasil, destacou o diferencial da sílica baiana: “A Bahia tem a única sílica com essa qualidade de pureza no mundo. Nenhum outro canto do planeta, até esse momento, tem a mesma sílica. Essa sílica transformada em vidro solar vai capacitar a absorção da luz nesses painéis fotovoltaicos.” Ele acrescentou ainda: “Com essa tecnologia, as placas solares poderão gerar até o dobro da energia em relação às atuais. A Bahia se colocará na posição do segundo local no mundo que fabricará vidro de painel solar.”
Análises laboratoriais confirmam que a areia pode ser beneficiada com um processo simples de lavagem para remover impurezas, sem necessidade de tratamentos químicos, garantindo alta pureza. Isso amplia seu uso para outras aplicações industriais, como vidros especiais, cerâmicas técnicas, componentes eletrônicos e processos de fundição.
Além do setor solar, a sílica é essencial na fabricação de semicondutores, fibras ópticas e placas de circuito, além de ser valorizada pela estabilidade térmica e química na moldagem de peças metálicas.
No relatório divulgado em 24 de fevereiro, a Homerun informou que o programa de avaliação integra um contrato de cessão de direitos minerais com a CBPM, com vigência de 40 anos.
Brian Leeners, CEO da Homerun Resources, reforçou o potencial da região: “Valor está nos olhos de quem vê, e a primeira visita ao Distrito de Sílica de Belmonte nos deu uma confirmação visual e física da enorme oportunidade presente na região, generosamente fornecida pela natureza. Agora temos dados que confirmam nossas reservas de areia silicosa por meio de uma estimativa preliminar. Nossa areia silicosa será base de múltiplas frentes de negócios, especialmente nos setores de energia solar e baterias, no Brasil e em outros mercados.”
Energia solar e IA
No dia 31 de março, a Homerun firmou acordo com a Prefeitura de Belmonte para lançar o primeiro projeto-piloto comercial de gestão de energia solar com inteligência artificial e sistema de armazenamento no Brasil.
Com a aquisição da empresa Halocell, agora chamada Homerun Energy, a companhia oferece uma solução para otimizar o uso de baterias com IA integrada a sistemas solares instalados, o que representa um marco para o Brasil e a América Latina. Essa iniciativa amplia a atuação da empresa em Belmonte, onde também estão os principais recursos de sílica.
Além da fábrica de vidro, a Homerun instalará uma unidade de beneficiamento da areia silicosa em Belmonte, com investimento de R$ 100 milhões. Inicialmente prevista para Ilhéus, a planta será responsável pelo preparo da matéria-prima para uso industrial e deve empregar cerca de 180 pessoas diretamente. Camaçari também disputou a instalação do empreendimento.