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6 de setembro de 2024 19:09

Exclusivo: Rio Grande do Norte lidera crescimento industrial no Brasil nos últimos 10 meses

Exclusivo: Rio Grande do Norte lidera crescimento industrial no Brasil nos últimos 10 meses

Com aumento de 24,4%, estado se destaca pela produção de petróleo e biocombustíveis, mas enfrenta desafios na diversificação industrial
Produção de petróleo no Rio Grande do Norte | Foto: 3R Petroleum.

O Rio Grande do Norte se destaca no cenário nacional com um crescimento industrial de 24,4%, garantindo, mais uma vez, a liderança nacional no acumulado do ano, posição que vem mantendo de forma ininterrupta desde julho de 2023, ou seja, há 10 meses ininterruptos. A expansão foi impulsionada principalmente pelos setores de petróleo e biocombustíveis, com aumentos significativos na produção de óleo diesel e gasolina automotiva.

No 1º quadrimestre de 2024, essa liderança foi impulsionada pelos derivados do petróleo e biocombustíveis (74,3%), especialmente óleo diesel e gasolina automotiva, além do setor de confecção e vestuário (23,2%). Por outro lado, houve retração nos setores de alimentos (-12,9%) e indústria extrativa (-69,9%), com destaque para óleos brutos de petróleo, sal associado à extração e gás natural.

Oeste Potiguar

Os valores de crescimento industrial do Rio Grande do Norte têm se consolidado especialmente devido à indústria de Petróleo e Gás, concentrada na região do Oeste Potiguar, onde são mapeados mais de 8 mil poços, dos quais 3.658 são produtores, representando um aumento de 5%. Este setor responde por mais de 40% do PIB industrial do estado e injeta diretamente R$4 bilhões na economia, conforme dados do IBGE de 2022.

O estado é o maior produtor de petróleo em terra do Brasil. Dados do Anuário Estatístico de 2023, divulgados pela Agência Nacional de Petróleo mostram que, em 2023, o Rio Grande do Norte superou sua melhor marca desde 2019, quando foram produzidos 508.235 barris. Os valores mensais de produção também são superiores ao comparar janeiro de 2023 com janeiro de 2024, com um aumento de 16,2% na produtividade média, que subiu de 37.158 barris equivalentes/dia para 41.846 barris equivalentes/dia.

Expectativas para o setor em 2024

Em entrevista ao Investindo Por Aí, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte – FIERN, Roberto Serquiz, avalia que as expectativas para o setor são de crescimento e superação em 2024 dos valores produzidos em 2023. “Os números crescentes de pedidos de licença pelas empresas privadas para a exploração na região Oeste potiguar, além da conclusão das operações e processo de transição do Polo Potiguar e os investimentos significativos de empresas privadas reforçam nosso otimismo”, afirma.

O Polo Potiguar, adquirido pela 3R Petroleum em junho de 2023, engloba três subpolos de exploração de petróleo e gás, além de toda a estrutura industrial de Guamaré, incluindo a refinaria Clara Camarão. A iniciativa privada planeja investir R$7,3 bilhões até 2032 na produção de petróleo e gás neste polo, prevendo a criação de mais de 5 mil empregos nos próximos anos. Durante esse período, estão previstas a reativação de 616 poços e a perfuração de mais de 1,6 mil novos poços.

A descoberta de Pitu, a primeira em águas profundas na Bacia Potiguar, ocorreu no bloco POT-M-855. Em outubro de 2023, a Petrobras obteve a licença ambiental do Ibama para perfuração de poços exploratórios nesta área da Margem Equatorial brasileira. A Petrobras planeja investir aproximadamente US$ 300 milhões na exploração dos primeiros dois poços no campo de Pitu

Desafios e oportunidades na diversificação industrial

Apesar do bom desempenho nos setores de petróleo e vestuário, o Rio Grande do Norte enfrenta desafios na indústria alimentícia e extrativa, que registraram quedas de 12,9% e 69,9%, respectivamente. Para mitigar esses declínios, a FIERN está desenvolvendo o projeto “RN, Estado de Oportunidades”, que visa diversificar a base industrial do estado, com foco em setores como química, plástico, metalurgia, reciclagem, alimentos e bebidas.

Segundo Serquiz, “a competitividade dos demais setores industriais e a eventual retomada econômica fazem parte de uma agenda que envolve tanto o comprometimento das indústrias em se ressignificar quanto uma agenda estratégica governamental que viabilize o ambiente de negócios local”.

A FIERN também está alinhada com o projeto nacional Nova Indústria Brasil, que busca modernizar a indústria brasileira e aumentar sua competitividade global.

Integração com logística e infraestrutura

A integração com outros setores econômicos, como logística e infraestrutura, tem sido fundamental para o crescimento industrial do Rio Grande do Norte. O estado está estrategicamente posicionado como o ponto mais próximo da Europa, América do Norte e África, tornando-o um potencial hub de recebimento e distribuição de cargas.

A FIERN está trabalhando em projetos como a consolidação de uma linha de cabotagem para o Porto de Natal, localizado na capital do estado. Atualmente, o porto se destaca como um dos maiores centros de exportação de frutas para a Europa. Estudos de viabilidade econômica indicam que, após a realização de dragagem e construção de defensas da ponte, a movimentação do porto poderia chegar a R$900 milhões em 12 meses.

Além disso, o desenvolvimento de uma ferrovia que conecte Mossoró à cidade de Souza, na Paraíba, é visto como essencial para o estado. Este projeto, orçado em aproximadamente R$921 milhões, alinha-se ao novo marco das ferrovias (Lei 14.273, de 2021) e visa conectar o Rio Grande do Norte à Transnordestina e, subsequentemente, à ferrovia Norte-Sul. Este avanço seria um grande diferencial competitivo para a mineração potiguar, que possui grandes reservas de tungstênio, feldspato, minério de ferro, sal, calcário, mica, ouro e possivelmente lítio.

Por fim, o Aeroporto Internacional de Natal, administrado pela Zurich Airports, está passando por renovação e ressignificação para se tornar um parque industrial associado. O aeroporto é considerado um dos maiores e mais seguros aeroportos de cargas do país, com capacidade de receber aeronaves de grande porte como o Airbus A380.

Impactos e expectativas para investimentos futuros

A liderança contínua do Rio Grande do Norte no desempenho industrial reforça a percepção positiva do estado como um destino atraente para investimentos futuros.

“O crescimento da indústria no Rio Grande do Norte reflete um efeito de comparação com bases de produção inferiores do ano passado, resultando em números mais robustos. A redução dos juros de mercado nas operações de crédito e financiamento está beneficiando a indústria, diminuindo os custos financeiros e aumentando a demanda. Com um mercado de trabalho aquecido, menor taxa de desemprego e aumento da renda média das famílias, a expectativa é de um crescimento consistente no estado nos próximos meses”, diz Allisson Martins, Economista e gerente executivo de Macroeconomia do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene).

O maior projeto de retenção industrial do estado é o programa PROEDI – Programa de Estímulo ao Desenvolvimento Industrial do RN – que concede descontos no ICMS que podem chegar a até 95%.

“O desafio, todavia, é que diante da reforma tributária nacional, os incentivos fiscais estão com data contada e, após 2033, os estados competirão com base em diferenciais estratégicos como infraestrutura qualificada, conexão de internet de alta qualidade abrangendo todo o estado, educação de qualidade e eficiência nos órgãos públicos, especialmente os licenciadores”, ressalta o presidente da FIERN.

A FIERN tem advogado por essa agenda através do “RN, Estado de Oportunidades”. O Rio Grande do Norte, posicionado estrategicamente e líder na matriz de energias renováveis do Brasil, apresenta um potencial único. Com mais de um terço da energia eólica nacional gerada no estado e expansão contínua de projetos em terra e off-shore, incluindo 14 iniciativas aprovadas pelo IBAMA com mais de 25 GW, o estado também vislumbra novas oportunidades com prospecções em águas profundas na margem equatorial, potencialmente exploradas pela Petrobras nos próximos 20 anos.

Por conta destes fatores e com a agenda promissora da FIERN sob o tema “RN, Estado de Oportunidades”, a indústria potiguar deve manter uma tendência de crescimento, projetando-se alcançar um aumento de 15% acima da média do Nordeste em 2024, que se estima consolidar próximo aos 2,9%.

 

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