Jornalismo econômico para a inovação no Nordeste -
Jornalismo econômico para a inovação no Nordeste -
17 de novembro de 2025 12:46

Expo Favela Piauí transforma criatividade em desenvolvimento regional

Expo Favela Piauí transforma criatividade em desenvolvimento regional

Feira em Teresina conecta empreendedores periféricos a investidores e reforça o papel da economia criativa no crescimento do estado
Foto: Divulgação/Governo do Piauí

Nos dias 4 e 5 de novembro, o Grand Bistrô, em Teresina, se transformou em um grande palco da inovação e da diversidade empreendedora. A terceira edição da Expo Favela Innovation Piauí 2025 reuniu 40 empreendedores de favelas e periferias do estado, apresentando produtos e serviços que vão da moda e gastronomia à tecnologia, educação e artesanato. Mais do que uma feira de negócios, o evento se consolidou como uma vitrine do empreendedorismo periférico, mostrando como as iniciativas criativas das comunidades vêm se tornando um motor real de desenvolvimento econômico e social.

Realizada pela Central Única das Favelas (CUFA) e patrocinada pela Equatorial Piauí, por meio do Sistema de Incentivo à Cultura (SIEC) da Secretaria de Cultura do Estado, a Expo Favela apostou em um formato que mistura exposição, capacitação e cultura. Além dos estandes, o público pôde visitar espaços temáticos como o Favela Kids, com atividades para crianças; o Favela Literária, dedicado a autores e obras periféricas; e o Favela Style, que trouxe trancistas, tatuadores, manicures e massagistas, celebrando o estilo e a atitude das comunidades.

Valciãn Calixto, presidente da CUFA Piauí e produtor do evento, destaca o papel dos parceiros institucionais que viabilizaram a feira, como a Equatorial Piauí, a SEDUC, a Defensoria Pública, o Piauí Saúde Digital e a Secretaria de Segurança Pública, que ofereceu serviços gratuitos aos visitantes. “Tudo isso já é muito bom de ver acontecer, esse fortalecimento dos nossos empreendedores”, celebra Calixto.

Da favela para o asfalto, e para o Brasil

Durante os dois dias de programação, os expositores participaram de mentorias, rodas de conversa e apresentações culturais, além de passarem por uma avaliação da Escola de Negócios da Favela. Os cinco empreendimentos com maior grau de maturidade serão selecionados para representar o Piauí na Expo Favela Brasil, que acontece no fim de novembro, em São Paulo.

“É uma oportunidade gigante para que nossos empreendedores ampliem sua rede de contatos, fortaleçam a divulgação de seus produtos e se integrem a novas culturas e realidades do empreendedorismo brasileiro”, afirma Calixto.

Essa conexão entre os negócios periféricos e o chamado “asfalto”,  o universo dos investidores e das grandes empresas, é um dos diferenciais do evento. A feira atua como um elo entre o talento criativo das comunidades e o capital de investimento, permitindo que pequenos negócios locais ganhem visibilidade e estrutura para crescer.

Economia criativa e desenvolvimento territorial

Para o professor Daniel Kamlot, do Programa de Pós-graduação em Economia Criativa, Estratégia e Inovação da ESPM, eventos como a Expo Favela são fundamentais para o fortalecimento da economia criativa regional. “A economia criativa nas periferias brasileiras se manifesta como uma fonte de geração de renda, inclusão social e produção cultural local. No Piauí, ela está fortemente relacionada à tradição cultural nordestina e à valorização dos ativos do estado, como o artesanato, a gastronomia e as expressões artísticas”, explica.

Segundo Kamlot, o Piauí tem dado passos importantes no reconhecimento desse potencial, como a criação da Política Estadual de Desenvolvimento da Economia Criativa, que busca fomentar infraestrutura e inclusão produtiva em comunidades vulneráveis. “A realização de eventos como a Expo Favela Innovation Piauí mostra grande relevância ao promover o encontro entre empreendedores e investidores, acelerando a economia local”, afirma.

A inovação que surge nas favelas, diz Kamlot, é uma “inovação por restrição”, nascida da escassez de recursos e da necessidade de criar soluções criativas, de baixo custo e impacto direto na comunidade. “O empreendedor da periferia não apenas cria um negócio, mas também uma tecnologia de sobrevivência e desenvolvimento para o território em que atua”, analisa.

Essa característica faz com que muitos empreendimentos periféricos tenham um viés de inovação social, com foco em resolver problemas concretos,  desde a geração de renda até a melhoria de serviços locais. “A Expo Favela funciona como um catalisador que rompe barreiras geográficas, de preconceito e, também, de acesso ao capital, que costumam isolar os empreendedores criativos localizados nas periferias”, acrescenta.

Apesar do crescimento e da visibilidade conquistada, a economia criativa periférica ainda enfrenta desafios estruturais. Kamlot destaca três eixos principais: acesso a crédito, infraestrutura e combate ao estigma de mercado. “Muitos empreendedores periféricos não têm bens para oferecer como garantia e enfrentam dificuldades em acessar linhas de crédito. Além disso, ainda há preconceito em relação à origem desses negócios, o que limita parcerias e contratos com grandes empresas”, observa.

Outro ponto sensível é a capacitação. Muitos empreendedores dominam a parte criativa, mas carecem de formação em gestão, finanças e marketing digital. “É essencial que programas de capacitação, como os do Sebrae, sejam adaptados à realidade de quem trabalha e estuda ao mesmo tempo, caso de muitos dos empreendedores nacionais”, defende o professor.

Um vetor mensurável de desenvolvimento

Os números comprovam o peso econômico das favelas brasileiras. Segundo dados do Data Favela (2025), a renda anual movimentada por essas comunidades chega a R$ 300 bilhões, valor superior ao PIB de vários estados brasileiros. Há entre 5,2 e 5,8 milhões de empreendedores atuando em favelas no país, muitos deles em setores criativos e de serviços.

“Esses dados mostram que o empreendedorismo periférico é um vetor mensurável e significativo de desenvolvimento econômico”, afirma Kamlot. “O desafio é transformar essa enorme economia informal em uma economia formal, com políticas públicas e instrumentos financeiros à altura de seu potencial.”

Para conectar esses empreendedores às cadeias produtivas formais sem diluir sua identidade cultural, Kamlot defende estratégias baseadas em cocriação, branding de identidade e capacitação em gestão. “A história da comunidade e da técnica ancestral pode ser transformada em um ativo de marketing”, afirma.

A periferia como laboratório de inovação

O futuro, segundo o professor, aponta para uma consolidação do setor criativo periférico como motor de desenvolvimento territorial. “A periferia deixará de ser vista apenas como um mercado consumidor para se tornar uma fonte de inovação e de branding”, projeta. Tendências como fintechs de microcrédito, plataformas de e-commerce local e incubadoras dentro das comunidades devem se expandir nos próximos anos.

Com isso, eventos como a Expo Favela Innovation Piauí deixam de ser apenas vitrines e passam a atuar como laboratórios de transformação econômica e social, onde o talento, a criatividade e a resistência das periferias ganham luz, voz e, finalmente, investimento.

👆

Assine a newsletter
do Investindo por aí!

 

Gostou desse artigo? compartilhe!

Últimas

metrô de Recife
Ceará
Black Friday
expo favela
Governo - MA
Mineração
Consórcio nordeste
comércio e serviços
Sebrae bahia
Estradas piiauí

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

div#pf-content img.pf-large-image.pf-primary-img.flex-width.pf-size-full.mediumImage{ display:none !important; }