
Tradicionalmente conhecida por suas praias paradisíacas e clima tropical, Fortaleza passou a figurar em um novo mapa de destaque – o do mercado imobiliário de alto padrão, ou seja, de luxo. Segundo levantamento da Brain Inteligência Estratégica, a capital cearense registra atualmente um tíquete médio superior a R$ 3 milhões em empreendimentos amplos e de alto padrão na orla, superando até metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro.
Esse avanço não é casual, mas, sim, por uma combinação de fatores econômicos, urbanísticos e comportamentais, intensificados pela pandemia, que transformou Fortaleza em referência nacional no segmento de imóveis de alto padrão. “A cidade conseguiu alinhar desejo, produto e timing: oferta limitada de terrenos nobres, vista privilegiada, clima tropical e um público com maior poder aquisitivo buscando bem-estar e sofisticação”, explica Sacha Myrna, CEO da X Metros Quadrados Soluções Imobiliárias em Imóveis de Luxo.
Crescimento está ligado à valorização da orla e à escassez de terrenos nobres vista-mar
O crescimento expressivo do setor está diretamente ligado à valorização da orla marítima e à escassez de terrenos nobres com vista para o mar. Bairros como Meireles, Mucuripe, Aldeota e Varjota concentram lançamentos com plantas generosas, acabamentos nobres, automação residencial, áreas comuns sofisticadas e diferenciais como piscinas com borda infinita, varandas gourmet e infraestrutura para carros elétricos.
O que justifica o alto crescimento de imóveis de luxo em Fortaleza é o foco em metragens amplas e alto padrão construtivo, o que eleva o valor total dos imóveis, mesmo que o preço por metro quadrado seja similar ao de outras capitais.
A pandemia da Covid-19 funcionou como um catalisador desse movimento. A busca por qualidade de vida, espaços mais confortáveis e integração com a natureza, especialmente o mar, impulsionou uma demanda que já se desenhava há pelo menos cinco anos. “O lar passou a ser visto como refúgio”, diz a CEO.
Quem compra imóveis de luxo em Fortaleza?
Apesar de o mercado ainda ser majoritariamente composto por cearenses de alta renda, famílias tradicionais ou profissionais em busca de upgrade, há uma crescente participação de compradores de fora. “Temos visto um aumento de interesse de compradores de outros estados, especialmente São Paulo, Brasília e Pará. Investidores estrangeiros e brasileiros do exterior (especialmente de Portugal e Estados Unidos) também têm entrado nesse mercado, principalmente em busca de segunda residência ou refúgio pós-aposentadoria”, aponta Myrna. Muitos desses compradores buscam uma segunda residência, seja para temporada, seja como investimento em locações de alto padrão.
O perfil do consumidor também evoluiu. Myrna explica que hoje, os clientes valorizam não só o tamanho e a vista, mas também tecnologia embarcada, sustentabilidade, privacidade e design exclusivo. Eles querem experiências completas e personalizadas.
Imóveis de luxo convivem lado a lado com vulnerabilidade social
Se por um lado o boom imobiliário impulsiona a economia e estimula revitalizações, por outro escancara os contrastes urbanos de Fortaleza. A concentração de empreendimentos de luxo na orla convive lado a lado com bolsões de vulnerabilidade social e limitações de infraestrutura e mobilidade.
“Ainda há um descompasso entre o luxo vertical e o tecido urbano no entorno. A mobilidade em algumas áreas é limitada, e a desigualdade social se torna mais visível nos contrastes com comunidades próximas. Alguns empreendimentos tentam atenuar isso com ações de contrapartida, como requalificação de calçadas, praças públicas, ou doações a projetos sociais, mas ainda são exceções, não regra”, analisa Sacha Myrna.
As exigências legais por parte do poder público ainda são pontuais, e a pauta ESG vem começando a se inserir com mais força no mercado local. Certificações como LEED e GBC Brasil, por exemplo, têm sido buscadas por incorporadoras que desejam se posicionar melhor diante de um consumidor mais atento e exigente.
O futuro do alto padrão na capital cearense
A tendência, segundo especialistas, é de continuidade no crescimento, mas com maior segmentação e foco na diferenciação. “A valorização do metro quadrado na orla ainda não atingiu seu teto, e os estoques baixos ajudam a manter o apetite dos investidores. Contudo, o mercado ficará mais competitivo, exigindo projetos autorais, wellness e experiências exclusivas”, afirma Myrna.
Empreendimentos “boutique”, com poucas unidades por torre e plantas personalizáveis, começam a se popularizar. Conceitos mixed-use, que integram moradia com áreas gastronômicas, galerias de arte ou coworking, também surgem como apostas para um público de luxo mais jovem e cosmopolita.
Em relação às próximas regiões com potencial de valorização, as apostas se concentram em áreas como a Praia do Futuro, atualmente em processo de valorização e revitalização, além de bairros como Varjota, Cocó, Guararapes e Dunas. São regiões com forte apelo residencial, áreas verdes ou infraestrutura consolidada, o que atrai o olhar das incorporadoras e investidores. Fortaleza se consolidou como muito mais do que um destino turístico. Tornou-se símbolo de sofisticação, exclusividade e inovação no mercado imobiliário nacional.