O mercado imobiliário brasileiro, historicamente dominado por homens, vive um processo de transformação. Nos últimos dez anos, a participação feminina no setor cresceu 144%, segundo dados do Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci). Esse avanço, no entanto, é resultado de décadas de luta por espaço — e também de iniciativas que buscam tornar o ambiente mais justo e representativo.
Um dos principais exemplos desse movimento é o Instituto Direito Imobiliário Por Elas, criado há cinco anos no Recife por um grupo de advogadas com atuação especializada no setor. O projeto, que começou como uma rede de apoio, se expandiu e hoje soma mais de 60 associadas em todo o país, reunindo corretoras, engenheiras, gestoras, empreendedoras e outras profissionais que atuam no mercado de imóveis.
Celina Pessoa de Mello, uma das cofundadoras do instituto, é advogada especializada em Direito e Mercado Imobiliário, com vasta experiência em assessoria de leilões de imóveis, contencioso imobiliário e recuperação de crédito. Ela é presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB/Olinda e também ocupa o cargo de presidente da Comissão de Leilões do IBRADIM, além de ser vice-presidente da Comissão de Leilões da ABA Nacional. Ela afirma que o Instituto não é apenas uma iniciativa de mulheres do Nordeste, mas que tem sido fortalecido por nordestinas de todo o Brasil. “A ideia é trazer todo mundo, mas essa característica do Nordeste é muito forte. Muitas de nós somos de Recife. Fico muito feliz de ver mulheres nordestinas ocupando tantos lugares”, destaca.
Com canais ativos no WhatsApp e presença em redes sociais como Instagram, LinkedIn e um site próprio, o grupo busca fomentar debates e ampliar a visibilidade feminina em um setor fundamental para a economia brasileira. A proposta vai além da troca de experiências: em 2025, o Instituto lançará o Imobi por Elas Talks, evento que pretende reunir especialistas do mercado para discutir tendências sob a ótica de mulheres que ocupam posições de destaque. “É um congresso, mas que não tem a intenção de ser um congresso. Queremos trazer discussões relevantes”, explica Celina.
Rebeca Arandas, também cofundadora do Instituto, é advogada, pós-graduada em Ciências Criminais e Direito e Mercado Imobiliário, com vasta atuação em contencioso imobiliário e recuperação de crédito. Ela tem sido uma defensora ativa da inclusão feminina no mercado imobiliário e compartilha as dificuldades enfrentadas por mulheres na profissão: “Já me deparei com muitas barreiras culturais em relação a gênero. Não foi uma, nem duas, nem três vezes que eu já fui invisibilizada diante de figuras masculinas dentro do meu trabalho. Já aconteceu comigo diversas vezes de só ser respeitada ao lado de um advogado — que, inclusive, estava me auxiliando — ou, então, as pessoas nem se dirigirem a mim, apenas a ele.”
A atuação da rede se materializa em encontros e eventos: já foram oito ao todo, incluindo edições em Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Segundo Rebeca, o Imobi por Elas funciona como um apoio diário. “Em muitos espaços, não conseguimos ser reconhecidas, e é esse suporte entre mulheres que nos fortalece.”
A trajetória do Instituto também representa uma virada histórica. Até 1958, uma legislação federal impedia mulheres de exercerem a profissão de corretora de imóveis no Brasil. A revogação do artigo 37 da Lei nº 556 foi apenas o primeiro passo rumo à equidade — uma caminhada que ainda hoje enfrenta obstáculos, mas vem sendo fortalecida por ações como essa.
