A sustentabilidade e a consciência ecológica, incluindo a preocupação com as mudanças climáticas e a busca por vidas mais saudáveis, são temas discutidos no turismo há muitos anos. Para as novas gerações, esses valores são quase naturais e moldam as escolhas dos consumidores de viagens.
Cada vez mais viajantes optam por alternativas como voos com pegada de carbono neutra, hospedagens com certificação ambiental e apoio a iniciativas de preservação local, buscando minimizar os efeitos ambientais e sociais de suas viagens.
Esse novo viajante busca mais do que experiências inéditas: há um desejo crescente de viajar com um propósito, apoiando as comunidades locais, protegendo os ecossistemas e priorizando o turismo regenerativo, que visa revitalizar os destinos e gerar um legado positivo e duradouro.
Ainda assim, é importante reconhecer a lacuna entre as intenções expressas e as ações concretas, pois poucos estão realmente dispostos a fazer grandes sacrifícios ou gastar mais por escolhas sustentáveis. O preço e a conveniência continuam sendo prioridade para a maioria dos consumidores.
A economista e pesquisadora de turismo de base social e ambiental Raquel Lauredor afirma que a preservação de ecossistemas e da cultura local não deve ser uma barreira para o desenvolvimento econômico desses locais, mas que, para isso, o Estado precisa atuar e investir em tecnologia social e ambiental.
Um outro ponto levantado pela pesquisadora é o de que é preciso fazer com que esses roteiros cheguem até os turistas, e, para isso, a necessidade de investir em modelos de infraestrutura que façam a ponte entre desenvolvimento e preservação.
“Muitas rotas ecológicas ainda são caras para a maioria dos brasileiros. Isso tem a ver com a falta de infraestrutura, em especial logística. Comunidades, universidades, agências de fomento têm expandido seu olhar para o turismo ecológico, mas ainda são raros os gestores públicos que compreendem que é papel deles organizar suas cidades e estados para que o turista chegue”, afirma a pesquisadora.
No Nordeste, um exemplo de investimento nessa linha é a construção do aeroporto Costa dos Corais, em Maragogi, norte de Alagoas. Para estimular o turismo na região costeira que une Alagoas e Pernambuco, o aeroporto deu um passo importante na segunda quinzena de maio, com o início das obras do seu terminal de passageiros.
A expectativa do Departamento de Estradas e Rodagens de Alagoas (DER) é que a construção seja totalmente concluída na primeira metade do ano seguinte. A pista do aeroporto se destacará como uma das maiores entre os aeroportos de cidades do interior do Nordeste.
O terminal de passageiros do Aeroporto de Maragogi, segundo o governo alagoano, terá 1.000 metros quadrados e dois gates para o fluxo de passageiros.
O próprio governo alagoano, no entanto, reconhece que outras obras são necessárias para dar sustentabilidade aos programas de turismo ecológico.
Na Costa dos Corais, segundo a Secretaria de Estado do Turismo, é necessário aumentar o número de árvores nas cidades e implementar a coleta seletiva de lixo. “Já no sul do estado, na região conhecida como Caminho das Águas, é importante estudar o limite de exploração dos recursos naturais e organizar o saneamento básico, incluindo o fornecimento de água, o tratamento de esgoto, a drenagem e a gestão de resíduos sólidos”, afirmou a secretaria por meio de nota.
O governo alagoano tem bons motivos para se preocupar na melhora das condições para o turismo ecológico. Pesquisa sobre comportamento da população brasileira, feita pelo Ministério do Turismo e pela Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados, apontou as macrorregiões e os estados preferidos dos brasileiros, para viagens a lazer entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025. Nele, o Nordeste aparece no topo, com 53% da preferência. Maceió e, especificamente, a Costa dos Corais, figuram entre os 10 destinos mais buscados pelos brasileiros.
Na Costa dos Corais, ao norte do estado, destacam-se duas iniciativas bem-sucedidas. Em Porto de Pedras, a Associação do Peixe-Boi realiza o turismo de observação do peixe-boi-marinho, dos manguezais e dos recifes de coral de forma comunitária e organizada.
Com uma estrutura totalmente local e focada no turismo de base comunitária, a associação promove o desenvolvimento social e a consciência ecológica na comunidade, integrando moradores ribeirinhos, pescadores e estudantes da cidade e dos municípios vizinhos, além de incentivar o artesanato local.
Um ponto importante é que todos os envolvidos no projeto utilizam barcos a remo, demonstrando o compromisso com a preservação dessa espécie ameaçada de extinção.