Jornalismo econômico para a inovação no Nordeste -
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18 de novembro de 2025 15:24

Investimentos tecnológicos no Ceará crescem, mas impacto ambiental acende alerta

Investimentos tecnológicos no Ceará crescem, mas impacto ambiental acende alerta

Apesar de potencial econômico, construção de data centers na região preocupa especialistas
Mega Lobster, data center da Tecto inaugurado em outubro de 2025 | Foto: Divulgação

Grandes companhias nacionais e internacionais estão apostando nas energias do Ceará, literalmente. Recentemente, a Casa dos Ventos, empresa de energia renovável, anunciou um investimento de R$ 50 bilhões para a construção de um data center no complexo portuário do Pecém, região metropolitana de Fortaleza (CE). O novo empreendimento deverá ser utilizado pela ByteDance, empresa responsável pelo TikTok, e ocupará uma área equivalente a 12 campos de futebol. O Ceará é um dos maiores produtores de energia eólica do Brasil e, além disto, tornou-se um importante ponto de conexão de internet no Brasil, por conta da infraestrutura de cabos submarinos ancorados em Fortaleza. Todo o conjunto faz do Estado um hub tecnológico estratégico. Porém, o excesso de exploração econômica tem causado discussões ambientais.

Recentemente, a Semace (Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará) autorizou a Casa dos Ventos a fazer uma intervenção em área de proteção permanente (APP). O órgão disse que o empreendimento é uma utilidade pública. Comunidades indígenas e locais contestaram essa autorização e denunciaram o empreendimento ao MPF (Ministério Público Federal) no Ceará, alegando o consumo excessivo de água e os possíveis danos ambientais.

Alessander Sales, procurador da república do Ceará, afirmou ao Investindo Por Aí que o MPF-CE está fazendo uma perícia para aferir se o caso poderia ter sido considerado um licenciamento simplificado, que é de baixo potencial poluidor. “Estamos analisando todos os impactos que foram descritos na representação e que estão também descritos no documento da empresa quando da solicitação do licenciamento, e ainda os documentos técnicos da Semace.” O procurador destaca que a intenção inicial é ter um documento assinado por peritos do MPF-CE dizendo se o licenciamento simplificado foi adequado ao caso ou não. Se não foi, terão de demandar a invalidação do licenciamento. Mas só podem fazer isso após o recebimento do laudo pericial, com prazo em 10 de dezembro. “A avaliação preliminar que nós temos é que precisamos dimensionar os impactos da atividade de forma técnica. E, portanto, nós vamos aguardar o laudo pericial que foi solicitado.”

Procurada pela reportagem, a Casa dos Ventos, empresa brasileira responsável pelo projeto em parceria com o TikTok, diz em seu posicionamento que o projeto de data center é fundamentado em sustentabilidade e inovação. Além disto, garante que “o funcionamento será alimentado por energia 100% renovável, gerada por novas plantas da companhia que serão construídas e dedicadas a essa atividade.” Procurada pela reportagem, a Semace não retornou ao pedido de entrevista. Já sobre o uso da água, a empresa afirma que o sistema de resfriamento representará 10% da demanda total e que mantém diálogo com comunidades e autoridades locais.

Enquanto o debate ambiental segue em análise, os investimentos continuam a avançar na região. No início desta semana, a Omnia, empresa do Patria Investimentos, confirmou participação junto à Casa dos Ventos na construção do data center complexo portuário do Pecém, o mesmo que deverá ser utilizado pela ByteDance. Com início de construção previsto ainda para 2025, o projeto receberá da Omnia investimentos de infraestrutura de até US$ 2 bilhões. A entrada em operação, de acordo com o comunicado, está prevista para o segundo semestre de 2027. “Estamos entusiasmados com o lançamento do primeiro Data Center da Omnia. Ele representa um marco importante para a indústria digital no Brasil, possibilitando que o país assuma um protagonismo global na atração de investimentos para a economia do conhecimento, servindo de forma competitiva e sustentável novas demandas como é o caso da Inteligência Artificial”, afirma Rodrigo Abreu, CEO da Omnia e Operating Partner do Pátria Investimentos

Marcus Nakagawa, doutor em Sustentabilidade, especialista e formador de opinião em ESG e meio ambiente, reforça que é preciso um estudo de viabilidade econômica, de impacto ambiental e social de todos os investimentos em energia. “Toda empresa pode impactar positivamente ambientalmente e socialmente, mas é muito necessário que se faça uma pesquisa aprofundada de impacto ambiental e social, com participação de biólogos, geógrafos e cientistas sociais, além de consultas às comunidades afetadas. “Uma análise baseada não só no impacto econômico, mas também no ambiental e, principalmente, no social, onde haja uma inclusão social de todos e todas”, comenta o especialista.

Posição geográfica privilegiada

Com um investimento de R$ 550 milhões, a Tecto Data Centers inaugurou em outubro o Mega Lobster, terceiro data center da companhia em Fortaleza. Tito Costa, Chief Revenue Officer (CRO) da Tecto, aponta que Fortaleza é hoje um dos hubs de conectividade mais estratégicos da América Latina, com acesso direto a cabos submarinos que conectam o Brasil à América do Norte, Europa e África. Este cenário permite atrair processamento internacional e impulsionar a economia digital do Nordeste. “É nesse contexto que a Tecto está posicionada para atender à demanda crescente por infraestrutura digital de alto desempenho”, diz. O CRO comenta que a empresa considerou a sustentabilidade como parte central do modelo operacional. De acordo com o executivo, o Mega Lobster foi planejado para garantir eficiência energética e estabilidade operacional. A companhia afirma que todos os parâmetros de ruído, segurança e impacto ambiental são rigorosamente atendidos. “No Ceará, o Mega Lobster já gerou mais de 450 empregos diretos e indiretos e deve continuar impulsionando o ecossistema local de tecnologia e serviços. Cada novo data center da Tecto gera um efeito multiplicador: fomenta inovação, cria oportunidades e fortalece a base tecnológica que vai sustentar a próxima revolução digital.”

A posição geográfica do Ceará faz do estado uma porta de entrada da internet internacional no Brasil, tornando-se um ponto de interconexão estratégica da infraestrutura de internet. Para André Insardi, professor do curso de Ciências de Dados e Negócios da ESPM, além da posição geográfica privilegiada, próxima das rotas dos cabos submarinos que ligam América, Europa e África, outros fatores que contribuem para esse investimento na região são a política estadual de atração tecnológica; Incentivos fiscais e infraestrutura de data centers e energia estável, junto à convergência entre governo, academia e setor privado, criam um ecossistema que estimula inovação e investimento em telecomunicações.

O professor destaca, no entanto, que é preciso que a infraestrutura chegue às pessoas. “O verdadeiro valor de um hub digital está em democratizar o acesso: transformar conectividade em oportunidade educacional, produtiva e social. Isso exige políticas públicas de inclusão digital, programas de formação em competências digitais e tecnológicas, e parcerias com universidades e escolas técnicas”, diz. Insardi complementa que quanto mais se investe em educação tecnológica, cria-se um ciclo virtuoso: mais talentos, mais inovação, mais empresas e mais emprego qualificado.

Nakagawa vai pela mesma linha de pensamento, e reforça que essa é uma pesquisa que a Academia tem feito, “para gerar um progresso econômico com o cuidado da natureza, minimizando os danos, diminuindo, zerando e, quem sabe, até regenerando o impacto ambiental no mundo.” O especialista destaca que, com o uso intensivo de energia, cada vez mais será preciso utilizar fontes energéticas inteligentes, baratas e renováveis. Para ele, este é um tema que tem se discutido por meio das COPs (Conferência das Partes) e investidores no mundo: como ter resultados econômico e lucratividade, incluindo as questões de equidade social.

“O Ceará tende a manter sua liderança se continuar investindo em inovação, segurança energética e formação de capital humano. Mas, como qualquer hub global, precisa estar atento. A liderança se mantém não apenas com cabos, mas com conhecimento e tecnologia aplicada”, comenta Insardi. Para o professor, o futuro dos hubs digitais está na integração entre infraestrutura física e inteligência digital. “Nos próximos anos, veremos a automação das redes e gestão por inteligência artificial, a expansão da edge computing (processamento local próximo ao usuário) e uma exigência crescente por sustentabilidade e neutralidade de carbono”, conclui.

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