Jornalismo econômico para a inovação no Nordeste -
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17 de novembro de 2025 13:16

Livro celebra 20 anos do Agroamigo e revela impacto do microcrédito rural na agricultura familiar do Nordeste

Livro celebra 20 anos do Agroamigo e revela impacto do microcrédito rural na agricultura familiar do Nordeste

Organizadores contam que a publicação reúne análises de pesquisadores e técnicos sobre a trajetória da iniciativa
Foto ilustrativa: Cival Jr

O Banco do Nordeste (BNB) lançou o livro “Agroamigo 20 anos: duas décadas apoiando a realização de sonhos e transformando a agricultura familiar”, em comemoração às duas décadas do programa de microcrédito rural. Disponível gratuitamente na internet, a obra reúne artigos de pesquisadores e técnicos que analisam o impacto da iniciativa desde sua criação.

O lançamento foi acompanhado do anúncio de resultados recordes em 2025: somente no Ceará, o Agroamigo movimentou R$576,5 milhões, distribuídos em 44 mil contratos firmados com produtores rurais.

Entrevista com os organizadores

O Investindo Por Aí conversou com exclusividade com os organizadores do livro: Maria Odete Alves, pesquisadora no Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene/BNB), e Airton Saboya Valente Júnior, gerente executivo do Etene/BNB.

Júnior destaca a relevância do microcrédito para agricultores familiares.

Ele também ressalta os desafios sociais e econômicos enfrentados por esse segmento e as recentes melhorias no programa. “No Nordeste, muitos agricultores não têm posse da terra e trabalham em pequenas áreas, o que limita renda e investimentos. O Agroamigo recebeu recentemente um aumento significativo no valor dos empréstimos, corrigindo uma defasagem histórica. Isso vai permitir ampliar a produção, realizar mais investimentos e melhorar as condições de vida dos beneficiários. Para celebrar os 20 anos, reunimos uma equipe interna do banco e convidados externos, resultando no livro que sintetiza essa trajetória”.

Investindo Por Aí: Como foi o processo de organização do livro? Quais critérios foram utilizados para selecionar os temas e os autores?

Airton: Quem organizou os temas foi principalmente a Odete, junto com os autores. Eu também ajudei nesse processo de identificação. Nós já tínhamos uma equipe que havia produzido artigos sobre o Agroamigo e esses colegas, que inclusive estão listados no livro, foram selecionados para desenvolver alguns capítulos. Além deles, convidamos autores externos. Um deles é o professor Joacir Aquino, do Rio Grande do Norte, que é especialista em agricultura familiar e já conhecido nosso. Outro foi o professor Sérgio Schneider, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, referência na área.

Os critérios de escolha foram justamente especialistas que já trabalhavam e conheciam profundamente a agricultura familiar. Os temas também foram definidos pela relevância para o programa. Entre eles, o acesso à internet, que hoje é fundamental para todos e, no caso dos agricultores familiares, essencial. Por isso, existe uma linha específica do Agroamigo Net, que financia equipamentos de conexão.

Outro tema foi a sustentabilidade, abordado no capítulo cinco. Também destacamos a questão de gênero, já que uma parcela significativa dos clientes do programa são mulheres agricultoras ou esposas de agricultores, muitas vezes responsáveis por atividades como artesanato para complementar a renda da família.

Outro ponto importante foi o papel do agente de crédito. Essa figura é central para o sucesso do programa. Ele atua dentro das comunidades, e não apenas nas capitais, e muitos deles são jovens que nasceram nessas regiões e têm formação técnica em agricultura. Além de orientar sobre técnicas de produção, também oferecem apoio financeiro e acompanham de perto os agricultores. Por fim, o livro traz um capítulo sobre a evolução do programa nesses 20 anos, reunindo temas que consideramos fundamentais para registrar essa trajetória.

Odete: O livro traz a trajetória do programa desde as articulações iniciais, os motivos que levaram o BNB a criá-lo e como ele foi se expandindo. Os artigos mostram diferentes vertentes desse processo: os impactos financeiros para o banco, os impactos econômicos e sociais para os agricultores e, em alguns casos, resultados de pesquisas de campo que evidenciam melhorias concretas nas condições de vida. Em termos de infraestrutura, por exemplo, observamos mudanças simples, mas significativas — como famílias que não tinham geladeira e passaram a ter, ou aquelas que possuíam uma e passaram a ter duas.

Há também um artigo dedicado à questão de gênero, que foi um dos que escrevi. Nele, tratei do que chamei de transformações silenciosas. À primeira vista, ao analisar apenas a renda declarada pelas mulheres, pode parecer que não houve mudanças significativas. Mas, quando aprofundamos a análise em dimensões econômicas, sociais, de empoderamento e de autonomia, percebemos o quanto isso fez diferença na vida delas. São modificações graduais, que acontecem à medida que elas acessam novos empréstimos.

De modo geral, com esses financiamentos, as famílias conquistam acesso a meios de transporte, de comunicação (como telefone celular e internet) e a novas estratégias, como energia solar, máquinas adaptadas à agricultura familiar, além do Agroamigo Net, que promove a digitalização e o acesso à internet. 

Investindo Por Aí: Vocês dois (Airton e Odete) assinam a introdução do livro. Nesse sentido, qual mensagem principal quiseram deixar logo de início para o leitor sobre o papel do Agroamigo ao longo dessas duas décadas?

Airton: O Brasil tem um número expressivo de agricultores familiares. Eles são fundamentais porque produzem alimentos e contribuem para a conservação do meio ambiente. No Nordeste, esse público é ainda mais significativo. Por isso, é essencial que haja financiamento, crédito e apoio a esses agricultores.

Não podemos deixá-los recorrer a empréstimos com juros elevados. Nesse sentido, o programa é importante porque garante esse suporte a um segmento expressivo, que contribui para o desenvolvimento da região e do país, fornecendo alimentos, matérias-primas e outros bens essenciais.

Odete: O artigo inicial faz uma abordagem da trajetória do programa e introduz o leitor aos demais capítulos. Ele apresenta como o Agroamigo conseguiu se expandir e alcançar efetivamente os agricultores, mostrando as ferramentas, ações e estratégias utilizadas.

E à medida que se expandiu para novos locais, o programa passou a envolver mais atores. Inicialmente, atendia apenas o público do Pronaf B, mas hoje contempla outros grupos do Pronaf. A única exceção são os assentados — os grupos A e A/C —, que possuem uma linha específica destinada a eles.

Investindo Por Aí: Ao olhar para os 20 anos de trajetória, quais são, na sua avaliação, os maiores legados que o Agroamigo deixa para a agricultura familiar nordestina?

Airton: Um dos legados mais importantes é a produção de alimentos. O Brasil é reconhecido como um país que oferece grande diversidade: frutas, hortaliças, carnes, bebidas, entre outros. Estrangeiros que visitam o país costumam destacar a qualidade e a variedade da nossa produção. Além disso, a população local tem acesso a esses alimentos por preços razoáveis, o que também é um ganho relevante.

Outro legado é a conservação ambiental. De modo geral, os agricultores familiares se preocupam em preservar o meio ambiente e frequentemente adotam práticas mais sustentáveis, com menor uso de agrotóxicos, até porque a produção é feita em pequena escala.

Há ainda o impacto econômico: esses agricultores geram emprego e movimentam as economias locais, já que consomem e demandam bens que podem ser produzidos regionalmente. Portanto, o legado do programa é apoiar um público que muitas vezes não desperta interesse do sistema financeiro tradicional, mas que, com o apoio do BNB como banco de desenvolvimento, contribui de forma significativa para o crescimento da economia regional e local.

Investindo Por Aí: No capítulo oito, é muito interessante a ideia do Agroamigo como um divisor de águas para muitas famílias. A pesquisa mostra que a média de participação dos beneficiários é superior a oito anos, o que revela uma fidelidade ao programa. A que vocês atribuem esse vínculo tão duradouro?

Airton: O banco estruturou uma área específica, na direção geral, para planejar e operacionalizar o Agroamigo. Além disso, contamos com agentes de crédito que atuam diretamente nas comunidades rurais. Eles não apenas realizam os empréstimos, mas também oferecem apoio aos agricultores, funcionando como uma espécie de assessoria financeira e técnica. Isso é fundamental para que os beneficiários permaneçam no programa.

Outro ponto decisivo são as condições de financiamento: taxas de juros acessíveis e prazos adequados de pagamento. Esses fatores fazem com que os agricultores renovem seus empréstimos e continuem trabalhando conosco ao longo dos anos.

Odete: Gostaria apenas de fazer uma ressalva em relação à pesquisa. A metodologia utilizada não permite uma generalização completa, já que, apesar de ter abrangido toda a área de atuação, o número de entrevistas foi limitado. Ainda assim, esse artigo confirma os resultados observados em outros estudos, que mostram os impactos positivos do programa.

O capítulo oito fecha o que já vinha sendo analisado nos capítulos anteriores: ele mostra de forma clara como o programa promove transformações nas vidas dos agricultores. Buscamos verificar o perfil deles antes da participação no Agroamigo, como era a estrutura econômica e das propriedades, como eles chegaram ao programa e de que forma utilizaram os recursos. A partir disso, é possível ver os resultados concretos.

No final, constatamos que a maioria dos beneficiários está satisfeita com o programa. Identificamos também o papel das “portas de entrada” no acesso ao Agroamigo: redes sociais e comunitárias funcionaram como facilitadoras. As redes familiares e de vizinhança foram se consolidando, em grande parte graças aos agentes de crédito locais, que falavam a mesma linguagem dos agricultores e levavam informações sobre o programa. No meio rural, a disseminação de informações acontece, muitas vezes, de boca em boca. Além disso, entidades, associações e sindicatos também se envolveram, fortalecendo ainda mais essas redes.

Outro fator relevante é a vulnerabilidade do público rural. Muitos agricultores têm pouca terra e acesso limitado a crédito. O Agroamigo, por suas condições operacionais, facilita o acesso a financiamentos justamente para quem se encontra nessas condições, promovendo inclusão e satisfação.

Além disso, o programa não atende apenas às necessidades básicas; ele também permite que os beneficiários busquem crescimento. Como observamos na pesquisa, muitas pessoas mudaram de atividade ou buscaram novas oportunidades para aumentar a renda, e o Agroamigo possibilita esses avanços, contribuindo para seu desenvolvimento econômico e social.

Investindo Por Aí: A Odete já trouxe diversos pontos que corroboram a próxima pergunta: quais casos mais chamaram a atenção de vocês nesse processo de inovação dentro da agricultura familiar? Airton, gostaria de complementar?

Airton: A Odete fez excelentes colocações. Queria apenas acrescentar que o programa é voltado especificamente para o agricultor familiar, e esse é um dos motivos pelos quais eles permanecem nele. Outras linhas de crédito não são direcionadas a esse público, que possui necessidades particulares. O Pronaf foi desenhado justamente para atender essas especificidades, oferecendo condições diferenciadas — como taxas de juros adequadas, prazos compatíveis e financiamentos ajustados às demandas dos agricultores. Sem dúvida, isso contribui para que continuem no programa.

Investindo Por Aí: Apesar dos resultados expressivos, ainda há desafios como vocês apontam no próprio capítulo, principalmente em relação à falta de mão de obra, à infraestrutura precária e à instabilidade climática, considerando a região do semiárido. Como o Agroamigo pode evoluir — ou vem evoluindo — para enfrentar esses gargalos?

Odete: No pósfácio, fizemos questão de que o próprio superintendente do Agroamigo escrevesse, justamente para projetar os próximos passos do programa. A ideia foi a seguinte: a partir dos gargalos que identificamos e também dos inúmeros pontos positivos — que, na minha avaliação, são bem mais numerosos —, perguntamos ao banco o que ele pretende para os próximos 20 anos.

Uma das questões destacadas foi a sustentabilidade, que precisa ser aprofundada. Outro ponto é a inclusão digital, hoje fundamental tanto para o acesso a mercados quanto para o fortalecimento da agricultura familiar. O programa tem avançado nesse sentido, com estratégias específicas, como o Agroamigo Água, o Agroamigo Sol e o Agroamigo Net, todas voltadas para ampliar o acesso e garantir práticas mais sustentáveis.

Airton: Um dos gargalos mais sérios da agricultura familiar é a assistência técnica. Muitos agricultores não têm condições de pagar por esse serviço, e em diversos estados existe uma carência significativa. O papel do Estado, por meio do Ministério da Agricultura e de programas nacionais, é fundamental nesse ponto. Melhorar a assistência técnica fortalece o programa e os agricultores.

Outro aspecto importante é a mecanização. Hoje, a China já desenvolve máquinas pequenas voltadas para a agricultura familiar. O banco está começando a financiar esse tipo de equipamento, como pequenos tratores, que são mais acessíveis e adequados às propriedades de menor porte. Os grandes tratores, caros e pesados, não são viáveis para esse público. Essas máquinas permitem aumentar a produção e a produtividade, além de liberar mão de obra que hoje ainda é dedicada a atividades manuais.

Odete: Essa questão das máquinas é fundamental. As universidades chinesas vêm desenvolvendo, há bastante tempo, tecnologias apropriadas para pequenas propriedades. Desde o ano passado, inclusive, houve articulações entre o governo do Rio Grande do Norte e representantes da China para adaptar essas tecnologias às condições do semiárido brasileiro — já que nem sempre as máquinas de lá são adequadas ao nosso solo e relevo. O movimento atual é de cooperação: o BNB já atua no financiamento, enquanto se busca adaptar e desenvolver soluções mais adequadas para cá.

Esse ponto é estratégico porque a agricultura familiar exige muito trabalho e, ao mesmo tempo, sofre com a escassez de mão de obra. Quanto mais tecnologias surgirem para poupar esforço humano e facilitar o trabalho, mais rapidamente os agricultores vão aderir. As máquinas, portanto, têm um papel decisivo nessa transformação.

Por fim, há ainda o gargalo do tamanho das propriedades e da posse da terra, especialmente no semiárido, onde predominam áreas pequenas. Esse não é um problema que o BNB possa resolver diretamente, já que sua atuação é no campo do crédito. O que o banco faz é criar alternativas: por meio do Agroamigo, o agente de crédito consegue chegar a produtores que antes estavam à margem, inclusive aqueles que não têm terra própria, mas que arrendam pequenas áreas e passam a ter acesso a financiamento. Assim, mesmo diante dessa limitação estrutural, o programa promove inclusão produtiva.

Investindo Por Aí: Odete, no tocante ao capítulo seis, que foi escrito apenas por você, duas perguntas: o que explica a forte adesão feminina ao programa — já que mais da metade dos contratos e valores do Agroamigo Crescer foi destinada a mulheres? E quais mudanças na vida delas mais lhe marcam em termos de autonomia econômica e de papel social na comunidade?

Odete: O programa contribui muito para a inclusão das mulheres, mesmo sem ter um mecanismo específico voltado a elas. Isso acontece pela forma como ele chega às comunidades e como se articula localmente, por meio de reuniões e convites que também estimulam a participação feminina. Hoje, muitas famílias são chefiadas por mulheres, e antes elas sequer tinham conhecimento sobre esse tipo de crédito. A partir do momento em que descobriram que também podiam acessar os financiamentos, passaram a reivindicar esse espaço.

Um ponto importante é que não se trata apenas de créditos registrados em nome das mulheres, mas administrados pelos homens — como acontecia em outros contextos. Agora, elas próprias gerenciam os recursos, o que garante autonomia: “eu sou dona do meu trabalho, do meu dinheiro e uso da melhor forma”.

Embora os números de renda não mostrem grandes mudanças, os dados e relatos revelam uma transformação lenta, mas efetiva na vida das mulheres beneficiadas pelo Agroamigo | Foto: BNB.

Além disso, as preocupações das mulheres muitas vezes são diferentes das dos homens: segurança alimentar, saúde dos filhos, educação, condições de moradia e até formas de reduzir o trabalho doméstico. Isso se reflete em mudanças concretas no bem-estar: casas que não tinham fossa passaram a ter, residências que não tinham banheiro ou chuveiro passaram a contar com esses itens, famílias adquiriram eletrodomésticos básicos como liquidificador e geladeira, e outras até melhoraram o que já tinham, como trocar uma geladeira simples por uma de duas portas. São transformações silenciosas, mas muito significativas.

Outro exemplo marcante é o acesso ao transporte. Ter uma moto e poder se deslocar até o centro da cidade não tem preço para essas mulheres. Isso amplia a autonomia, inclusive para realizar compras que a família não consegue produzir.

Embora uma análise fria dos números de renda não revele grandes mudanças, ao aprofundar nos dados e nos relatos, fica claro que a transformação está acontecendo. Ela é lenta, mas efetiva: filhos que antes saíam da escola para trabalhar agora permanecem estudando porque a mãe tem uma fonte de renda para sustentar esse processo.

Por fim, é importante destacar o efeito comunitário. Como mencionei em outro artigo, o formato de articulação do programa, com a presença dos agentes de crédito, facilita o acesso e amplia a participação. As mulheres, que já são muito articuladas, acabam transformando também o perfil das comunidades: estão mais engajadas, com maior autonomia econômica e social, o que fortalece seu papel coletivo.

Investindo Por Aí: Airton, o senhor escreve o capítulo sete em conjunto com outros pesquisadores e analisa os impactos socioeconômicos do Agroamigo.  Se tivesse que destacar uma única evidência de como o programa tem transformado a vida das famílias e impactado as economias locais, qual seria?

Airton: Na verdade, há um ou dois anos realizamos uma pesquisa de campo com agricultores familiares. A coordenadora do estudo foi a colega Carolina, que também é autora de alguns capítulos. Nós entrevistamos esses agricultores e observamos que o programa não tem apenas um único impacto, mas diversos efeitos sobre essas famílias.

O foco das entrevistas foi justamente verificar esses impactos. Identificamos que os agricultores têm investido nas propriedades, adquirido insumos, sementes, animais e, com isso, aumentaram a produção, a renda e o bem-estar econômico. Muitos também compraram veículos, o que facilita a comercialização da produção, além de bens de consumo duráveis para a família, como fogão, geladeira, computador, acesso à internet e telefone celular.

Esse aumento de renda se reflete na melhoria das condições econômicas e sociais. Um aspecto importante que constatamos foi a construção de banheiros nas residências, algo fundamental para a saúde e o bem-estar dessas famílias. A partir dessa constatação, o Agroamigo passou a possibilitar que parte do financiamento do Pronaf fosse destinada à construção de sanitários, reconhecendo a importância dessa melhoria para a qualidade de vida dos agricultores.

Investindo Por Aí: O Agroamigo tem mostrado potencial de estimular a permanência dos jovens no campo. Vocês acreditam que essa possa ser uma das chaves para garantir a sucessão rural e a sustentabilidade da agricultura familiar?

Odete: Com certeza. E digo mais: à medida que o programa avançar na inclusão digital, esse efeito será ainda maior, já que o acesso a tecnologias digitais é um grande atrativo para os jovens. Além disso, dentro do Agroamigo existe uma linha específica, o Pronaf Jovem, que garante crédito para essa faixa etária.

No livro, não detalhamos essa linha em separado, mas é importante destacar que muitos dos beneficiários, inclusive parte das mulheres que aderiram, são jovens. Isso contribui para sua permanência, porque ninguém migra por vontade própria: as pessoas deixam o campo por necessidade. Quando existem condições de estudo, financiamento para lavouras ou criação de animais, a tendência é permanecer.

Airton: Ou seja, é possível afirmar que os financiamentos do Agroamigo contribuem para a permanência dos jovens no campo, favorecendo a sucessão rural. No entanto, para que esse processo seja efetivo e sustentável, é necessário o apoio de políticas públicas transversais, com investimentos em infraestrutura econômica e social, como energia elétrica, saneamento básico, água potável, coleta de resíduos, moradia digna, educação de qualidade, serviços de saúde e também espaços de lazer.

Investindo Por Aí: Se vocês pudessem apontar uma prioridade para os próximos 20 anos do Agroamigo, qual seria?

Odete: Como pesquisadora, vejo que o programa já trabalha dentro de suas possibilidades, mas há limitações estruturais que extrapolam o papel do BNB, como a questão da terra e do acesso a tecnologias adequadas para poupar mão de obra. Esses dois pontos são grandes gargalos.

Pensando no futuro, considero essencial ampliar o acesso a tecnologias de mecanização adaptadas ao semiárido, aprofundar a digitalização, apoiar práticas sustentáveis e manter o financiamento aos jovens — sobretudo aqueles que estudam e retornam ao campo. Isso criaria um cenário muito mais favorável para a agricultura familiar.

Concordo também com a visão do próprio superintendente do programa: é preciso melhorar a qualidade e aprofundar estratégias já existentes. Um exemplo são as iniciativas como o Agroamigo Sol (energia solar) e o Agroamigo Água (tecnologias de captação e armazenamento de água), fundamentais para a produção no semiárido. Afinal, sem energia e sem água, não há como sustentar a agricultura.

O diferencial do Agroamigo está na capacidade de se adaptar e criar soluções diante de novos desafios | Foto: BNB

Um diferencial do Agroamigo é justamente seu caráter dinâmico: conforme novos gargalos são identificados, o programa cria estratégias específicas para enfrentá-los. Foi assim que surgiram várias das iniciativas atuais, e a tendência é que continue se adaptando ao longo dos próximos 20 anos.

Airton: Nesse sentido, é possível dizer que a maior prioridade é complementar os financiamentos com capacitação e assistência técnica para os agricultores familiares.

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