
O Maranhão deve liderar o crescimento econômico do Nordeste em 2025, com uma alta de 3,5% no Produto Interno Bruto (PIB), segundo projeção da Resenha Regional de Assessoramento Econômico do Banco do Brasil. O desempenho supera tanto a média da região quanto a do país, estimada em 2,2%, e consolida o estado como um dos protagonistas do novo mapa produtivo nordestino. A combinação entre recordes na agropecuária, reativação industrial e fortalecimento dos serviços está redesenhando o perfil econômico maranhense, tradicionalmente mais dependente do setor primário.
O relatório aponta que o avanço da produção de soja, milho e sorgo, com forte presença nas exportações via Porto do Itaqui, somado à expansão dos setores de indústria e serviços, sustenta o otimismo em relação à economia estadual. O estado vem colhendo os frutos de uma agenda de investimentos públicos e privados voltada à diversificação produtiva e à modernização da infraestrutura logística, fatores que têm reduzido a vulnerabilidade da economia a oscilações do mercado internacional de commodities.
Para o economista José Cláudio Rocha, especialista em Economia do Bem-Estar Social, o desempenho do Maranhão reflete não apenas o bom momento da agricultura, mas uma transformação mais ampla em curso no Nordeste. “As projeções para 2025 são favoráveis ao Maranhão, com resultados acima da média nacional e da própria região, fato que deve ser amplamente comemorado, pois o nordestino é ‘antes de tudo um forte’. Só a cultura criativa e resiliente do povo explica esse avanço frente a tantos obstáculos históricos”, avalia o economista.
Agronegócio e logística: os pilares do impulso maranhense
A força do agronegócio segue como principal vetor do crescimento. A produção de grãos alcançou patamares recordes em 2024, e o Maranhão consolidou-se como um dos maiores exportadores de soja do país, com escoamento facilitado pela estrutura do Porto do Itaqui, em São Luís, considerado um dos mais eficientes do Brasil. Essa infraestrutura tem garantido competitividade ao estado frente a vizinhos como Piauí e Tocantins, reduzindo custos logísticos e ampliando o alcance internacional da produção local.
“O Maranhão se destaca pela alta produtividade agrícola e pela eficiência logística do Porto do Itaqui, além de políticas de incentivo que atraem investimento e crédito produtivo. Esses fatores têm dado ao Estado uma vantagem competitiva na região”, explica Rocha.
Entretanto, o economista alerta para a importância de planejar o futuro além dos incentivos. “Os incentivos não podem ser eternos. É preciso pensar em cláusulas de transição para quando os subsídios terminarem, a fim de evitar situações como a saída da Ford da Bahia, quando o polo industrial de Camaçari perdeu força com o fim dos benefícios fiscais”, ressalta.
Indústria em recuperação e o papel das políticas públicas
Após anos de retração, o setor industrial maranhense dá sinais de retomada, impulsionado pela reindustrialização nacional e pelo surgimento de novas cadeias produtivas ligadas à transformação de produtos agrícolas. A entrada de investimentos em infraestrutura, energia renovável e construção civil também reforça o ritmo de crescimento.
De acordo com o governo estadual, políticas de incentivo fiscal e programas de apoio ao empreendedorismo e à inovação têm sido decisivos para atrair novos empreendimentos. O Programa Mais Empregos, o fortalecimento da Agência de Fomento do Maranhão (Maranhão Parcerias) e as parcerias público-privadas (PPPs) em energia e transporte vêm ajudando a sustentar o ciclo de expansão.
Essas ações dialogam com o movimento nacional de neoindustrialização, que busca diversificar a base produtiva brasileira e reduzir a dependência do agronegócio. “O processo de reindustrialização em todo o país está acontecendo também no Maranhão, com o setor industrial voltando a crescer, principalmente nos segmentos ligados à transformação de produtos agrícolas e à infraestrutura. O setor de serviços também está crescendo, mostrando que a economia está ganhando em diversidade”, analisa Rocha.
Educação, inovação e complexidade econômica
Para sustentar o avanço de longo prazo, o desafio central está na formação de capital humano e na inovação tecnológica. Rocha destaca que o Maranhão vem melhorando seu Índice de Complexidade Econômica (ICE), indicador que mede a capacidade de produzir bens com maior valor agregado e conteúdo tecnológico.
“O Maranhão tem aumentado seu ICE em relação às décadas passadas, o que é um sinal positivo de que está se tornando uma economia mais desenvolvida, robusta e capaz de crescer de forma sustentável”, afirma o economista.
O fortalecimento das universidades e centros de pesquisa, o estímulo à inovação e a criação de ecossistemas de empreendedorismo são vistos como fatores determinantes para consolidar o novo ciclo de crescimento. “É preciso investir em educação de qualidade, fomentar a cultura da inovação e fortalecer o empreendedorismo de vanguarda. A produtividade está cada vez mais associada ao conhecimento e à tecnologia, e não apenas ao número de horas trabalhadas”, complementa.
Apesar dos números promissores, o crescimento econômico ainda precisa se traduzir em melhoria social. Rocha lembra que o aumento do PIB, por si só, não garante bem-estar à população. “O crescimento econômico é importante, mas é preciso criar mecanismos de redistribuição da riqueza para reduzir as desigualdades. O desenvolvimento sustentável passa essencialmente pelas pessoas e pela geração de conhecimento”, enfatiza.
Nesse sentido, o economista defende a ampliação de políticas públicas estruturantes, com foco em educação, crédito para pequenas e médias empresas, economia criativa e finanças solidárias. “São medidas essenciais para consolidar um crescimento econômico sustentável e inclusivo, sem esquecer o fortalecimento dos bancos comunitários e das economias de impacto socioambiental”, diz.
O protagonismo regional e o novo equilíbrio produtivo
O bom desempenho do Maranhão sinaliza uma reconfiguração do equilíbrio produtivo do Nordeste, cada vez menos dependente de poucos polos industriais e mais distribuído entre os estados. A região vem diversificando sua economia com novas indústrias, serviços e inovação, movimento que tende a reduzir as desigualdades internas históricas. “O Maranhão faz parte de um processo de dinamização da economia nordestina, que passa a ser mais diversificada, com novas e maiores indústrias, serviços, conhecimento e pesquisa”, observa Rocha.
Se mantido o ritmo atual, o estado deve se consolidar em 2025 como um dos principais motores do crescimento regional, contribuindo para fortalecer o papel do Nordeste na economia nacional. Mas o desafio, segundo o economista, é garantir que o avanço econômico venha acompanhado de inclusão social e sustentabilidade ambiental.
“Para o Maranhão crescer de forma sustentável e justa, não basta apenas aumentar o PIB. É preciso pensar em um desenvolvimento que combata a desigualdade, valorize a diversidade cultural e respeite a pluralidade dos povos. O crescimento deve ser inovador, inclusivo e baseado na ética do cuidado com o outro”, conclui.