
Quem margeia grandes cidades nordestinas, como Recife, Fortaleza e Maceió, já não se surpreende com gruas e o som cortante de furadeiras ou os caminhões com material de construção. Agora, o mercado imobiliário já aquecido em regiões onde a renda média mensal já é acima da média, ganha mais fôlego com a nova linha do Minha Casa, Minha Vida, lançada pelo Governo Federal no início de abril com a promessa de agradar a classe média.
A implementação da Faixa 4 possibilitará que famílias com renda de até R$ 12 mil financiem um imóvel de até R$ 500 mil com taxas de juros de 10% ao ano, mais acessíveis do que as praticadas pelo mercado, acima de 11,5% ao ano.
Outra facilidade é que a parcela do financiamento cai 27% em relação ao mesmo financiamento pela taxa média atual do Sistema Financeiro Habitacional (SFH), indo de R$4,2 mil para R$3,3 mil.
As mudanças são um avanço significativo na política de habitação do país. Com as atualizações aprovadas e a criação da Faixa 4, o Minha Casa, Minha Vida passa a atender um público ainda maior, melhorando as condições para a classe média realizar o sonho da casa própria.
As medidas são fundamentais para reduzir o déficit habitacional, incentivar novos empreendimentos, e incluir no financiamento habitacional centenas de milhares de famílias brasileiras que não conseguem financiar hoje pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) por conta dos juros elevados.
O déficit habitacional no Nordeste hoje é de 1,76 milhão, representando 29,3% dos 6 milhões estimados. Para a economista e professora da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Luciana Caetano, “uma redução mesmo que seja de 1 ponto percentual na taxa de juros pode fazer uma grande diferença no custo do financiamento de longo prazo”.
A economista lembra, ainda, que grande parte das famílias brasileiras só conseguem comprar uma casa via crédito imobiliário, e que a injeção desse crédito transborda para outros setores, como o de decoração e móveis, gerando empregos que irão perdurar para além do prazo das obras dos imóveis.
“O impacto tende a ser tanto mais elevado quanto maior for a capacidade de endividamento dos interessados”, afirma Luciana. O Nordeste apresenta o menor rendimento médio do trabalho para qualquer ano da série histórica 2012-2024. Mais de 50% de sua população conta com rendimento mensal de até 2 salários mínimos.
A população com rendimento médio entre 5 e 8 salários mínimos, provavelmente, com maior capacidade de endividamento, tem, portanto, uma representatividade relativamente baixa.
A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) afirma que a perspectiva de crescimento do mercado imobiliário no Nordeste em 2025 é positiva.
“Sobretudo diante de um cenário em que já existem condições fundamentais bem estabelecidas: a demanda habitacional forte e consistente nas capitais e cidades médias da região; incorporadoras preparadas, com boa estrutura operacional, além de terrenos estratégicos disponíveis e capitalizados”, disse o presidente da associação, Luiz França.

Em Pernambuco, segundo a Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco (Ademi-PE), são lançadas no estado, em média, 4,5 mil unidades por ano, das quais 15% estão na faixa entre R$ 350 mil e R$ 500 mil. A entrada desses imóveis no programa tende a destravar uma demanda que estava represada por falta de acesso a crédito em condições mais favoráveis.
A implementação da Faixa 4 do programa Minha Casa, Minha Vida irá habilitar 1,4 milhão de pessoas no programa em todo o Brasil. A estimativa do governo, ao lançar o programa, é que Cerca de 247 mil pessoas poderão se enquadrar na nova modalidade e financiar um imóvel de R$500 mil.
Alto padrão em alta
Um setor que se mostrou dinâmico e promissor no Nordeste em 2024 foi o de alto padrão. De acordo com dados do GeoBrain elaborados pela ABRAINC, São Luís foi a capital com alta mais expressiva, de 707% em relação ao ano anterior. Na sequência, Maceió apresentou elevação de 254% no número de unidades lançadas, seguida por Salvador (+39%) e Fortaleza (+ 26%), cidades com potencial turístico e urbanístico.
No que se refere às vendas de unidades de alto padrão em 2024, a maior alta foi em João Pessoa, com elevação de 206% no comparativo com 2023. São Luís apresentou crescimento de 94%, seguida por Maceió (+ 85%), Natal (+ 56%) e Aracaju (+ 44%).