O Brasil tem um grande desafio em sair na frente de outros países na disputa mundial pela hegemonia da produção de Hidrogênio Verde e seus derivados. O país assumiu o compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 48% em 2025, e em 53% em 2030, além de se comprometer com a neutralidade climática em 2050. O chamado ‘Combustível do Futuro’, acontece quando a forma de obtenção do hidrogênio ocorre sem a emissão de carbono, ou seja, há a liberação de vapor de água no momento que é consumido. Essa fonte de energia sustentável pode ser usada de diferentes modos, seja nos transportes, nas indústrias e até nas residências, a partir da geração de eletricidade.
Em solo brasileiro, o Nordeste é protagonista na produção do H2V por conta de seus aspectos naturais. Para produzir o combustível com baixa emissão de carbono, é preciso realizar a eletrólise da água, processo de reação química provocada pela passagem de uma corrente elétrica, que exige muita energia. Por isso, suas fontes precisam ser sustentáveis e é aí que entra o protagonismo dos estados nordestinos, que dominam a geração de energia eólica e solar fotovoltaica do país.
Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a capacidade já instalada na região em 2023 foi de 28,3 gigawatts (GW), que representa 82,6% da nacional somando as duas fontes de energia. Além disso, a logística portuária do Nordeste também facilita o processo de exportação do H2V, outro ponto favorável para que a região seja protagonista na produção do combustível do futuro.
Na região Nordeste, os investimentos previstos no setor de Hidrogênio Verde podem chegar a impressionantes US$ 90 bilhões. Esses números elevados refletem a complexidade e os altos custos envolvidos na produção de H2V, que utiliza fontes renováveis, como energia eólica e solar. Esse processo exige não só a infraestrutura, mas também para capacidade de armazenamento e transporte.
Ceará é líder em projetos de H2V
Um estudo feito pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) levantou os principais projetos de produção de hidrogênio de baixo carbono em construção no Brasil. Ao todo, o levantamento aponta 13 estados brasileiros com pelo menos um projeto na temática do hidrogênio. Três estão na Região Nordeste, com o Ceará liderando com 27 projetos.
Segmentos industriais como setores elétricos, setor químico e gases industriais, siderurgia, petróleo e gás, mineração, e empresas de distribuição de gás natural, cimento, eficiência energética, tecnologias de geração de hidrogênio e fabricação de aerogeradores são os que estão investindo no tema de hidrogênio no Brasil
O Porto de Pecém, no Ceará, destaca-se como o destino que pretende receber os maiores aportes financeiros, somando US$ 21,4 bilhões, o que está em linha com o planejamento do estado em atrair investimentos para a consolidação do Porto de Pecém como Hub de hidrogênio verde. Outros ponto regionais também ganham destaque: porto de Parnaíba (CE) com US$ 4 milhões e Porto de Suape (PE) com US$ 3,8 milhões.
O projeto com a maior capacidade de eletrólise do Brasil estará localizado no Porto de Parnaíba, no Piauí, com 10 GW de potência para realizar a eletrólise. No entanto, o Ceará é quem possui a maior capacidade instalada, com cerca de 15,9 GW, enquanto o Piauí detém uma capacidade de 15,6 GW.
Os setores de energia e logística brasileiros vêm se preparando para aproveitar as oportunidades de negócios envolvendo a oferta do hidrogênio ao mercado nacional e internacional. Por isso, alguns governos locais e empresas estão criando os chamados “Hubs de H2”.
No Brasil, dois hubs do Nordeste lideram a corrida: Porto de Pecém e Porto do Suape.
Complexo do Pecém
O Complexo Industrial Portuário do Pecém (CIPP) é um acordo comercial entre duas ou mais empresas que se unem para realizar um projeto específico, chamado de Joint Venture, formado pelo governo do Estado do Ceará e pelo Porto de Rotterdam, na Holanda. Desde o início, foi planejado para ser um complexo industrial e portuário, e não apenas um porto.
Foram assinados 34 memorandos de entendimento que já evoluíram para 4 pré-contratos com empresas nacionais e internacionais, para a implantação de projetos no Hub de Hidrogênio de fonte renovável, exemplos:
- Energias de Portugal (EDP), que tem a finalidade de utilizar o H2 em processos pertinentes à indústria do aço e cimento na região, além de avaliar tecnologias de armazenamento e transporte;
- Fortescue Future Industries, projeto que espera produzir cerca de 837 toneladas de hidrogênio por dia, utilizando 2,1 GW de energia renovável;
- AES Brasil, projeto para a instalação da planta de produção e comercialização de hidrogênio de fonte renovável e derivados na ZPE Ceará
Porto de Suape
O Complexo Industrial Portuário de Suape (CIPS) conta com um conglomerado de 150 empresas de capital nacional e internacional em operação ou implantação, que atende várias indústrias com potencial para envolvimento em projetos de H2. O CIPS abriga o TechHub Hidrogênio Verde, dedicado à pesquisa, desenvolvimento e inovação sobre o combustível.
O projeto é focado no polígono do Porto Suape e aborda a produção, transporte, armazenamento e gestão de hidrogênio verde, com investimentos privados de aproximadamente R$ 61 milhões. O TechHub Hidrogênio Verde se tornará um laboratório aberto dedicado a diversas atividades, como tecnologias, melhorias na eletrólise, redução de custos, novos modelos de negócios, entre outros. Além disso, há também uma plataforma digital de comercialização de H2 verde que viabiliza o rastreamento e facilita a certificação da origem da energia utilizada na produção de hidrogênio.
Rio Grande do Norte busca protagonismo
O Rio Grande do Norte já é o maior produtor de energia eólica do Brasil, e está à frente na corrida pela liderança nacional na produção de H2V. Com seis projetos em andamento, os projetos têm potencial de gerar um total de US$ 20 bilhões em investimentos na região se forem concretizados, além de gerarem cerca de 5 GW de energia, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do RN (Sedec).
Um dos principais projetos em andamento é o Completo Industrial Alto dos Ventos, em Macau, que tem um investimento estimado em US$ 2,5 bilhões. Ele é feito pela empresa alemã Nordex e sua acionista espanhola Acciona em uma área de 10 hectares e terá uma capacidade de produção de 1 GW de hidrogênio verde.