
O Nordeste brasileiro pode enfrentar uma transformação drástica no clima até o final do século. Segundo estudo do Centro Estratégico de Excelência em Políticas de Águas e Secas (Cepas), da Universidade Federal do Ceará (UFC), mais da metade do território da região poderá ter clima árido, semelhante ao de desertos, até 2100. Esse é o panorama caso as emissões globais de CO₂ se mantenham em níveis elevados.
O boletim, produzido para a COP30, projeta dois cenários. Um mais pessimista, com altas emissões, e outro mais otimista, com redução parcial dos gases de efeito estufa. Em ambos, a aridez avança de forma significativa. “A aridez avança mesmo no limite mais otimista das projeções”, alerta o relatório.
A análise se baseia no índice de aridez de Thornthwaite, que classifica os climas em árido, semiárido, subúmido e úmido, calculado a partir da relação entre déficit hídrico e evapotranspiração potencial anual. As projeções consideram 19 modelos climáticos globais da rede internacional CMIP6.
No cenário mais crítico, o avanço da desertificação será rápido. Atualmente, 3% do território nordestino é considerado árido; até 2070, esse número pode chegar a 24,6%, e, em 2100, a 56,7%. Somadas as áreas semiáridas, a região se tornaria 99% seca. As zonas subúmidas e úmidas “praticamente desaparecem até 2070”, segundo o Cepas.
Mesmo com redução intermediária das emissões, o panorama continua preocupante: em 2100, 26% do Nordeste será árido e 59,7% semiárido.
O boletim destaca que as mudanças terão forte impacto ambiental e social, como redução da recarga de aquíferos, intermitência dos rios, maior pressão sobre reservatórios, perda de produtividade agrícola e vulnerabilidade crescente das populações rurais.
Além disso, a contração das áreas úmidas ameaça a biodiversidade, já que essas zonas funcionam como refúgios naturais. “Os sistemas de recursos hídricos devem se preparar para maior pressão de escassez”, alerta o documento.