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23 de setembro de 2025 11:14

Nordeste se une e consolida pauta para a COP30

Nordeste se une e consolida pauta para a COP30

Lançamento de plano de transformação ecológica e projetos de R$ 127 bi posicionam a região como protagonista na agenda climática global
Foto: Divulgação/Banco do Nordeste

Em um movimento estratégico que desafia o histórico de falta de investimento, o Consórcio Nordeste se uniu em Fortaleza na última semana para apresentar um plano ambicioso de desenvolvimento sustentável. Durante a COP Nordeste, os governadores da região revelaram uma impressionante demanda de R$ 127 bilhões em projetos de neoindustrialização e transição energética. O valor, 13 vezes superior à expectativa inicial de uma chamada pública, serve como prova de que a região está repleta de iniciativas prontas para decolar, e que a falta de acesso a crédito público foi, por décadas, uma distorção histórica que travou o crescimento. Mais do que isso, o encontro posicionou o Nordeste como um ator de peso na agenda climática global, com uma pauta unificada e compromissos claros rumo à COP30, que ocorrerá em Belém.

A “Chamada Nordeste”, iniciativa do Consórcio com o apoio da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), foi o ponto central do encontro. Segundo o governador do Piauí e presidente do Consórcio, Rafael Fonteles, a demanda por R$ 127,8 bilhões em propostas de investimento, distribuídas entre 91 projetos de energias renováveis e dezenas em bioeconomia, hidrogênio verde, data centers verdes e setor automotivo, foi espetacular. “Nós constatamos que o Nordeste ficava com menos de dez por cento do bolo do crédito disponível no país, sendo que nós temos um PIB superior a 14% e uma população de 27% da população brasileira”, declarou Fonteles, enfatizando que o problema nunca foi a falta de projetos, mas sim a ausência de um “olhar mais específico” por parte de bancos e instituições de fomento.

A resposta massiva à chamada pública, que teve a parceria de instituições como o BNDES, Banco do Brasil e Banco do Nordeste, valida a visão de que a região é um terreno fértil para investimentos sustentáveis. O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, que participou virtualmente, confirmou o entusiasmo com os resultados, reafirmando o compromisso de oferecer as melhores linhas de crédito para a região. O sucesso da iniciativa não apenas projeta um futuro de desenvolvimento econômico, mas também fortalece a narrativa de uma reparação histórica, onde o acesso a crédito subsidiado pode finalmente corrigir as desigualdades regionais e impulsionar uma nova era de prosperidade no Nordeste.

O evento em Fortaleza não se limitou à pauta econômica. Ele serviu como um palco para os governadores apresentarem ao governo federal, e ao mundo, uma agenda de transformação ecológica que alinha desenvolvimento econômico, justiça social e preservação ambiental. O lançamento da Carta Compromisso pela Transformação Ecológica do Nordeste, que também lança a “Estratégia Brasil Nordeste”, reforça o papel da região como líder na transição energética justa, na bioeconomia e na neoindustrialização sustentável.

Sávia Gavazza, gerente de projetos da Secretaria-Executiva do Ministério da Fazenda e presidente do Conselho de Administração do Banco do Nordeste, destacou a importância da Carta Compromisso como um marco político e estratégico. “O Plano de Transformação Ecológica é uma agenda de médio e longo prazo que conecta desenvolvimento econômico a uma nova relação com o meio ambiente e à redução das desigualdades”, afirmou.

Além do compromisso com a nova indústria, os governadores assinaram um Acordo de Cooperação Técnica com a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD), reforçando políticas de mitigação das secas e de proteção do semiárido. A Caatinga, bioma exclusivo da região, foi um dos pontos centrais da discussão, destacando a necessidade de políticas de adaptação climática e valorização da biodiversidade local. Para o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, a união em torno da defesa da Caatinga mostra a maturidade da região. “Estamos unindo esforços, nos preparando para as discussões da COP30. Uma união em defesa da transição energética, do meio ambiente e da pauta da Caatinga”, declarou.

A união do Consórcio Nordeste e a apresentação de uma pauta coordenada demonstram que o tempo de ver a região como um mero “problema” a ser solucionado já ficou para trás. O Nordeste se posiciona agora como um fornecedor de soluções. O governador Elmano de Freitas, anfitrião do evento, reforçou essa visão ao celebrar a unidade dos estados para construir um “novo desenvolvimento” com justiça social. Fátima Bezerra, governadora do Rio Grande do Norte, complementou: “O Nordeste se apresenta, para o Brasil e para o mundo, não como um problema, mas como uma solução para esse mundo sustentável”.

A Bahia, por exemplo, é um caso de sucesso que ilustra o potencial da região. O governador Jerônimo Rodrigues ressaltou que 98% de sua matriz elétrica já é renovável, e que o estado lidera investimentos em energia eólica e solar, com mais de 1,2 mil empreendimentos. Iniciativas como o Plano Estadual do Hidrogênio Verde e o Protener, a primeira política estadual de transição energética do Brasil, mostram que os compromissos estão sendo traduzidos em ações concretas. O Ceará, por sua vez, detém a vanguarda na produção de Hidrogênio Verde na América Latina, o que demonstra o papel de liderança tecnológica do estado.

O Futuro em evidência

A realização da COP Nordeste, em preparação para o encontro global no Pará, em novembro, é um marco geopolítico para a região. Ela amplia a capacidade de influência dos estados nas negociações internacionais e fortalece a pauta federativa na agenda climática. A presença de representantes do Ministério da Fazenda e de bancos públicos sinaliza o alinhamento do governo federal com a visão de desenvolvimento sustentável do Nordeste.

A Estratégia Brasil Nordeste, que integra dez diretrizes, busca transformar a necessidade de descarbonização da economia em uma oportunidade de desenvolvimento socioeconômico, unindo inovação, equidade e inclusão produtiva. A pauta do semiárido, em especial, ganha relevância global, mostrando que a convivência com as terras secas é uma pauta fundamental para o futuro do planeta. Como afirmou o secretário nacional de Ciência e Tecnologia, Inácio Arruda, “nessas regiões vivem pessoas que não querem sair, que querem energias renováveis, agricultura sustentável, mineração sustentável e que sabem que essa riqueza pode ser acolhida pelos investimentos públicos e privados”. A mensagem final é clara: o Nordeste está pronto para liderar, e seu desenvolvimento é a chave para um futuro mais verde e justo para todo o país.

Este texto integra a série especial de reportagens do Investindo Por Aí sobre a COP30

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