
Os estados do Nordeste brasileiro chegaram à COP30, em Belém, com uma mensagem clara. A região quer liderar a transição ecológica do país e transformar seu potencial natural e humano em vetor de desenvolvimento sustentável. Governos estaduais, instituições financeiras e o Consórcio Nordeste articularam uma série de ações e acordos que colocam o Nordeste no centro da pauta climática internacional, com foco em justiça social, inovação e preservação ambiental.
A presença dos governadores na abertura oficial da conferência, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, simbolizou o peso político e técnico da região. O grupo firmou um memorando de entendimento com a Coalizão Under2, rede global de governos subnacionais comprometidos com o net-zero, reforçando o compromisso com a neutralidade de carbono. O acordo prevê capacitação técnica, cooperação estratégica e facilitação de acesso a financiamentos climáticos. “Queremos garantir que as populações que ajudam a proteger o meio ambiente tenham dignidade e renda”, destacou o presidente do Consórcio Nordeste e governador do Piauí, Rafael Fonteles.
Na COP30, o Consórcio Nordeste lançou oficialmente o Plano Brasil Nordeste de Transformação Ecológica (PTE-NE), instrumento estratégico que articula políticas públicas, ciência e economia verde. A iniciativa foi apresentada tanto na Zona Azul (Blue Zone) quanto na Zona Verde (Green Zone), reforçando o compromisso da região com uma transição energética justa, baseada no aproveitamento sustentável do sol, do vento e da biodiversidade da Caatinga.
O PTE-NE adapta os seis eixos do Plano Nacional de Transformação Ecológica à realidade regional e propõe 47 projetos e 324 ações prioritárias. Entre as metas, estão triplicar a capacidade instalada de energia solar e eólica até 2030, estimular a neoindustrialização verde, investir na bioeconomia da Caatinga, garantir segurança hídrica, ampliar a economia circular e valorizar a economia do mar e criativa.
“Elaborado com ampla participação social, o plano representa um novo ciclo de prosperidade compartilhada, com inovação, inclusão e sustentabilidade”, afirmou Fonteles. A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, reforçou que “o Nordeste não é problema, é solução”, destacando o papel da região na produção de energia limpa e na descarbonização do planeta. Já a pernambucana Raquel Lyra foi enfática: “Não vamos aceitar ser apenas exportadores de commodities. Queremos agregar valor à nossa economia verde”.
Financiamento verde e cooperação internacional
As ações do Nordeste na COP30 também ganharam reforço financeiro. O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) e a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) anunciaram um novo programa de cooperação no valor de 300 milhões de euros para projetos sustentáveis nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Deste total, R$ 120 milhões serão destinados ao Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), ampliando a capacidade do Banco do Nordeste (BNB) de financiar iniciativas de energia renovável, saneamento, infraestrutura urbana e agricultura resiliente.
O diretor de Planejamento do BNB, Aldemir Freire, ressaltou que o aporte chega em um momento crucial. “O Nordeste se consolida como polo central da matriz energética nacional”. O ministro Waldez Góes reforçou que a ação está alinhada à Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) e à Declaração de Belém, reafirmando o papel dos fundos regionais na transição justa.

A força dos bancos públicos e da Caatinga
O protagonismo nordestino também foi reforçado pela parceria entre o BNDES e o Banco do Nordeste, que juntos anunciaram R$ 100 milhões para projetos de preservação e recuperação da Caatinga. O investimento integra o PTE-NE e busca proteger o único bioma exclusivamente brasileiro, essencial para o equilíbrio climático do país.
“A decisão do BNDES de aportar mais R$ 50 milhões reforça a importância estratégica da Caatinga e demonstra a sinergia entre os bancos públicos”, afirmou Aldemir Freire. O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, destacou que o compromisso vai além da restauração ambiental: “Queremos fortalecer as cadeias produtivas locais, gerando emprego, renda e preservação ambiental”.
Com protagonismo político, planejamento técnico e alianças internacionais, o Nordeste se consolida na COP30 como laboratório de políticas climáticas e modelo de cooperação federativa. A união dos nove estados, sob a coordenação do Consórcio Nordeste, mostra que a transformação ecológica pode ser um vetor de justiça social e desenvolvimento regional.
“O coração da transformação ecológica está no Nordeste”, sintetizou Fátima Bezerra. A afirmação ecoa o espírito da comitiva nordestina em Belém; o de uma região que transforma desafios históricos em oportunidades de futuro e que, agora, se apresenta ao mundo não como periferia climática, mas como protagonista da sustentabilidade global.