O Rio Grande do Norte avança na internacionalização de sua economia com o lançamento de uma nova rota marítima que ligará o Porto de Natal ao Porto de Setúbal, em Portugal. A parceria foi formalizada por meio de um Acordo de Cooperação Técnica firmado entre a Companhia Docas do RN (Codern) e a Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS) na segunda semana deste mês.
O objetivo principal é estabelecer uma linha regular de transporte marítimo entre os dois terminais, facilitando o escoamento de mercadorias e fortalecendo as relações comerciais. A nova rota beneficiará especialmente o setor de frutas — que já tem a Europa como principal mercado consumidor — e permitirá a importação de produtos europeus, ampliando a capacidade logística do estado.
O diretor-presidente da Codern, Paulo Henrique de Macedo Carlos, acredita que a nova rota aumentará a competitividade do Porto de Natal no cenário internacional. “O Porto de Natal busca aproveitar ao máximo seu potencial e se firmar como um dos principais motores de desenvolvimento do Estado, promovendo o escoamento da produção, diminuindo custos logísticos e incentivando o empreendedorismo local”, afirma.
Ele ressalta que um estudo foi realizado em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (FIERN) para implantar linhas de cabotagem, enquanto a Codern avança com processos de arrendamentos de duas áreas do Porto de Natal. “Com a consolidação da nova rota comercial entre Natal e Setúbal, iniciaremos um novo momento”, acrescenta.
Gabriel Calzavara de Araújo, economista, empresário de logística marítima, diretor da FIERN e presidente do Sindicato da Indústria de Pesca do Rio Grande do Norte (SINDIPESCA-RN), destaca que a nova rota marítima entre os portos de Natal e Setúbal pode abrir grandes oportunidades de negócios entre Portugal, os estados do Nordeste brasileiro e os países costeiros da África Ocidental.
“O Porto de Natal, pela sua localização estratégica, se tornará a base operacional e HUB desse fluxo comercial, integrando mercados com populações e consumidores com fortes identidades culturais e de consumo”, explica.
Investimentos e intercâmbio técnico
A parceria entre Codern e APSS prevê investimentos em infraestrutura, além de troca de informações estratégicas e intercâmbio técnico. As ações planejadas incluem melhorias na logística, inovação tecnológica, gestão e operação portuária, além de práticas voltadas para o desenvolvimento sustentável.
Macedo Carlos reforça que a parceria entre o Porto de Natal e o Porto de Setúbal trará benefícios para diversas áreas técnicas e operacionais. “Haverá uma troca de conhecimento em áreas como gestão portuária, logística e transporte marítimo, inovação, planejamento estratégico, dragagem de canais de acesso, hidrovias interiores, transporte intermodal, desenvolvimento de sistemas logísticos e plataformas de comércio eletrônico, capacitação de recursos humanos e gestão de riscos e segurança nas operações portuárias”, afirma.
As negociações para o acordo começaram em março de 2024, durante a Bolsa de Turismo de Lisboa, quando a comitiva potiguar, liderada pela governadora Fátima Bezerra, realizou uma visita oficial à região da Arrábida.
Crescimento estratégico para o Porto de Natal
Dados de 2024 mostram que o Porto de Setúbal movimentou 6,5 milhões de toneladas de mercadorias, enquanto o Porto de Natal registrou um crescimento expressivo de 104% nas operações, impulsionado principalmente pelas exportações agrícolas.
A conexão com Portugal é vista como uma oportunidade para consolidar o terminal potiguar no cenário do comércio exterior, com expectativa de aumento significativo no volume de negócios. A iniciativa deve contribuir para a redução de custos logísticos e o fortalecimento da competitividade dos potiguares no mercado internacional.
Araújo avalia que a rota direta entre Natal e Setúbal elimina escalas desnecessárias, reduzindo o tempo de transporte e o custo do frete marítimo. “Exportadores locais terão maior previsibilidade e menores despesas com armazenagem e logística intermediária, beneficiando setores como frutas, pescado, têxtil, alimentos processados e mineração, que operarão com custos mais baixos e maior competitividade no mercado europeu”, detalha.
O especialista destaca que, além dos setores tradicionais como frutas, pescados e sal, a rota permitirá a diversificação da pauta de exportação, incluindo produtos de valor agregado de micro e pequenas indústrias nordestinas, como têxtil, lácteos, carnes, panificação, água de coco e água mineral. Ele ressalta que a rota passa por 23 países costeiros do Atlântico Sul, 20 africanos e 3 sul-americanos, representando mercados importantes para as indústrias nordestinas.
Araújo acredita que a conexão direta com Portugal abrirá portas para outros mercados europeus e africanos, com destaque para alimentos processados e bebidas, como cachaça e polpas de frutas, que atendem à demanda por produtos tropicais e sustentáveis. Nesse sentido, ele garante que a FIERN atuará promovendo seminários e rodadas de negócios para conectar empresários potiguares com compradores europeus e africanos, além de incentivar a qualificação empresarial e garantir condições competitivas de transporte, com foco em parcerias comerciais com países africanos como Cabo Verde e Senegal, assegurando um fluxo comercial sustentável.