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24 de outubro de 2025 16:44

O desafio do envelhecimento acelerado no Nordeste

O desafio do envelhecimento acelerado no Nordeste

Apesar de ser a região mais jovem do país, o Nordeste enfrenta acelerado envelhecimento populacional; idade mediana cresce de 27 para 33 anos e índice de envelhecimento chega a 67,8
Nordeste enfrenta rápido envelhecimento populacional | Foto: Freepik.

O Nordeste, reconhecido como a região mais jovem do Brasil, atravessa uma rápida mudança demográfica. Dados do Boletim Temático População Idosa, divulgado pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) com base no Censo Demográfico de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que a idade mediana saltou de 27 para 33 anos em apenas doze anos.

O índice de envelhecimento — que compara o número de pessoas com 60 anos ou mais a um grupo de 100 pessoas de zero a 14 anos — chegou a 67,8, enquanto a média nacional alcançou 80. Segundo a coordenadora de avaliação e estudos da Sudene, Gabriela Nascimento, o fenômeno reflete a combinação entre queda na taxa de natalidade, melhoria na expectativa de vida e fluxos de deslocamento populacional, que funcionam como um acelerador.

Indicadores de Envelhecimento na Região Nordeste. Idade mediana, índice de envelhecimento e razão de sexo. Censos 2010-2022

Fonte: Censo Demográfico 2010-2022, IBGE/Reprodução: Boletim Temático População Idosa, Sudene

Pirâmide etária se transforma

Entre 2010 e 2022, a população total do Nordeste cresceu de 53 milhões para 54,6 milhões de pessoas, avanço de apenas 2,97%. No entanto, o contingente de idosos foi o que mais aumentou proporcionalmente. A base da pirâmide etária encolheu: o grupo de 0 a 14 anos caiu de 14,1 milhões para 11,5 milhões, redução de cerca de 18%.

Em sentido oposto, o topo se alargou. As faixas de 60 a 64 anos e 70 a 74 anos registraram crescimentos expressivos de 45% e 44%, respectivamente.

Fonte: Censos 2010 e 2022, IBGE/Reprodução: Boletim Temático População Idosa, Sudene

“A região registrou uma queda de nascimentos ao longo das décadas. Isso ‘encolhe’ a base da pirâmide etária de maneira relativamente rápida, o que empurra a idade mediana para cima. Em segundo lugar, as pessoas estão vivendo mais e melhor, um ganho social importante, que expande a faixa etária mais velha. Entre 2017 e 2019, o Nordeste demonstrou um ganho de 0,69 anos na Esperança de Vida ao Nascer (EVN), um aumento superior à média nacional”, considera Gabriela.

Ela complementa que o movimento de saída de jovens em idade ativa e reprodutiva, que migram em busca de melhores oportunidades, faz com que a região ‘retenha’ uma proporção maior de pessoas mais velhas. “Essa perda da base mais nova ‘turbina’ o ritmo de envelhecimento no Nordeste”, aponta a coordenadora. 

Diferenças entre os estados

O envelhecimento, porém, ocorre de forma desigual. O Maranhão mantém o menor índice de envelhecimento da região (50), enquanto o Rio Grande do Norte apresenta um dos mais altos, com 76,1 — próximo da média brasileira.

“Essa diferença ilustra como o Nordeste é diverso”, destaca Gabriela. Ela explica que o contraste entre um estado como o Rio Grande do Norte, mais envelhecido, e o Maranhão, mais jovem, reflete principalmente os diferentes momentos em que cada um se encontra na sua transição demográfica.

Com relação a essas diferenças, Gabriela aponta possibilidades. “O Maranhão está numa fase anterior, na qual a queda na taxa de natalidade e a melhoria na expectativa de vida aconteceram de forma mais recente ou menos intensa, mantendo a base da população mais jovem. Já o Rio Grande do Norte se encontra em um estágio mais avançado, com essas transformações mais consolidadas”, detalha.

De acordo com ela, estados mais avançados na transição, como o Rio Grande do Norte, geralmente apresentam níveis de urbanização e desenvolvimento social mais robustos. “Essa evolução está associada, historicamente, a padrões de fecundidade mais baixos e a uma maior capacidade de garantir e manter ganhos em longevidade, inclusive em momentos de crise”, diz.

“O Maranhão, por outro lado, ainda demonstra mais vulnerabilidades em indicadores como a saúde e a escolaridade dos idosos, o que sugere desafios sociais e estruturais mais latentes que retardam a consolidação plena desse envelhecimento”, acrescenta.

Outros estados, como a Bahia, Pernambuco e o Ceará, concentram a maior parte da população idosa e também os principais polos de emprego formal para pessoas com 60 anos ou mais.

O boletim aponta que os trabalhadores com 60 anos ou mais representam 3,7% do total de empregos formais no Nordeste, um ponto percentual abaixo da média nacional (4,7%). Embora o percentual seja menor, o volume absoluto é relevante: Bahia (27,1%), Pernambuco (20,7%) e Ceará (17,4%) reúnem juntos 65,8% dos idosos empregados formalmente na região.

A participação ainda limitada da população idosa no mercado formal indica barreiras culturais e econômicas, além da alta informalidade no trabalho sênior. Para especialistas, esse quadro também reflete a ausência de políticas específicas de capacitação e reinserção produtiva para pessoas com mais de 60 anos.

Assistência social e dependência de benefícios

Entre 2010 e 2024, o número de beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (BPC) na categoria idoso cresceu 56% no Nordeste, saltando de 1,36 milhão para 2,13 milhões de pessoas.

Atualmente, os idosos nordestinos representam 42,1% do total nacional de beneficiários, reforçando a dependência regional de políticas de transferência de renda.

Durante a pandemia, a rede de assistência social foi ampliada, o que elevou temporariamente o número de concessões. Mesmo após o fim do período emergencial, a demanda por benefícios permaneceu alta, sinalizando uma tendência estrutural de vulnerabilidade entre os idosos da região.

Quantitativo de Beneficiários BPC e idosos nos estados do Nordeste (2024)

Fonte: Beneficiários BPC no Cadastro único 2024. Base de dados VIS DATA3. BRASIL, Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à fome (MDS), Secretaria de Avaliação, gestão de informação e cadastro único (SAGICAD)/Reprodução: Boletim Temático População Idosa, Sudene

O economista Miguel Vieira analisa que, no campo fiscal e produtivo, a inversão da pirâmide deve pressionar fortemente a Previdência Social e demandar mais verbas para a saúde e assistência aos idosos.

“Na economia, essa menor população jovem pode criar um déficit de mão de obra em certos setores. Isso nos obriga a focar urgentemente em aumentar a produtividade e incluir melhor os trabalhadores sêniores no mercado formal”, comenta.

O risco de ampliação da vulnerabilidade social também é destacado por Vieira. “Dada a alta informalidade no Nordeste, muitos indivíduos alcançam a velhice sem proteção previdenciária, forçando a dependência de programas de amparo como o BPC”, observa.

A desigualdade educacional é outro fator que agrava a vulnerabilidade da população idosa nordestina. Segundo o Censo 2022, 67,6% dos idosos da região não concluíram o ensino fundamental, o equivalente a 16,3 milhões de pessoas.

Os estados com os piores indicadores são Maranhão (71,9%) e Piauí (71,4%), enquanto Ceará (62,7%) e Sergipe (63,9%) apresentam os menores percentuais de idosos com baixa escolaridade.

A falta de instrução limita o acesso à inclusão digital, à educação continuada e à participação no mercado de trabalho, impactando também o consumo e a produtividade regional.

Desafio para as políticas públicas

O envelhecimento da população nordestina impõe desafios econômicos e fiscais para os próximos anos. A expansão da demanda por serviços de saúde, previdência e assistência social pressiona os orçamentos públicos, enquanto o mercado de trabalho ainda não absorve a mão de obra mais velha de forma consistente.

Vieira ressalta que aspectos como a valorização do capital humano sênior, a atenção à sustentabilidade previdenciária e fiscal, e o fortalecimento da rede de proteção social e ampliação de serviços de apoio à população idosa precisam ser considerados.

“Precisamos combater o preconceito de idade e criar políticas de requalificação de trabalhadores em idade mais avançada, como a expansão de programas de educação continuada para adultos, para integrar ativamente os mais velhos ao trabalho e à sociedade”, coloca. “Inclusive, a Mensagem Presidencial que encaminhou o PPA 2024-2027 ao Congresso Nacional destacou esse aspecto”, reforça o economista.

Vieira explica que a sustentabilidade previdenciária e fiscal exige esforços para formalizar o trabalho, reduzindo a dependência futura de programas de amparo como o BPC, além de investir em saúde preventiva para manter a população mais velha ativa e com menos limitações.

“Por fim, o fortalecimento da rede de proteção social e a ampliação de serviços de apoio à população idosa são essenciais. Como exemplo, aprimorar o SUS e serviços como o atendimento domiciliar, pois o aumento de pessoas com mais idade exige uma infraestrutura de saúde e amparo social muito mais robusta”, conclui.

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