O semiárido nordestino é uma das regiões mais desafiadoras para a agricultura no Brasil. Com longos períodos de estiagem e baixa disponibilidade hídrica, agricultores precisam lidar com dificuldades climáticas e, ao mesmo tempo, buscar maneiras de manter a produtividade e garantir sustento para as famílias. No entanto, essa região recebeu um impulso significativo em 2024: o Banco do Nordeste (BNB) ampliou em 56% os recursos destinados à agricultura familiar no semiárido alagoano, totalizando R$ 224,5 milhões em financiamentos no acumulado entre janeiro e setembro.
O montante é oriundo do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), e inclui operações realizadas pelo Programa de Microcrédito Produtivo Orientado Rural, conhecido como Agroamigo. A injeção desse valor representa não apenas uma resposta às necessidades imediatas de financiamento para custeio e investimento, mas também uma forma de incentivar práticas agrícolas mais sustentáveis e adaptadas às características locais. Em Alagoas, por exemplo, 66% dos recursos do Pronaf, ou cerca de R$ 338,7 milhões, foram destinados ao semiárido, indicando a prioridade em apoiar o desenvolvimento socioeconômico das áreas mais áridas do estado.
Desafios do semiárido e o papel do Banco do Nordeste
O semiárido do Nordeste brasileiro, que abrange diversos estados, incluindo Alagoas, representa uma área de grande potencial, mas também de constantes desafios. Além das limitações impostas pelo clima, como baixa pluviosidade e altas temperaturas, a região enfrenta problemas estruturais, como a dificuldade de acesso a tecnologias e a necessidade de desenvolvimento de práticas agrícolas que respeitem o meio ambiente e preservem os recursos naturais.
Neste cenário, o Banco do Nordeste, por meio do Pronaf e do Agroamigo, promove o acesso ao crédito para agricultores familiares que desejam implementar soluções de convivência com a seca, estimulando estratégias sustentáveis e de baixo impacto ambiental. “Esse apoio é essencial para a agricultura familiar, pois viabiliza não apenas o sustento das famílias, mas também incentiva o uso racional de recursos e o desenvolvimento de práticas resilientes ao clima”, afirma Manoel Roberto Muniz, gerente de Desenvolvimento Territorial do Banco do Nordeste em Alagoas.
Iniciativas de sustentabilidade e desenvolvimento no semiárido alagoano
Em Alagoas, o Banco do Nordeste coordena, além dos financiamentos diretos, o Programa de Desenvolvimento Territorial (Prodeter), que reúne representantes de instituições, lideranças locais e agricultores para criar um plano de ação voltado à produção local. Essa mobilização coletiva permite que as atividades econômicas sejam escolhidas de forma participativa, garantindo que elas atendam às reais necessidades e potencialidades da comunidade.
Entre as iniciativas já implementadas estão o fomento à bovinocultura de leite e à mandiocultura no semiárido alagoano. As ações realizadas por meio do Prodeter incluem melhoramento genético do rebanho, práticas de integração lavoura-pecuária-floresta, criação de bancos de proteínas para alimentação animal e incentivo ao associativismo. Esses projetos geram benefícios como aumento da produtividade e valorização da produção local, além de promoverem o desenvolvimento econômico e social na região.
Agroamigo: microcrédito orientado para eficiência no campo
O Agroamigo, programa de microcrédito rural do Banco do Nordeste, também tem sido fundamental para a agricultura familiar do semiárido. Somente em 2024, dos recursos destinados ao Pronaf no semiárido alagoano, R$ 202 milhões foram canalizados através do Agroamigo. Esse programa destaca-se por sua metodologia que alia o crédito à orientação técnica, por meio de assessores especializados que auxiliam os pequenos produtores a investirem os recursos de forma eficaz e sustentável.
Com o apoio do Agroamigo, os agricultores podem financiar atividades como custeio e investimento em práticas agroecológicas, além de projetos que promovam o uso de energia renovável e a conectividade rural. Para muitas famílias, esse crédito tem sido uma ponte para alcançar maior independência e segurança financeira, com a possibilidade de expandir a produção de maneira mais sustentável e adaptada ao semiárido.
Tecnologias inovadoras e sustentabilidade no semiárido: Embrapa promove soluções para o Nordeste
As soluções tecnológicas para a agricultura no semiárido nordestino vêm avançando com inovações que buscam tornar as práticas agrícolas cada vez mais sustentáveis. Segundo Maria Auxiliadora Coelho de Lima, pesquisadora e chefe geral da Embrapa Semiárido, essas inovações têm como foco não apenas a produtividade, mas também a preservação ambiental e a adaptação climática, aspectos essenciais para regiões com restrições hídricas e temperaturas elevadas.
Para Maria Auxiliadora, a principal estratégia envolve sistemas integrados de produção, que permitem ao agricultor diversificar suas atividades, combinando culturas e até práticas pecuárias em um mesmo espaço. Esse modelo aumenta a resiliência do solo e permite uma produção mais equilibrada. “Nós difundimos estratégias de utilização de sistemas integrados para que o agricultor tenha mais de uma opção para produzir”, explica.
Ela destaca a importância da biodiversidade local no desenvolvimento de espécies adaptadas ao semiárido, como as do bioma Caatinga, que têm um grande potencial agrícola. Muitas dessas plantas são capazes de suportar altas temperaturas e escassez de água, o que as torna essenciais para a agricultura da região. “No bioma Caatinga, temos muitas espécies adaptadas a condições de temperaturas elevadas e restrição de água, com potencial de uso agrícola e para alimentação animal”, afirma Maria Auxiliadora.
A Embrapa também tem promovido o uso de bioinsumos, insumos de origem biológica que substituem produtos químicos tradicionais, melhorando a produtividade agrícola com menor impacto ambiental. “Os bioinsumos contribuem para o controle de pragas e doenças, além de fornecer nutrientes específicos, o que melhora a qualidade dos produtos agrícolas e facilita a inserção no mercado”, explica a pesquisadora.
Além disso, o desenvolvimento de cultivares resistentes é uma das frentes mais importantes para enfrentar os desafios climáticos. As novas variedades são pensadas para suportar não apenas as condições áridas, mas também pragas e doenças que afetam a região. Maria Auxiliadora destaca que “esses cultivares mantêm altos índices de produtividade, ao mesmo tempo que são adaptados a condições de temperatura elevada e baixa oferta de água”.
Para otimizar o uso dos recursos hídricos, a Embrapa aposta em técnicas de manejo de água que possibilitam a distribuição racional ao longo das fases de crescimento das plantas. Esse sistema, baseado em índices climáticos e nas necessidades específicas de cada fase de cultivo, assegura que a planta receba exatamente a quantidade de água necessária. “O fornecimento de água é ajustado de forma a atender as necessidades da planta em cada fase, considerando as condições do ano”, explica.
Outro destaque das inovações da Embrapa é o conceito de produção fora de época para o mercado de frutas. “Por meio de mecanismos que induzem a floração e brotação, conseguimos definir períodos específicos de produção, o que permite ao agricultor atender a demanda de acordo com os preços de mercado e as preferências do consumidor”, explica Maria Auxiliadora. Essa estratégia vem sendo expandida para novas culturas, permitindo a diversificação e a produção contínua ao longo do ano.
As tecnologias, estratégias e modelos de produção desenvolvidos pela Embrapa, segundo Maria Auxiliadora, buscam não só aprimorar a agricultura do semiárido, mas também alinhá-la aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A adoção dessas práticas integradas reduz o impacto ambiental, melhora o uso dos recursos naturais e contribui para a resiliência climática, fatores essenciais para a sustentabilidade da agricultura no Nordeste.
Perspectivas para o futuro da agricultura familiar no semiárido
Com os incentivos do Banco do Nordeste e os avanços tecnológicos promovidos pela Embrapa, o semiárido nordestino está se tornando um espaço onde a agricultura familiar pode prosperar de maneira sustentável. O foco em práticas resilientes e adaptadas ao ambiente permite que os agricultores enfrentem melhor os efeitos das mudanças climáticas e continuem produzindo mesmo em condições adversas.
Em Alagoas, essas iniciativas representam não apenas um alívio econômico para os pequenos agricultores, mas também um avanço no fortalecimento do semiárido como um território produtivo, inovador e sustentável. As ações conjuntas de crédito e desenvolvimento tecnológico possibilitam que a agricultura familiar do semiárido nordestino se torne um exemplo de adaptação e convivência com o clima, garantindo segurança alimentar e desenvolvimento para milhares de famílias que dependem dessa atividade.