A Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) apresentou na terça-feira (9) uma nova ferramenta que promete transformar a forma como gestores públicos, empresários e pesquisadores acessam informações estratégicas sobre a região. O Data Nordeste, portal lançado durante evento no Moinho Recife, no Porto Digital de Pernambuco, reúne em ambiente único dados sociais, econômicos e ambientais antes dispersos em diferentes fontes.
A plataforma oferece acesso gratuito a painéis interativos, boletins temáticos e soluções georreferenciadas, com recortes específicos sobre educação, saúde, demografia, renda, emprego e meio ambiente. Os usuários podem filtrar informações por município, estado, bioma ou território do Semiárido, democratizando o acesso a dados que antes exigiam conhecimento técnico especializado.
“O dado é essencial para formular políticas públicas e orientar empresas sobre seu compromisso com o ambiente em que atuam”, afirmou o superintendente da Sudene, Francisco Ferreira Alexandre. Para ele, a plataforma representa um elo fundamental entre o discurso e a ação, especialmente para empresas que buscam compreender melhor os territórios onde atuam.
Colaboração institucional fortalece credibilidade
O projeto foi desenvolvido com apoio técnico do Observatório da Caatinga e Desertificação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e conta com parcerias estratégicas com o IBGE, o Instituto Nacional do Semiárido (INSA), o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social e a Federação das Indústrias da Paraíba.
O presidente do IBGE, Márcio Pochmann, presente na cerimônia, destacou a importância da iniciativa para a soberania nacional dos dados. “Essa plataforma fortalece o planejamento ao reunir e estruturar informações regionais que estavam dispersas. É um passo importante para que possamos tomar decisões baseadas na nossa própria realidade”, declarou.
A geógrafa Ludmilla Calado, responsável técnica pela implementação, ressaltou que mesmo usuários sem conhecimento em análise estatística conseguem navegar pela plataforma graças aos textos explicativos e análises descritivas automáticas. “São 14 painéis temáticos disponíveis, além de boletins e relatórios produzidos por parceiros. A proposta é transformar estatísticas em conhecimento acessível e estratégico”, explicou.
A plataforma será ampliada ainda este ano com novos módulos voltados à análise comparativa entre regiões, visualização de tendências e uso de algoritmos para identificação de padrões. Estão previstos mapas interativos de desertificação e cobertura vegetal, além de análises automatizadas para monitoramento territorial.
“Vamos incorporar funcionalidades que tornem o ambiente ainda mais interativo, com cruzamento de dados em tempo real e integração com sistemas de gestão pública”, antecipou Alexandre. Todo desenvolvimento será feito em código aberto, garantindo transparência total sobre fontes e métodos de cálculo.
O professor John Cunha, da UFCG e coordenador do Observatório da Caatinga, enfatizou o caráter colaborativo da iniciativa. “A Sudene não contratou um produto, ela construiu junto. Isso permite transferência de tecnologia e formação de uma cultura de monitoramento contínuo das políticas territoriais”, destacou.
O desafio da era da hiperinformação
Durante o evento, o pesquisador Ricardo Cappra abordou os desafios da tomada de decisão na era digital, alertando para os riscos do excesso de informação. “Dados fora de contexto podem distorcer a realidade tanto quanto narrativas falsas. O pensamento analítico é fundamental para usar dados de forma crítica e responsável”, observou.
Cappra definiu o Data Nordeste como exemplo de “democracia analítica”, conceito que descreve o acesso estruturado e transparente aos dados, permitindo que qualquer cidadão possa interpretar evidências e participar do processo decisório. “O que vocês estão fazendo é uma política pública de dados, algo raro no mundo. É uma infraestrutura de cidadania informacional para o futuro do Nordeste”, elogiou.
A plataforma está disponível no endereço datanordeste.sudene.gov.br e representa um marco na democratização da informação estratégica sobre uma das regiões mais importantes do país, prometendo impactar positivamente a formulação de políticas públicas, decisões empresariais e pesquisas acadêmicas focadas no desenvolvimento regional sustentável.