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30 de setembro de 2025 11:05

Transição energética, ativos ambientais e recatingamento marcam agenda do Consórcio Nordeste na COP30

Transição energética, ativos ambientais e recatingamento marcam agenda do Consórcio Nordeste na COP30

Região apresenta portfólio robusto de energias renováveis, conservação da Caatinga e desenvolvimento sustentável para atrair investimentos e fortalecer economia

Nesta entrevista exclusiva para o Investindo Por Aí, a secretária de Meio Ambiente e Mudança do Clima do Ceará e coordenadora da Câmara Temática de Meio Ambiente do Consórcio Nordeste, Vilma Freire, detalha as estratégias que o bloco regional adotará para reforçar a presença e a relevância da região na COP30.

Administradora, especialista em gestão pública e mestre em Políticas Públicas, Vilma foi a primeira mulher a presidir a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri), cargo que ocupou desde 2019, após iniciar sua trajetória na instituição em 2015 como Diretora de Planejamento e Gestão. Com 13 anos de experiência no serviço público, ela representa o esforço conjunto dos nove estados do Nordeste para destacar a transição energética, os ativos ambientais e o recatingamento como pilares da agenda climática e econômica regional.

Investindo Por Aí: Quais são as principais agendas que o Consórcio Nordeste quer levar à mesa na COP30 e o que de concreto o bloco vai apresentar como vitrine?

Vilma Freire: O Consórcio definiu, com todos os governadores do Nordeste, numa reunião que aconteceu há três meses, sobre a pauta que nós íamos discutir. Ia ser levada com projetos importantes na discussão da COP.

Então, nós tiramos três temas, que são: transição energética, ativos ambientais e o recatingamento.

E a transição energética, além dos avanços do hidrogênio verde, o Ceará, por exemplo, assim como o Rio Grande do Norte, se consolida como um dos líderes em geração de energia eólica e solar no Brasil. Então, os governadores — governador do Rio Grande do Norte e governador do Ceará — entenderam que era importante levar esse tema.

Também o presidente do Consórcio Nordeste, que é o governador do Piauí, que tem liderado a questão dos ativos ambientais. É um modelo de desenvolvimento sustentável, adotado pelas vocações econômicas do Estado. E no Piauí tem uma liderança forte do nosso presidente do Consórcio, que é o governador Rafael Fonteles. E tem projetos importantes lá, que a gente vai apresentar, inclusive, como modelo. E os demais estados do Nordeste já estão copiando e trabalhando as questões dos ativos ambientais.

E o recatingamento, que é uma metodologia de convivência com o semiárido, que promove a recuperação, a conservação da biodiversidade da Caatinga e tem a participação muito importante, que é o que a gente defende, com as comunidades tradicionais.

Então, aqui no Nordeste, são esses os três temas que nós vamos levar de uma maneira mais incisiva, para apresentar projetos, para apresentar para o mundo, que essa é a pauta da nossa, que a gente tem defendido, que é importante, pelo menos para os nove estados do Nordeste.

 

Investindo Por Aí: Como que o Consórcio Nordeste equalizou as demandas econômicas de seus nove estados com os pressupostos ambientais inerentes à COP30?

Vilma Freire: Apesar de ser na Amazônia, o tema central da COP é a transição energética. Então, a transição energética é um tema também muito importante, que é comum para os nove estados.

Se você for perceber, no Rio Grande do Norte tem vários empreendimentos trabalhando já a questão da transição energética. Aqui no Ceará, do mesmo jeito. Então, a redução das emissões de gases do efeito estufa e a adaptação à mudança climática é um tema que, por acaso, é da COP, mas é um tema muito comum aos nove estados. Então, foi fácil consolidar.

Os governadores e governadoras entenderam que esse era um tema importante que a gente poderia levar para a COP, sobretudo com o intuito de conseguir financiamento climático. Nós estamos falando de energias renováveis — o mundo todo está falando e nós temos esse produto a oferecer. Estamos falando das soluções de baixo carbono — o mundo todo está falando e nós estamos trabalhando isso aqui.

Esse desenvolvimento precisa acontecer, mas precisa acontecer de forma sustentável. Então, são pontos que a gente está falando para o mundo e que o mundo está esperando a audiência do Brasil. Afinal de contas, nós somos o país que mais defende a proteção ambiental. O governo Lula definiu, já desde o início, que o tema meio ambiente é uma das agendas mais importantes. E o mundo todo está muito atento a isso, né?

Então, nós temos que conversar com a economia. Não tem outra maneira de conversar com a economia sem entender que o desenvolvimento tem que acontecer, mas mostrando como esse desenvolvimento deve acontecer. Aqui nós temos exemplos exitosos. No Nordeste, nós estamos liderando a questão da proteção ambiental e temos exemplos exitosos.

A gente vai apresentar também o nosso principal bioma, um bioma exclusivamente brasileiro, que é a Caatinga, através dos projetos de recatingamento. A gente espera muito que esse bioma seja reconhecido e apresentado como o bioma que mais sequestra carbono. O mundo precisa saber disso.

Nós estaremos lá, inclusive com vários trabalhos, todos os estados apresentando e mostrando o que nós temos de importância para salvar o nosso planeta.

 

Investindo Por Aí: O Nordeste tem ocupado um papel mais secundário nesse debate climático nacional, dado que a COP vai ser no Norte e mundo se volta à Amazônia. O que o Consórcio está fazendo para mudar essa posição ou até criar um melhor relacionamento com o Norte nesse sentido?

Vilma Freire: Na verdade, ele não está fazendo nada para mudar a posição. A gente teve uma reunião lá no início das discussões. O presidente Rafael, presidente do Consórcio, procurou o embaixador André Corrêa do Lago. Eu estive presente enquanto coordenadora da Câmara Temática do Meio Ambiente e mandamos para ele esse comunicado: o Nordeste tem isso aqui para apresentar — a transição energética, o recatingamento e os ativos ambientais.

O mundo acha que a COP é a “COP Amazônia”, por acontecer lá. E aí, a primeira coisa que o embaixador nos disse foi: “Pois fiquem tranquilos, o nome da COP inclusive vai mudar logo, no mapa, é COP Brasil e o tema central é a transição energética.” Então, surgiu ali um alívio de que a gente não precisa mudar nada.

O Consórcio Nordeste tem uma característica muito importante, muito forte, que é exclusiva nossa: é de um povo que não se conforma com qualquer coisa, que quer mostrar a sua capacidade e que precisa lutar pelos seus interesses. O Nordeste unido, com essa visão de consórcio — e a gente leva isso muito ao pé da letra — funciona.

Através do Consórcio, nós levamos os temas. Não sei se os outros estados brasileiros estão reunidos para apresentar, mas o Consórcio Nordeste levou os temas que são importantes. A gente está se organizando em forma de consórcio para apresentar esses temas e projetos. Por essa ação direta nossa, a gente acredita que não vai precisar discutir, porque vai estar claro ali qual é o papel do Nordeste nessa COP, quais são os interesses do Nordeste e que a COP é do Brasil e vai falar de todos os biomas.

Se ela vai falar de todos os biomas, vamos levar para apresentar um bioma que é exclusivamente brasileiro, que é o que mais sofre no Brasil — o bioma Caatinga — e que é um bioma rico. Rico porque, quando se apresenta o bioma Caatinga, se mostram fotos com aquele aspecto seco, aquela imensidão… mas ele não é só aquilo. A Caatinga é um bioma rico, exclusivo e o mais eficiente no sequestro de carbono.

Por tudo isso, a gente acredita que o nosso papel na COP vai ser importante, vai ser marcante. Vamos ter a oportunidade de nos reunir com líderes mundiais, cientistas, ONGs e representantes de toda a sociedade civil. E isso é o que a gente também está defendendo: uma importante participação da sociedade civil, para apresentar juntos e defender juntos esse interesse que é do Nordeste, que é de todos nós.

 

Investindo Por Aí: O portfólio de energia limpa do Nordeste é um ativo cada vez mais importante na geopolítica global, como o Consórcio Nordeste vai aproveitar a COP30 para potencializar essa percepção em nível internacional?

Vilma Freire: A gente vai apresentar, como eu comecei dizendo, que nós somos a região Nordeste com mais potencial. E aí, não é potencial no que se planeja, é potencial no que já entregamos.

Nós estamos liderando a transição energética no Brasil. O Nordeste está liderando a transição energética no Brasil.

Então, a gente vai mostrar para o mundo, para os líderes mundiais, que nós temos esse potencial, quanto a gente tem de investimento assegurado para isso, o que nós já fizemos.

Por isso, a fala dessa oportunidade de transição energética vai ser muito dos governadores, dos estados que estão. O governador Humano aqui do estado do Ceará, o governador Rafael, pelo Piauí, a governadora Faixa, pelo Rio Grande do Norte, são governadores que já estão com projetos, já com resultados importantes aqui com o hidrogênio verde, energias renováveis das mais várias formas.

Então, nós temos exemplos para mostrar, temos potencial para vender. Eu acho que o mundo todo está querendo isso mesmo: entender o que o Nordeste tem, o que o Brasil tem, saber tudo o que o Nordeste tem, porque o Nordeste está sendo conhecido e chamado de liderança da transição energética.

É isso que a gente vai mostrar.

 

Investindo Por Aí: Como o Consórcio integra as questões sociais da região à pauta ambiental?

Vilma Freire: Nós já começamos defendendo isso, que a participação dessas comunidades — dos povos tradicionais, das comunidades indígenas, quilombolas, estudantes — eu acho que a sociedade civil, de uma forma geral, tem que ter participação direta, integrada nessa forma.

Não é só o poder público que tem que falar o que nós temos. Eu acho que a sociedade civil, que é onde sofre o maior impacto dos nossos avanços, seja no desenvolvimento sustentável, ainda assim qualquer impacto é impacto no meio ambiente, tem que ser ouvida para construir juntos, para dizer para o mundo também que isso está acontecendo de uma forma integrada, consolidada, consensuada.

Aqui, nós criamos grupos de trabalho com a participação da sociedade civil, de outras entidades, de outras secretarias, de governos locais, para discutir esses três temas.

Então, tem um grupo de trabalho da transição energética, tem um grupo de trabalho de ativos ambientais, tem um grupo de trabalho de recatingamento, liderado por pessoas que têm trabalho já na parte acadêmica, são pessoas ligadas à academia, servidores públicos, que estão juntos com a sociedade civil, junto com todos os atores que devem ter presença.

Ainda que não seja física — porque eu não sei se vai dar para ir todo mundo diante do que a gente tem visto por uma questão de logística —, mesmo assim as pessoas vão ter participação, porque os trabalhos e as discussões que irão ser apresentados e levados acordam a participação desse povo.

Então, as comunidades tradicionais estão presentes, sobretudo no grupo de transição energética; a juventude está presente nos ativos ambientais; os quilombolas estão presentes no recatingamento; as comunidades que estão dentro desses territórios estão participando desses grupos de trabalho.

Então, para a gente dar uma tranquilidade enorme para dizer que isso não está sendo construído aqui no gabinete, com os governos, com a participação só do poder público, isso está sendo construído — o que a gente vai levar para a COP.

E é importante dizer que está sendo construído através de um grupo de trabalho, por várias mãos, participando desse grupo: sociedade civil, comunidades tradicionais e todos os povos. Outros poderes estão participando e construindo juntos essa que, com certeza, vai ser uma importante entrega que a gente vai fazer nessa COP.

 

Investindo Por Aí: Existe uma preocupação com o esvaziamento da COP30? Qual o impacto na avaliação do Consórcio que as tensões diplomáticas entre os Estados Unidos e o Brasil podem ter no evento?

Vilma Freire: Nós estamos preocupados mais com as questões de logística, porque todos os governadores e governadoras defendem muito a participação, a construção coletiva, a participação popular.

Então, a nossa vontade era, além dessa participação que eles estão tendo dentro dos Grupos Técnicos, que eles pudessem também estar participando presencialmente, de forma física, da COP. A gente sabe que é um evento importante, sabe que é um evento que dá para construir. E a gente tem esse intercâmbio com vários países, é importante.

Mas surge uma preocupação que é de todo mundo, de todo mundo mesmo. Você viu que já tem países se posicionando que não vão participar.

Quanto à interferência dos Estados Unidos, não só para essa COP, mas para tudo que está acontecendo no Brasil, é claro que o governador, o presidente Lula, têm feito um esforço imensurável. Os governos estaduais também estão fazendo suas ações, que geram um efeito local, mas que dá um alívio para quem empreende, para quem suporta, para a indústria e para o comércio, porque os governadores mostraram que existe ali uma saída.

O presidente Lula sinalizou qual é a saída, os governadores estão seguindo essa saída. Aqui no Estado do Ceará, o governador já editou várias medidas importantes que ajudam e dão um alívio à indústria e ao comércio local.

Mas a interferência dos Estados Unidos realmente é uma questão que prejudica não só a COP, mas o desenvolvimento do Brasil.

 

Investindo Por Aí: Qual será a estratégia para atrair os investimentos verdes para a região a partir da COP30?

Vilma Freire: Nós vamos levar o portfólio. Cada Estado — e aí a gente vai nesse sentido — tem produtos diferentes, potenciais diferentes. Todos os Estados têm grandes potenciais para avançar nessa iniciativa.

Aqui no Estado do Ceará, eu estou tentando não falar muito só do Ceará, porque não estou falando enquanto Consórcio do Nordeste, mas o Estado do Ceará está preparando um portfólio. Inclusive, a gente já apresentou isso na China, para vários investidores, para a atração de investimentos nas áreas de energias limpas, energias verdes.

O Piauí também está passando essas iniciativas, e o Rio Grande do Norte… Então, todos os estados estão trabalhando, estão criando portfólios individuais.

O investidor acha mais importante investir no Rio Grande do Norte, porque o estado tem potencial X, e o Estado do Ceará não tem. Outro investidor acha mais importante investir no Ceará, porque tem um potencial que, aqui, no nosso porto do PCN, é um potencial importante, que atrai muito investimento por conta da logística, da facilidade.

Então, tudo isso vai ser apresentado, mas de forma individual, para que a gente, eu tenho certeza, nenhum estado do Nordeste volte dessa COP sem um negócio firmado, sem uma interação ou conexão com um país importante que possa vir a ser um potencial investidor nosso.

 

Investindo Por Aí: Passada a conferência, como que o consórcio pretende garantir que os compromissos se convertam em ações concretas?

Vilma Freire: O Consórcio tem um diferencial muito importante. O Consórcio do Nordeste tem essa particularidade.

Os governadores reiteram muito isso e têm uma agenda muito positiva, muito firme, sobretudo no que diz respeito ao desenvolvimento econômico. Então, a pauta está lá: a agenda do dia do Nordeste trata sobre as questões positivas.

Cada estado vai tratar de forma individual, mostrando seu potencial através do seu portfólio, mas com suas especificidades.

Pós-COP, a gente vai reunir, vai ter uma agenda importante onde os governadores vão discutir pontos de vista de investimento, o que precisa ser feito para o investimento X alcançar o estado X.

Então, tudo isso vai ser discutido em forma de consórcio nessas agendas que já estão definidas, porque eles se reúnem todos os meses, presencialmente, é um dia todo de reunião.

Os governadores discutem ali a agenda do dia. Está na ordem do dia a agenda da pós-COP, com certeza.

 

Este texto integra a série especial de reportagens do Investindo por Aí sobre a COP30.

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