
Com safra estimada em 816,3 mil toneladas de pluma colhidas em 413 mil hectares na safra 2024/2025, a Bahia mantém o posto de segundo maior produtor de algodão do Brasil, segundo dados da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa). O volume representa crescimento de 5,4% em relação ao ciclo anterior e responde por cerca de 20% da produção nacional, ficando atrás apenas do Mato Grosso.
O desempenho é impulsionado pelo Oeste baiano, onde a combinação de tecnologia e gestão eficiente tem garantido produtividade elevada e reconhecimento internacional. Em nota ao Investindo Por Aí, a Abapa afirma que o avanço tecnológico no campo, na região Oeste da Bahia, tem permitido ganhos expressivos em produtividade, sustentabilidade e rastreabilidade, consolidando o estado como uma das principais referências na cotonicultura brasileira.
“O uso de tecnologias de agricultura de precisão — como drones, sensores e sistemas de monitoramento — possibilita um controle mais rigoroso das condições de cultivo, favorecendo lavouras mais equilibradas e uma fibra de melhor qualidade. Além disso, o manejo integrado de pragas tem reduzido de forma significativa a incidência de doenças e infestações, garantindo uma pluma mais limpa e uniforme”, detalha a associação.
Outro fator, destacado pela entidade, é o melhoramento genético, que, por meio de pesquisas contínuas, tem resultado no desenvolvimento de variedades mais produtivas, resistentes e adaptadas às condições climáticas da região.
Governo e produtores miram cadeia têxtil local
A estratégia agora é transformar o potencial agrícola em valor agregado dentro do estado. Governo e setor produtivo articulam políticas e investimentos para industrializar o algodão baiano.
O coordenador do Centro Tecnológico Agropecuário da Bahia (Cetab), unidade vinculada à Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri), Paulo Mesquita, ressalta que a Bahia tem intensificado a qualificação técnica e reforçado a verticalização da cotonicultura, buscando transformar a fibra bruta em produtos industrializados. “A estratégia, resultado da articulação entre o setor produtivo e as instâncias governamentais, entre elas a Seagri, busca gerar mais valor à produção local e fortalecer o desenvolvimento regional”, pontua.
A estratégia busca agregar valor à produção local, gerar empregos e reduzir a dependência de polos têxteis externos, combinando certificação internacional de qualidade e incentivos à atração de novos empreendimentos.
Mesquita observa que o algodão baiano também se diferencia por suas fibras de alta resistência, cor e comprimento. “O Cetab tem desempenhado um papel estratégico na garantia da qualidade, como entidade autorizada a emitir certificados e laudos de classificação de amostras de algodão em pluma”, explica o coordenador.

O Cetab/Seagri garante os padrões técnicos exigidos pelos mercados nacional e internacional, tornando a certificação um diferencial competitivo e oferecendo às indústrias não apenas volume de produção, mas também qualidade padronizada da fibra.
Nos últimos anos, o centro recebeu um aporte de R$10 milhões, fruto de convênio entre a Seagri e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). “Esses recursos possibilitaram a aquisição de equipamentos modernos, a reestruturação das instalações e o reforço da equipe técnica”, relata Mesquita.
Ele acrescenta que, no primeiro semestre de 2025, o Cetab emitiu 1.027 laudos de qualidade, referentes a 20 mil toneladas de algodão em pluma, o que reforça sua relevância para a competitividade da cotonicultura baiana. Em 2024, foram 7.786 laudos técnicos, que atestaram a qualidade de cerca de 177 mil toneladas de algodão.
“O algodão é uma realidade, com potencial para se firmar como um dos eixos centrais do desenvolvimento econômico. Ao manter o beneficiamento no território baiano, abre-se espaço para a instalação de tecelagens e indústrias, ampliando a geração de empregos, fortalecendo a renda e aumentando a competitividade do setor”, conclui Mesquita.
O coordenador também cita o Proalba — Programa de Incentivo à Cultura do Algodão — como uma política pública essencial para o fortalecimento do setor, ao estimular o cultivo da fibra por meio de incentivos fiscais, exigência de boas práticas agrícolas e controle de qualidade.
Instituído pela Lei nº 7.932 e regulamentado pelo Decreto nº 8.064, o programa prevê redução do ICMS sobre a comercialização do algodão em pluma, desde que o produtor cumpra critérios de qualidade, manejo e sanidade vegetal. Entre seus principais objetivos estão recuperar e desenvolver a cultura do algodão na Bahia, modernizar a produção com foco em produtividade e qualidade e aumentar o processamento da fibra dentro do estado, fortalecendo a cadeia econômica local.
Complementando essas iniciativas públicas, a Abapa atua em defesa não apenas dos cotonicultores, agricultores dedicados ao cultivo de algodão, mas também da integração de toda a cadeia, conectando o campo à indústria. Para isso, a associação executa programas nacionais de defesa fitossanitária, qualidade, sustentabilidade e rastreabilidade, além de desenvolver projetos próprios de capacitação, educação e inovação.
“O CT — Centro de Treinamento & Tecnologia da Abapa — é um exemplo desse trabalho integrado: qualifica mão de obra para atuar desde a lavoura até o beneficiamento, assegurando à indústria, nacional e internacional, matéria-prima de qualidade e ampliando a geração de emprego e renda no estado”, diz.
A associação também mantém parcerias com entidades como Faeb, Senar e Fieb, aproximando agricultura, beneficiamento e indústria têxtil, para que mais etapas do ciclo do algodão permaneçam na Bahia, agregando valor e estimulando o desenvolvimento regional.
Brasil é líder global nas exportações da fibra
No cenário nacional, o Brasil deve colher 3,6 milhões de toneladas de algodão na safra 2024/2025, conforme o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (FAS/USDA), mantendo-se como quarto maior produtor mundial.
O país também manteve a liderança global nas exportações, superando os Estados Unidos, e hoje responde por 14% da produção mundial e 30% das exportações globais.
De acordo com o International Cotton Advisory Committee (ICAC), a produção mundial deve atingir 25,5 milhões de toneladas em 2024/2025. China, Índia e Estados Unidos seguem no topo, mas o Brasil — e especialmente a Bahia — vêm ampliando sua participação na cadeia global, apoiados em ganhos de eficiência, rastreabilidade e sustentabilidade.
Nesse contexto, a Abapa reforça que a Bahia também se destaca pela produção sustentável de algodão, respaldada por certificações reconhecidas internacionalmente, como o Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e o Better Cotton (BC), esta última considerada a chancela mais relevante do mundo em licenciamento de fibra produzida de forma responsável. O ABR, gerido nacionalmente pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), atesta boas práticas ambientais, sociais e de governança.
Além disso, o Centro de Análise de Fibras da Abapa mantém certificações contínuas e participa do programa Standard Brasil HVI (SBRHVI), que mede e valida a qualidade do algodão brasileiro, reforçando a confiabilidade da fibra produzida na Bahia para os mercados nacional e internacional.

Desafios e oportunidades para consolidar um polo têxtil na Bahia
Para que a Bahia avance na criação de um ecossistema têxtil local — desde o campo até a indústria, a Abapa considera que o primeiro passo é criar condições que atraiam investidores para o estado, tornando o investimento economicamente viável. “Hoje, a indústria têxtil mundial está quase toda centralizada na Ásia, e existem razões para isso, que passam, principalmente, por custos de produção”, explica a associação.
“Desde a pandemia, entretanto, estamos vendo mudanças no conceito da globalização e vimos o quanto os países que se desfizeram de suas indústrias têxteis ficaram vulneráveis nos produtos mais básicos, quando houve os ‘lockdowns’, com escassez de produtos têxteis, desde tecidos hospitalares a todo o resto. Após o fim da pandemia, os preços escalaram”, detalha.
Segundo a entidade, a Bahia reúne grande produção de algodão, conta com porto que vem incrementando os embarques — resultado, em grande parte, da articulação dos produtores — e possui uma localização estratégica, próxima à origem da matéria-prima.
“Para provar que é possível e faz sentido o esforço para a criação de um polo têxtil estadual, basta dizer que, apenas a 100 quilômetros de Salvador, está instalada a mais antiga indústria têxtil do Brasil. A Valença Têxtil, que vem desde os tempos do Império, é uma das maiores e mais importantes do país”, ressalta a associação.
A Abapa finaliza destacando que o Oeste da Bahia também apresenta grande potencial caso seja possível concentrar a transformação próximo à produção. “A região está no coração do centro-oeste do país, muito próxima de mercados como Goiás e Minas Gerais, que já têm tradição na indústria têxtil. A questão é que, para isso, além de todos os aspectos que falamos antes, também precisamos de uma garantia de fornecimento em quantidade suficiente e qualidade, de energia elétrica”, enfatiza.
 
								 
 
                     
   
    
   
    
   
    
   
    
   
    
   
    
   
    
   
    
   
   