O Nordeste quer chegar à COP30 com o discurso afiado e os projetos na ponta do lápis. O Consórcio Nordeste articula a participação unificada dos nove estados da região na Conferência do Clima da ONU, que acontece em novembro, em Belém (PA). E a meta é clara: mostrar ao mundo que o Nordeste é protagonista quando o assunto é transição energética, proteção ambiental e geração de oportunidades.
Três frentes ganham destaque nessa estratégia: o avanço da energia limpa, a recuperação do bioma da Caatinga e a monetização de ativos ambientais. São iniciativas que, segundo o presidente do Consórcio, Rafael Fonteles (governador do Piauí), “podem impulsionar o desenvolvimento da região, com justiça social e sustentabilidade”.
A força da energia limpa
Hoje, o Nordeste responde por mais da metade da energia eólica gerada no país e se consolida como polo promissor para o hidrogênio verde e os biocombustíveis. Durante a COP30, os governadores pretendem apresentar o papel estratégico da região na transição energética brasileira, com foco em atrair investimentos internacionais para ampliar a industrialização verde.
“Queremos mostrar que o Nordeste não é só uma potência ambiental, mas também pode ser referência na industrialização de baixo carbono”, afirma Fonteles.
A ativista ambiental Jahzara Ona destaca que essa transformação só faz sentido se incluir os territórios: “A transição energética precisa pensar na formação técnica das juventudes, no fortalecimento das cooperativas, na valorização dos saberes locais. Só assim vai ser de fato justa.”
Caatinga viva e pulsante
Outro ponto forte da pauta nordestina na COP30 é o bioma da Caatinga, único no mundo e extremamente vulnerável às mudanças climáticas. O Consórcio Nordeste articula projetos de grande escala para a recuperação ambiental e inclusão produtiva na região semiárida, como o Floresta Viva, maior projeto de recaatingamento do país, que já conta com R$ 60 milhões em recursos.
Além dele, o projeto Sertão Vivo — parceria com o BNDES e o FIDA — destina R$ 1,8 bilhão ao fortalecimento da agricultura familiar e regenerativa. O objetivo é garantir resiliência climática para quem vive da terra, cuidando do bioma sem abrir mão da renda.
“Se a Caatinga é vulnerável, ela também carrega soluções. O conhecimento local e a biodiversidade do bioma podem inspirar respostas para climas mais secos em todo o mundo”, aponta Tereza Campello, diretora socioambiental do BNDES.
Durante a conferência, o Consórcio também vai defender a criação do Fundo Caatinga, que busca captar recursos para financiar ações de combate à desertificação e promover o desenvolvimento sustentável. A proposta é criar instrumentos que transformem a preservação em ativos econômicos.
Esse é outro eixo central da pauta: a monetização de ativos ambientais, como créditos de carbono, biodiversidade e serviços ecossistêmicos. A ideia é que projetos sustentáveis possam gerar retorno financeiro para os estados e comunidades envolvidas.
“É preciso olhar o território não apenas como um lugar de extração, mas como um celeiro de soluções climáticas”, diz Jahzara. Para ela, os projetos do Nordeste precisam ser interligados, garantindo acesso ao financiamento e mantendo o foco na justiça socioambiental.
Unidade e protagonismo
A construção das pautas tem sido feita de forma integrada entre os governos estaduais, técnicos e instituições como BNDES, MMA, Embrapa, ASA, Sudene e o Itamaraty. O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, já sinalizou que o Nordeste terá um espaço prioritário no evento.
“O Nordeste tem uma contribuição extraordinária no combate às mudanças climáticas. A COP30 é uma oportunidade histórica para mostrar essa força”, afirmou Corrêa do Lago em reunião com o Consórcio.
Nos bastidores, o recado é um só: a COP30 é a COP do Nordeste. Uma chance real de consolidar a região como modelo de economia verde, alinhando crescimento regional, inclusão e metas climáticas globais.
Este texto integra a série de reportagens especiais do Investindo Por Aí sobre a COP30