A Embrapa Maranhão lidera um projeto que busca transformar o manejo do babaçu em uma fonte de renda sustentável e reconhecida por seus benefícios ambientais. Chamado PSA-Babaçu (Pagamento por Serviços Ambientais), o projeto pretende gerar indicadores técnicos e científicos que permitam a certificação socioambiental de propriedades rurais localizadas em áreas de ocorrência da palmeira e a inserção dessas terras em programas de pagamento por serviços ambientais (PSA). A meta é criar metodologias que valorizem a conservação e o uso sustentável do babaçu como ativo econômico e ambiental.
Segundo a pesquisadora Vera Gouveia, líder da iniciativa, o estudo visa quantificar o carbono estocado nas áreas de babaçu e aperfeiçoar métricas para medir emissões e remoções de gases de efeito estufa. Os dados coletados também devem subsidiar metodologias para geração de créditos de carbono no mercado regulado e voluntário. O assentamento Canto do Ferreira, no município de Chapadinha (MA), foi escolhido como uma das áreas de referência, abrigando a Associação das Quebradeiras de Coco dos Projetos de Assentamento de Chapadinha, grupo essencial na coleta e processamento artesanal dos produtos do babaçu. A parceria surgiu a partir dos Diálogos do Babaçu, série de encontros promovida pela agência alemã GIZ para fortalecer a cadeia produtiva da palmeira.
Durante setembro, pesquisadores da Embrapa realizaram levantamentos de campo em Chapadinha, mapeando o uso do solo e a vegetação nativa. A equipe utiliza imagens de satélite e visitas presenciais para avaliar as áreas de cultivo, regeneração florestal e aptidão agrícola. O pesquisador Carlos Quartaroli explica que o mapeamento permitirá estimar o volume e o valor dos estoques de carbono, passo essencial para calcular o potencial de serviços ambientais prestados pelas comunidades locais. O grupo também coleta amostras de solo e avalia processos de erosão, aspectos que servirão de base para o ordenamento territorial e para futuras ações de PSA.
O projeto abrange áreas dos biomas Cerrado e Amazônia, envolvendo parcerias entre a Embrapa, o Incra e as comunidades assentadas. “Nosso objetivo é gerar valor para as famílias que dependem do babaçu e fortalecer a cadeia de valor dessa palmeira nativa”, afirma Joaquim Costa, chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Maranhão. As reuniões com os assentados têm garantido uma abordagem participativa, valorizando o conhecimento empírico das quebradeiras de coco e integrando-o à pesquisa científica.
A iniciativa prevê ainda a criação da Unidade de Referência Tecnológica para Manejo Florestal do Babaçu (URT-Babaçu), onde será realizado um inventário florestal para compreender a ecologia da espécie e desenvolver práticas de manejo sustentável e sistemas agroflorestais. Para Vera Gouveia, a valorização dos serviços ecossistêmicos pode se tornar uma forma de remuneração justa e permanente para comunidades que preservam o meio ambiente. “Queremos que, ao final do projeto, os assentados estejam capacitados e empoderados para adotar práticas agroecológicas e de conservação dos recursos naturais”, destaca a pesquisadora.
Com foco na conciliação entre produção, conservação e renda, o PSA-Babaçu busca consolidar o babaçu como símbolo de uma nova economia rural sustentável, capaz de equilibrar o uso produtivo da terra e a preservação dos ecossistemas no Maranhão e em outras regiões do país.