Entre janeiro e agosto deste ano, Fortaleza criou mais empregos formais do que nove estados brasileiros inteiros. O saldo de 18,6 mil vagas com carteira assinada coloca a capital cearense à frente de unidades federativas como Rio Grande do Norte, Sergipe, Alagoas, Amazonas e Acre, evidenciando o peso econômico e social da metrópole na região Nordeste.
Os dados, divulgados no fim de setembro pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) a partir do Novo Caged, reforçam a centralidade da capital na geração de renda e postos de trabalho. O resultado foi quase seis vezes maior que o de Horizonte, segundo município cearense com melhor desempenho (2,7 mil), seguido de Juazeiro do Norte (2,1 mil).
Para o economista Júlio Pavani, da Universidade Federal do Ceará, a concentração de vagas formais em Fortaleza é explicada por fatores estruturais: economia diversificada, infraestrutura urbana, maior escala de serviços, além de atrativos como logística e conectividade.
“Fortaleza não só gera empregos para seus moradores, mas também absorve mão de obra de cidades vizinhas, o que acaba reduzindo o impacto da geração de vagas em municípios menores”, analisa.
Apesar do saldo positivo, os dados também revelam recortes sociais importantes. A maioria das contratações correspondeu a jovens de 18 a 24 anos, com ensino médio completo. O perfil predominante é de homens em atividades operacionais: eles representaram 11,4 mil contratações, contra 7,1 mil de mulheres.
Esse retrato indica tanto a inserção precoce da juventude no mercado de trabalho quanto a persistente desigualdade de gênero no acesso às oportunidades.
O setor de serviços liderou a abertura de vagas (9,5 mil), especialmente em áreas ligadas à administração pública, saúde e educação. Em seguida, aparecem a construção civil (5,8 mil) e a indústria (3,2 mil). O comércio, por outro lado, registrou saldo negativo no período.
“Para manter o ritmo de geração de empregos, Fortaleza precisa investir em qualificação profissional e requalificação digital, criando oportunidades para jovens e mulheres em setores estratégicos. Ao mesmo tempo, é essencial antecipar os efeitos da automação e diversificar a economia, garantindo que o crescimento atual se traduza em desenvolvimento social sustentável”, explica Pavani.
Além das funções operacionais, afirma o economista, há demanda crescente por profissionais qualificados em setores estratégicos, como tecnologia da informação, logística e data centers, áreas nas quais Fortaleza tem se consolidado como polo regional.
Isso porque os investimentos em infraestrutura, serviços e tecnologia têm sido apontados como decisivos para manter Fortaleza competitiva na atração de empresas e na geração de empregos. Melhorias em mobilidade urbana, saneamento e oferta de energia reduzem custos operacionais e dão mais segurança a investidores, enquanto a presença de universidades, escolas técnicas e serviços de saúde fortalece a qualificação da mão de obra e garante condições de bem-estar para trabalhadores.
No campo tecnológico, a expansão da conectividade digital, a instalação de data centers e o estímulo a startups e hubs de inovação colocam a capital em posição estratégica para áreas como logística, comércio eletrônico e tecnologia da informação. Esse conjunto de fatores não só amplia o leque de oportunidades, como também diversifica a economia local, criando empregos que vão das funções operacionais a postos altamente qualificados.
No cenário nordestino, o Ceará aparece em terceiro lugar em geração de empregos (40,5 mil), atrás apenas da Bahia e de Pernambuco. Já a região Nordeste foi responsável por mais de 260 mil vagas com carteira assinada no período, ficando atrás apenas do Sudeste e do Sul.