Nos últimos anos o Nordeste tem vivido uma expansão logística de empresas de e-commerce. Amazon, Shopee, Mercado Livre, entre outras, ampliam investimentos em centros de distribuição e hubs urbanos na região, acelerando entregas e redesenhando o mapa do consumo online no Brasil. A abertura de centros de distribuição (CDs) e hubs logísticos em estados como Pernambuco, Bahia e Ceará coloca a região como peça-chave para a expansão da logística rápida, essencial na promessa de entregas em 24h ou até no mesmo dia. Essa corrida pode reposicionar o Nordeste não apenas como mercado consumidor, mas como polo estratégico da economia digital.
Um exemplo dessa realidade está no recente movimento da Shopee. A empresa singapurense inaugurou, no último mês de agosto, o terceiro centro logístico da empresa em Alagoas, localizado em Arapiraca, os outros dois funcionam na cidade de Maceió. Para o economista e professor da UFPB, Cássio Besarria, esta mobilização é resultado de um processo de desconcentração, em relação à região Sudeste, dessas atividades para outras regiões do país, fato que exige a adoção de infraestrutura. Para ele, a pandemia da Covid-19 antecipou o processo de digitalização de muitas atividades e estabeleceu novos padrões de consumo e empresas.
Mas qual a grande vantagem logística que o Nordeste oferece? Para Fernando Mansano, presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), um dos motivos dos investimentos em centros de distribuições na região Nordeste é que grandes marketplaces como Mercado Livre, Amazon e Shopee têm capilarizado mais essas distribuições no Brasil para ficar mais perto também do público, tanto consumidor como vendedor. Porém, baratear o custo e melhorar a eficiência e velocidade da entrega tem sido um grande diferencial.
“A maioria desses grandes e-commerces e marketplaces possuem armazenamento próprio, onde estocam produtos de diferentes lojistas, cuidando das questões logísticas desde o recebimento até o momento da venda. Nesse cenário, os grandes varejistas conseguem metrificar o volume de consumo para determinada região, pois quanto mais demanda, menor o custo para as entregas”, afirma Mansano.
Rafael Flores, head de Expansão Logística da Shopee também destaca a relevância da logística da região. “Temos expandido a nossa presença logística por todo o país para levar cada vez mais eficiência nas entregas para os nossos consumidores. O Nordeste é uma região estratégica, com potencial de crescimento e tem um papel importante para a empresa. A plataforma conta com vendedores de todos os estados da região, com destaque para Bahia, Ceará e Pernambuco, que estão entre os dez estados com maior concentração de lojistas nacionais, por exemplo”.
Além da Shopee, empresas como Amazon e Mercado Livre também vêm investindo no Nordeste nos últimos anos. A gigante americana abriu cerca de dois centros de distribuição nos últimos 48 meses, sendo o primeiro em Itaitinga (CE), em 2023, e o segundo em Recife (PE), no último ano. Por sua vez, o Mercado Livre já possui três CDs, sendo dois na Bahia e um em Pernambuco. A empresa pretende expandir ainda mais, há projetos para que até o final de 2025 sejam implantados mais dois novos centros, um em Simões Filho (BA) e outro em Itaitinga (CE).
Dados levantados pela Federação das Empresas de Transporte de Cargas e Logísticas do Nordeste apontam que, além da localização estratégica da região, as melhorias da infraestrutura rodoviária têm favorecido esse movimento. Em 2024, foram destinados cerca de R$6 bilhões para obras em rodovias e ferrovias. A Bahia recebeu R$2,4 bilhões desse montante e Pernambuco obteve R$670 milhões.
O estado da Paraíba também vem se destacando nos investimentos visando a melhoria logística. O governo do Estado anunciou, no início de 2025, a construção do Terminal Logístico Rodoviário de Cargas, projeto do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logísticas da Paraíba (Setce/PB) e da FetransLog/NE. A obra, que será instalada próximo ao Arco Metropolitano de João Pessoa, busca otimizar as operações de transporte no estado.
Impactos econômicos
Segundo dados do FecomercioSP, o comércio eletrônico no Brasil movimentou R$205 bilhões em 2023, um salto de 286% em relação a 2016, e as regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste aparecem como componentes fundamentais dessa expansão. Alagoas se destaca neste cenário, o estado registrou um crescimento de 436,9% em seu mercado digital.
Para o presidente da ABComm, o impacto desse fenômeno e da expansão das empresas de e-commerce na região é muito positivo por impactar na geração de emprego das cidades. “Muitos dos acordos feitos para a implementação desses centros de distribuição têm gerado benefícios e incentivos às prefeituras locais. Às vezes, é um incentivo de imposto sobre serviço (ISS), um benefício de local/terreno, entre outros. Em contrapartida, as prefeituras pedem incentivo ao emprego local, definindo uma cota de trabalhadores que moram na região”, observa Fernando.
