O Nordeste brasileiro vem consolidando sua posição como um dos principais destinos de investimentos chineses no país. Entre 2007 e 2024, a região recebeu 58 projetos confirmados, com aportes estimados entre R$ 11,9 bilhões e R$ 13,2 bilhões, segundo relatório do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) divulgado na última semana.
O levantamento mostra que o Nordeste respondeu por 15% dos investimentos chineses no Brasil no período, ficando atrás apenas do Sudeste, que concentrou 202 empreendimentos (54% do total). Em todo o país, os aportes da China somaram US$ 77,5 bilhões em 303 projetos.
Bahia lidera no Nordeste
A Bahia aparece como o principal polo da região, com 5,9% dos projetos nacionais, ocupando a quarta posição no ranking geral, à frente do Rio de Janeiro. Em seguida vêm Ceará (2,9%), Pernambuco (2,4%) e Piauí (2,4%).
Projetos de destaque incluem o complexo da BYD em Camaçari (BA), voltado à produção de veículos elétricos e baterias, com investimento de R$ 3 bilhões; a ponte Salvador–Itaparica, estimada em R$ 9 bilhões; o parque solar da CGN em Russas (CE), com aporte de R$ 650 milhões; e o megadatacenter da ByteDance (TikTok) em Caucaia (CE), orçado em R$ 55 bilhões.
No Maranhão, a State Grid Brazil Holding investe em transmissão e distribuição de energia elétrica, em projetos de cerca de R$ 5 bilhões. Já o Piauí abriga o Parque Solar Nova Olinda, operado pela CGN, com investimento de R$ 1,56 bilhão, além de um hub de energia renovável anunciado em 2024 de R$ 3 bilhões. Em Alagoas, a Baiyin Nonferrous Group adquiriu a mina de cobre Serrote por R$ 2,4 bilhões.
De acordo com Emanuel Leite Júnior, pesquisador da Tongji University (Xangai), o avanço no Nordeste é parte de uma estratégia de longo prazo. “O crescimento da presença chinesa no Nordeste é estrutural e estratégico, com potencial em energia renovável, infraestrutura e logística, tecnologia e inovação, além da abundância em terras férteis. Essa tendência está ligada também ao protagonismo do Consórcio Nordeste”, afirmou.
Ele destacou ainda que a descentralização dos aportes reduz riscos e melhora a percepção da China nos países onde investe, a exemplo do que já ocorreu na África.
Energia e inovação no centro da estratégia
A transição energética é um dos principais vetores desses investimentos. A meta da China de alcançar o pico de emissões até 2030 e a neutralidade de carbono até 2060 impulsiona aportes em infraestrutura verde em países do Sul Global.
No Nordeste, além da energia, há avanço em logística, mineração, tecnologia e ciência. Entre os exemplos estão o porto de Itaqui (MA), o porto do Pecém (CE), projetos ferroviários no Piauí, além da cooperação científica no projeto BINGO, na Paraíba, e no Programa Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS), no Maranhão.
O relatório do CEBC estima aportes de até R$ 13,2 bilhões no Nordeste desde 2007. No entanto, a soma de grandes projetos recentes, como o datacenter da ByteDance e a ponte Salvador–Itaparica, indica que os valores reais já superam o patamar oficial, reforçando a importância estratégica da região para a presença chinesa no Brasil.