Apesar do avanço na produção de etanol hidratado e açúcar nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, o cenário do agronegócio traz sinais de alerta em outro front: o crédito rural. Dados da safra 2024/25 revelam uma safra produtiva, ainda que afetada por fatores climáticos, enquanto o volume de financiamento agrícola apresenta retração expressiva, dificultando o planejamento e a competitividade de muitos produtores, especialmente os de menor porte.
Segundo a Associação dos Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (NovaBio), até a primeira quinzena de abril, a moagem de cana-de-açúcar nas regiões Norte e Nordeste chegou a 56,96 milhões de toneladas, com 95% da safra colhida. Embora o número represente uma queda de 4,1% em relação ao mesmo período do ano passado, os níveis de produtividade cresceram, graças à concentração maior de Açúcar Total Recuperável (ATR), favorecida por um clima predominantemente seco.
Essa condição climática, ainda que tenha reduzido a estimativa inicial de moagem de 63 para 61 milhões de toneladas, elevou a qualidade da matéria-prima, o que impulsionou a produção de etanol hidratado em 23,5%, totalizando 1,4 bilhão de litros. A produção de etanol anidro, porém, sofreu retração de 22,5%, ficando em 827,7 milhões de litros. No total, a produção de etanol nas duas modalidades chegou a 2,23 bilhões de litros, um aumento de 1,2% em relação ao mesmo período do ciclo anterior.
O açúcar, um dos principais produtos exportados pelas usinas do Norte e Nordeste, também teve desempenho positivo. Foram produzidas 3,72 milhões de toneladas, alta de 7,5% frente ao mesmo período da safra passada. Estima-se que mais de 65% desse volume será exportado para mercados da Ásia, África, Europa e América do Norte, aproveitando a estrutura portuária da região, com destaque para os portos de Maceió, Recife, João Pessoa e Natal.
Apesar dos bons indicadores na produção, o cenário do crédito rural preocupa. Segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), os desembolsos do Plano Safra 2024/25 totalizaram R$ 298,6 bilhões até abril, uma queda de 20% em relação ao mesmo período do ciclo anterior. A retração no crédito afeta diretamente o planejamento das atividades agrícolas, especialmente de pequenos e médios produtores, que enfrentam maiores dificuldades para acessar os recursos necessários.
Víctor Cardoso, head comercial da Agree, agfintech especializada em crédito rural, alerta para a importância do planejamento financeiro nesse contexto de incerteza. “Antecipar a captação de recursos permite negociar insumos, fretes e seguros com mais tranquilidade. É isso que diferencia o produtor que apenas sobrevive daquele que se mantém competitivo no mercado”, explica.
Com os recursos do Plano Safra divididos entre custeio (R$ 142,7 bilhões), investimento (R$ 52,2 bilhões), comercialização (R$ 35,5 bilhões) e industrialização (R$ 15,9 bilhões), o desafio para os produtores é administrar com mais estratégia um cenário de recursos mais escassos — ao mesmo tempo em que tentam manter os níveis crescentes de produtividade que têm caracterizado a atual safra da cana-de-açúcar.