
O Nordeste volta ao centro das discussões sobre mobilidade e integração regional. Duas propostas em estudo pelo governo federal e pelo Consórcio Nordeste apontam para a mesma direção: reduzir distâncias, impulsionar o turismo e fortalecer a economia regional. De um lado, o projeto de uma rede ferroviária de passageiros que teria como ponto de partida o trecho de 110 quilômetros entre Recife (PE) e João Pessoa (PB). De outro, a possibilidade de criação de uma companhia aérea estatal nordestina, dedicada a operar rotas regionais pouco exploradas pelas grandes companhias.
O projeto ferroviário faz parte do Plano Nacional de Logística 2050 (PNL 2050), coordenado pelo Ministério dos Transportes e pela Infra S.A. Segundo o presidente da estatal, Jorge Bastos, a ligação entre Recife e João Pessoa foi escolhida por ser a menor distância entre as capitais nordestinas, o que aumenta as chances de viabilidade. A expectativa é que, caso se mostre eficiente, o trem seja estendido até Maceió (AL) e Natal (RN), criando um eixo de integração entre quatro estados.
Além de atender ao fluxo cotidiano de passageiros, a ferrovia tem potencial para alavancar o turismo interestadual, estimular economias locais e reduzir a pressão sobre o transporte rodoviário, historicamente marcado por estradas saturadas e acidentes.
Em paralelo, o Ministério do Turismo e o Consórcio Nordeste articulam a criação de uma companhia aérea estatal voltada exclusivamente para a região. A proposta surge em um momento em que a aviação regional brasileira encolhe. A nova empresa teria como missão ocupar esse espaço, conectando cidades do interior às capitais e ampliando a malha aérea para destinos turísticos menos acessíveis.
O projeto encontra incentivos na própria região. Empresas instaladas na área da Sudene podem obter até 75% de redução no Imposto de Renda, e estados como Pernambuco já oferecem alíquotas menores de ICMS sobre combustível. Além disso, a modernização de aeroportos como os de Recife, Salvador, Fortaleza e Maceió fortalece as condições para uma malha aérea mais densa e competitiva.
Embora distintos, os dois projetos se complementam. O trem regional pode oferecer tarifas mais acessíveis em trajetos curtos e médios, enquanto a companhia aérea teria capacidade de encurtar distâncias maiores, conectando capitais e cidades turísticas a hubs nacionais e internacionais. Ambos são estratégicos para descentralizar a mobilidade, hoje concentrada em grandes centros do Sudeste.
Especialistas, no entanto, apontam diferenças de viabilidade. A aviação exige investimentos altos e gestão eficiente, mas encontra infraestrutura relativamente consolidada. Já o trem, embora promissor e ambientalmente sustentável, depende de pesados investimentos iniciais em trilhos e estações, além de um modelo operacional de longo prazo.
“O trem pode ser a espinha dorsal da integração curta e média distância, com tarifas acessíveis e impacto ambiental reduzido. Já a malha aérea preenche o vazio das longas distâncias e conecta o Nordeste a hubs nacionais e internacionais. Juntos, os dois projetos representam um salto estratégico: transformar a mobilidade em motor de desenvolvimento econômico e turístico para milhões de nordestinos”, disse Tufi Daher Filho, diretor-presidente da Transnordestina Logística.
Impacto para turismo e economia
A movimentação nos dez principais aeroportos nordestinos já ultrapassou os níveis pré-pandemia: foram mais de 12 milhões de passageiros nos quatro primeiros meses de 2025, segundo a Anac. Esse cenário demonstra o potencial do setor aéreo para acelerar a retomada do turismo. Por outro lado, uma rede ferroviária estruturada pode oferecer um transporte de massa estável e complementar, especialmente entre capitais próximas.
Ao reacender o debate, o governo federal e o Consórcio Nordeste sinalizam que investir em mobilidade é investir no próprio futuro da região. Seja sobre trilhos ou pelos ares, a meta é a mesma: transformar a geografia em oportunidade, ampliando a integração, a competitividade e a qualidade de vida de milhões de nordestinos.
George Santoro, secretário-executivo do Ministério dos Transportes, afirmou em evento do Valor Econômico, que o governo federal aposta na ampliação da rede ferroviária nordestina para dinamizar a economia da região. Segundo ele, pelo menos R$ 60 bilhões em investimentos estão previstos em ferrovias que beneficiarão o setor produtivo do Nordeste.
Ele citou como exemplo a criação de um corredor logístico interligando o Centro-Oeste ao Porto do Sul, em Ilhéus (BA), por meio da conexão da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico) com a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol).