O evento Energia 360 Alagoas: Caminhos para a Segurança Energética, promovido pela Origem Energia em parceria com o Governo de Alagoas, teve seu encerramento nesta quinta-feira (17) no Jatiúca Hotel & Resort, em Maceió.
O terceiro e último dia do encontro debateu as possibilidades de investimentos em energia e crescimento socioeconômico, avaliando o cenário energético, olhando para a realidade dos blocos exploratórios e trazendo a infraestrutura como uma aposta de competitividade para o Brasil.
A abertura dos debates contou com Joaquim Levy, Diretor de Estratégia Econômica e Relações com o Mercado do Banco Safra S/A, no painel principal, e foi seguida por outros painéis conduzidos por lideranças do setor energético no Brasil.
Oportunidade no meio da turbulência internacional
Durante sua fala, Joaquim Levy destacou que o Brasil pode se beneficiar das mudanças em curso nas principais economias do mundo. Com os Estados Unidos enfrentando déficits fiscais elevados, a China desacelerando e a Europa rearmando sua economia, há uma reconfiguração dos fluxos de capital. E esse redesenho abre espaço para que países emergentes com estabilidade e recursos naturais – como o Brasil – atraiam mais investimentos produtivos.
No caso brasileiro, o petróleo e o gás natural ganham protagonismo. “A energia é a ponte para o desenvolvimento regional, sobretudo no Nordeste, que tem ativos subutilizados e infraestrutura que estará pronta para receber novas frentes de produção”, pontuou Levy.
Segundo o economista, o Brasil vive hoje um momento de inflexão. A inflação está em queda, o câmbio estabilizado e o emprego relativamente estável. As exportações puxam o PIB, mais até do que o consumo interno, porém o crescimento segue tímido: o país avançou apenas 10% em uma década.
Com o novo arcabouço fiscal e a expectativa de cortes de juros a partir de 2025, há uma janela de oportunidade: “Com crescimento de 2,5% ao ano e responsabilidade fiscal, é possível estabilizar a dívida pública sem choques drásticos”, avaliou Levy.
Contudo, para sair da estagnação, é preciso mais: infraestrutura, previsibilidade regulatória e destravamento dos investimentos privados.
Apesar de contar com mais de 400 blocos exploratórios de petróleo e gás sob concessão e cerca de R$ 10 bilhões em garantias financeiras depositadas por empresas do setor, o Brasil enfrenta uma execução pífia desses contratos. Em 2024, apenas 10 poços foram perfurados no país.
Segundo a ANP, a lentidão está ligada a entraves regulatórios, custos ambientais e à baixa atratividade de áreas em terra. Especialistas defendem a adoção de uma estratégia orientada por infraestrutura, reaproveitando ativos existentes para acelerar a produção e reduzir custos, como já ocorre em mercados mais maduros.
O gás natural como chave da transição energética
Se a produção de petróleo encontra obstáculos hoje, o gás natural tem se consolidado como vetor técnico da transição energética. Mais limpo que carvão e diesel, ele oferece segurança ao sistema elétrico, que no Brasil ainda depende fortemente de fontes intermitentes, como a solar e a eólica.
“Ainda estamos presos a um modelo fragmentado. A gente brinca que o gás natural conta, além da ANP, com mais 27 órgãos reguladores. Ou seja, são 27 regulações estaduais para um mesmo insumo”, critica Luiz Felipe Coutinho, da Origem Energia. O executivo defende uma política nacional robusta para o gás, com menos burocracia e mais previsibilidade, sobretudo nos licenciamentos ambientais.
A executiva Verônica Coelho, da Equinor, reforça a importância da previsibilidade regulatória: “Investimos em projetos com horizonte de 40 anos. Mudanças constantes nas regras afastam capital estrangeiro e travam o avanço tecnológico”.
Sobre desafios e oportunidades para o gás natural no Brasil, Guilherme Vinhas, moderador do debate e sócio do escritório Vinhas Redenschi Advogados, destacou o impacto da pobreza energética e o uso da lenha nos lares brasileiros. Segundo ele, o dado de que 23% das residências ainda utilizam lenha como fonte de energia revela tanto uma desigualdade social crítica quanto um enorme potencial de expansão para o gás natural. “É um sinal do tamanho do mercado que ainda pode ser atendido”, afirmou.
Em resposta, Luiz Felipe Coutinho defendeu que o entrave ao avanço do setor não está na falta de demanda, mas na ausência de articulação nacional. “Nada me irrita mais do que dizer que não aumentamos a oferta porque não há demanda”, afirmou. Para ele, o país ainda falha em unir os interesses do consumidor, dos investidores e da União para garantir o uso pleno do potencial energético.
Uma chamada à ação
Os especialistas são unânimes: o Brasil precisa agir agora para não perder o bonde da transição energética e da reindustrialização verde. O país tem petróleo, gás, renováveis, biocombustíveis – e uma das maiores reservas técnicas do mundo. Mas sem coordenação entre agências, planejamento de longo prazo e um ambiente favorável ao investimento, o risco é desperdiçar essa vantagem competitiva.
Como disse Flávio Fernandes, da S&P Global: “Temos que revisitar oportunidades do passado com olhos de hoje. As tecnologias mudaram, o mundo mudou – e o Brasil precisa acompanhar”.