O agronegócio brasileiro está passando por uma transformação significativa na regulamentação e uso de insumos agrícolas, com destaque para os avanços em bioinsumos e a modernização do marco regulatório de defensivos. Os temas foram centrais em importantes eventos do setor realizados recentemente, revelando um cenário de crescimento e busca por maior sustentabilidade.
Durante o Seminário Nacional sobre Insumos Agropecuários (Senagri), especialistas debateram os desafios para estabelecer um marco regulatório mais ágil e coordenado para defensivos agrícolas. Arthur Gomes, diretor de Defensivos da CropLife Brasil, enfatizou que a nova legislação em discussão não gerará confusão de competências, mas organizará processos para maior celeridade e previsibilidade.
José Victor Torres, coordenador de Agrotóxicos do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), destacou que a pasta trabalha na elaboração de decretos regulamentares, ressaltando a complexidade do tema devido ao envolvimento de múltiplos órgãos federais e estaduais. “Em 2023, o Brasil alcançou um número expressivo de registros, mas para dar continuidade a esse avanço, os esforços agora se concentram em aprimorar a coordenação entre os diferentes órgãos envolvidos”, afirmou Torres.
A sustentabilidade também ganhou destaque através dos resultados da logística reversa de embalagens de defensivos. Marcelo Okamura, presidente do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (InpEV), apresentou dados promissores para 2025, com volume de embalagens recebidas superando projeções iniciais. O sistema conta atualmente com mais de 400 unidades de recebimento, com investimentos de R$ 60 milhões para ampliar capilaridade.
A capacitação profissional foi outro ponto central dos debates. Hamilton Ramos, diretor-geral do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), apresentou a evolução do programa Aplique Bem, criado há 18 anos para promover o uso seguro de defensivos. A iniciativa se conecta com o Aplicador Legal, portaria do MAPA que estabelece obrigatoriedade de formação para profissionais que aplicam defensivos agrícolas.
No segundo dia do Senagri, realizado em Belém, as Boas Práticas Agrícolas ocuparam lugar de destaque. Claudia Quaglierini, gerente de Sustentabilidade da CropLife Brasil, detalhou campanha lançada no início do ano para conscientizar toda a cadeia produtiva sobre uso responsável de tecnologias. Ela enfatizou a interdependência entre agricultores e apicultores, lembrando que “cerca de 75% das culturas agrícolas no mundo dependem da polinização”.
Paralelamente, o mercado de bioinsumos consolidou sua posição de liderança mundial. Durante o Global Agribusiness Festival (GAFFFF) 2025, Eduardo Leão, diretor-presidente da CropLife Brasil, revelou que o Brasil possui área potencial tratada de mais de 156 milhões de hectares na safra 2024-2025. “Hoje, no Brasil, 26% das terras cultivadas já utilizam bioinsumos”, informou, acrescentando que o uso nacional é quatro vezes superior à média global.
Cláudio Brisolara, economista da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (FAESP), destacou o potencial transformador dos bioinsumos para levar a agricultura brasileira a outro patamar. “Nós temos um potencial de biodiversidade escondido no Brasil e estamos apenas no começo”, afirmou.
Frédéric Beudot, líder global de biológicos da Corteva, reforçou que os bioinsumos deixaram de ser tendência para se tornarem necessidade, especialmente considerando o crescimento populacional e aumento da demanda por alimentos.
A regulamentação de bioinsumos também foi tema de discussão específica, com Nadia Hage, gerente de Assuntos Regulatórios de Bioinsumos da CropLife Brasil, conduzindo debates sobre perspectivas da nova Lei de Bioinsumos. O painel abordou desafios de harmonização regulatória e boas práticas de fabricação.
Os eventos demonstraram que o agronegócio brasileiro busca equilibrar produtividade, sustentabilidade e inovação, posicionando o país como referência mundial em práticas agrícolas responsáveis e uso de tecnologias avançadas no campo.
