Enquanto os Estados Unidos consolidam sua posição como o maior produtor global de petróleo, a realidade brasileira pode sofrer uma reviravolta dramática: de exportador a importador de petróleo na próxima década. Um cenário preocupante, com projeções do Ministério de Minas e Energia, baseadas em análises da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), indicando que a produção nacional deve estagnar em 2030, cair pela metade em 2040 e praticamente zerar em 2050.
Especialistas apontam diversos fatores que explicam a disparidade entre a situação do Brasil e dos EUA. Entre eles, destacam-se as características geológicas de cada território, as regulamentações e legislações vigentes, além das diferenças nos modelos de negócios e na abertura de mercado.
Onshore vs. Offshore
A principal distinção reside no tipo de exploração. Os Estados Unidos focam na produção onshore, extraindo petróleo em terra firme, com custos e complexidade operacionais menores, utilizando largamente a técnica de “shale” (gás de xisto). No Brasil, por outro lado, a exploração é predominantemente offshore (no mar), exigindo plataformas mais avançadas e, consequentemente, mais caras.
Atualmente, cerca de 80% da produção brasileira é impulsionada pelo pré-sal, a vasta reserva descoberta pela Petrobras em 2006. Contudo, o potencial do pré-sal não foi plenamente aproveitado.
O caminho para evitar o declínio
Para Roberto Ardenghy, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), é crucial que o governo estabeleça um regime regulatório favorável e invista no desenvolvimento de novas reservas para evitar um declínio produtivo a partir de 2030.
Ele explica que as reservas de petróleo convencional, como a da Bacia de Campos (em produção desde 1977), têm um ciclo de vida de cerca de 27 a 30 anos. O pré-sal, embora mais recente (exploração efetiva desde 2008), também terá sua produção reduzida nos próximos anos.
“Por isso, há a discussão da Margem Equatorial, na fronteira com a Guiana Francesa, e da Bacia de Pelotas, no sul, fronteira com o Uruguai. São duas bacias com potencial de petróleo, e temos a tecnologia para explorá-las, como provamos com o pré-sal, que é um sucesso mundial”, afirmou Ardenghy.
A realização de novos leilões de petróleo é urgente. É preciso garantir a atratividade do país para investimentos e permitir a exploração da commodity a tempo de reverter a projeção de que o Brasil se torne um importador prioritário.
O papel do Nordeste na busca por auto suficiência
Estados como Amapá, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte desempenham um papel crucial e estratégico na expansão da exploração de petróleo e gás no Brasil, principalmente devido à sua localização na Margem Equatorial. Esta região, que se estende ao longo da costa norte-nordeste do país, é considerada a nova fronteira de petróleo brasileira e tem um potencial bilionário, podendo até dobrar as reservas do Brasil.
A Margem Equatorial é uma vasta área que abrange cinco bacias marítimas: Foz do Amazonas (Amapá/Pará), Pará-Maranhão (Pará/Maranhão), Barreirinhas (Maranhão/Piauí), Ceará (Ceará), Potiguar (Rio Grande do Norte).
Estudos indicam que essa região pode conter mais de 30 bilhões de barris de petróleo, o que a coloca em patamar de “novo pré-sal”. Essa riqueza é essencial para o futuro energético do Brasil. Veja o papel de cada estado:
Amapá e Pará: São os estados mais a oeste da Margem Equatorial e abrigam a Bacia da Foz do Amazonas, que é a parte mais polêmica e promissora da Margem Equatorial.
A Petrobras tem grande interesse em perfurar poços na Bacia da Foz do Amazonas, com estimativas de volumes recuperáveis em bilhões de barris.
Apesar dos desafios ambientais e da necessidade de licenciamento do Ibama, senadores e o governador do Pará têm defendido a exploração na região, visando a redução de desigualdades e o financiamento da transição energética.
Maranhão: Possui a Bacia de Barreirinhas e parte da Bacia do Pará-Maranhão. A ANP (Agência Nacional do Petróleo) já afirmou que o Maranhão tem grande potencial para ser um produtor nacional de petróleo e gás, com dados indicando presença de gás na Bacia de Barreirinhas e um sistema petrolífero já existente.
A exploração de gás em terra (onshore) já é uma realidade no estado com empresas como a Eneva.
A exploração na Margem Equatorial pode atrair novos investimentos e ser estratégica para a exportação da produção, com o Porto do Itaqui se destacando como um ponto chave de logística.
Piauí: Compartilha parte da Bacia de Barreirinhas com o Maranhão e está posicionado para ser um dos estados mais beneficiados pela produção de petróleo e gás na Margem Equatorial.
Ceará: Abriga a Bacia do Ceará, uma área com descobertas promissoras de reservas de petróleo em alto-mar. Embora sua produção atual seja pequena em comparação com a nacional, o estado tem potencial para uma revolução na atividade com a exploração em águas profundas. A Bacia do Ceará foi uma das áreas mais atrativas em rodadas de licitação anteriores da ANP.
O estado também sediará eventos importantes, como o “Oil & Gas Summit” em 2025, para fomentar o debate sobre a exploração na Margem Equatorial.
Rio Grande do Norte: Abriga a Bacia Potiguar, uma bacia tradicionalmente produtora de petróleo, tanto em sua porção emersa quanto marítima.
O estado possui campos maduros (onshore) que estão passando por revitalização, e empresas como a Aura Minerals estão fazendo investimentos significativos na produção de ouro (como na mina Borborema, que também tem potencial de gás associado) na região, com técnicas de mineração mais sustentáveis.
O Rio Grande do Norte tem um papel decisivo na estratégia brasileira de aumentar a produção de petróleo nos próximos anos, com o estado à frente do processo de revitalização de campos e com experiências exitosas na exploração.