A decisão do Copom de aprovar uma alta histórica na taxa Selic (de 1,5 ponto, a maior desde 2002) na reunião de quarta-feira, 27, não chegou a surpreender o mercado, mas é o prenúncio das reorientações de investimentos em todo o Brasil.
A decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central elevou a Selic para 7,75% ao ano. A expectativa é que o movimento da taxa continue em ascendência como estratégia para driblar os indicadores de inflação, que deve alcançar 9,5% em 2021, conforme as projeções de economistas consultados para o Relatório Focus do BC.
Com a inflação anual bem acima da meta de 3,75% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (mesmo considerando a tolerância de 1,5 ponto percentual para cima). O Copom projeta também, para o cenário básico, uma alta média de preços para 4,1% em 2022 e de 3,1% em 2023, considerando que as ações de controle estipuladas pelo Banco Central serão bem sucedidas.
Os tempos de baixa Selic podem ter ficado para trás. No pior momento da crise sanitária provocada pela Covid-19, a taxa foi estipulada em 2% como tentativa de estimular o consumo. Mas a recuperação econômica prevista com o arrefecimento da pandemia combinou com a alta especialmente acentuada de preços de alimentos, além da desvalorização do real frente ao dólar e da expectativa de piora na crise hídrica.
Esse cenário já era verificado em junho deste ano, quando o Copom iniciou o movimento de elevação da Selic. Mas as previsões foram se tornando mais pessimistas frente à desconfiança também quanto ao risco fiscal, em função da decisão do governo federal de furar o teto de gastos públicos na última semana.
Em nota que oficializa a decisão do Copom esta semana, o BC explicou: “Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação, aumentando a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico.”
A partir de agora, o Copom já sinaliza para o fechamento da Selic em 8,75% em 2021, em 9,5% em 2022 e e terminando 2023 com 7%.
Crescimento econômico
A avaliação do Banco Central, segundo o Relatório de Inflação referente ao balanço até setembro deste ano, é de que o cenário econômico é desafiador para mercados emergentes, o que inclui o Brasil.
Apesar disso, dados relativos à retomada de empregos (conforme o Investimento Por Aí noticiou ontem, com ênfase para os resultados positivos no Nordeste) e à normalização da indústria servem como alento para os investidores pelo menos no curto prazo.
Investimentos em commodities, cujos preços no mercado internacional continuam em alta, também favorecem o crescimento econômico brasileiro, embora sejam um fator adicional de pressão sobre a inflação. O Banco Central trabalha com a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 4,7% em 2021 e de 2,1% em 2022.
No segundo trimestre de 2021, o PIB sofreu recuo de 0,1% frente ao trimestre anterior, pressionado pela agropecuária (que havia alcançado resultados recordes de safra no primeiro trimestre) e pela indústria, onde a falta de insumos exerce impacto considerável, com ênfase para o segmento automobilístico.
Já o setor de serviços segue em alta. A retomada do turismo doméstico é um dos setores positivamente afetados. O comércio também segue com perspectiva de normalização para níveis anteriores à pandemia, a partir principalmente do pagamento elevado do Auxílio Brasil e de recursos injetados nas famílias pelos benefícios trabalhistas de fim de ano.
Da Redação