Por Juliana Schincariol e Alessandra Saraiva
Para Valor Econômico – Rio
Enquanto busca um reposicionamento como instituição de fomento, à semelhança de pares internacionais, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) seguirá com a estratégia de redução da carteira de participações. Segundo o presidente da instituição, Gustavo Montezano, a ideia é que o banco não repita a postura do passado, quando atuou como uma “máquina de empréstimos”.
Desde o início da gestão do economista, já foram vendidos cerca de R$ 80 bilhões em títulos como debêntures da Vale e ações da Petrobras. Atualmente, a carteira do banco de fomento é avaliada entre R$ 70 bilhões e R$ 75 bilhões, o que representa aproximadamente 70% do patrimônio do BNDES – de R$ 110 bilhões após o pagamento de dividendos.
“São posições especulativas, como Petrobras, JBS e Eletrobras. Não podemos gerenciar um banco que depende da Petrobras para ter capital disponível”, afirmou Montezano, ao participar do evento Latin America Investment Conference (LAIC), promovido pelo Credit Suisse.
Novas vendas serão feitas de forma prudente e dependem de “janelas do mercado”, que são afetadas em ano eleitoral, caso de 2022. “Vamos fazer [vendas] o máximo possível até o fim [do ano]. Espero que a próxima gestão do BNDES, seja de qual linha for, continue com essa agenda, para o bem do banco e do Brasil”, afirmou.
A busca por um novo banco de fomento não ocorre apenas no Brasil. Há um movimento de reposicionamento global de instituições. Essas organizações em sua maioria surgiram após a Segunda Guerra Mundial, com missão de ajudar a reconstruir os países. “Esses bancos vão retomar agora protagonismo mas de forma diferente do que foi no passado”, afirmou.
Indicado pelo governo Bolsonaro, Montezano disse que se manterá no cargo até o fim do ano e afirma esperar que o banco pode fazer muito mais pela sociedade. “Independente do vento político para frente, espero que o banco possa continuar a ser tratado com carinho e maximizado.”
Na crise do coronavírus, o banco foi seletivo no apoio a grandes empresas e deu ênfase para as menores, algo que deve continuar, na visão de Montezano. O papel de financiador do banco de fomento não impede que atue como estruturador de projetos, acrescentou.
A agenda de projetos de infraestrutura do BNDES inclui a concessão de agentes administradores de portos. No dia 25 de março está marcado o leilão da Codesa, em Vitória (ES), e no fim do ano deve ser realizado o do porto de Santos e São Sebastião. “Toda a agenda de saneamento está andando e temos uma agenda ampla de rodovias, de um volume mandatado de 12 mil a 14 mil quilômetros”, afirmou o presidente do banco de fomento. “O grande gargalo são os agentes operadores. O trabalho dos banqueiros no setor produtivo é montar agentes que possam atuar no mercado”, acrescentou.