Jornalismo econômico para a inovação no Nordeste -
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21 de outubro de 2025 15:18

Com mercado aquecido no Nordeste, construção civil abraça sustentabilidade e novas tecnologias

Com mercado aquecido no Nordeste, construção civil abraça sustentabilidade e novas tecnologias

Maior feira do setor, realizada em Salvador, sediou debates e apontou tendências para o futuro do mercado na região
A ConstruNordeste aconteceu em Salvador | Foto: Divulgação

Nem só de negócios e exposição de marca se faz um evento setorial. A ConstruNordeste 2025, realizada nos últimos dias 15 a 17 de outubro no Centro de Convenções Salvador, sediou outros eventos como o 3º FICONN – Fórum de Inovação da Construção Nordestina, 2º Fórum Baiano de Concessões e PPPs, 3º Seminário ESG e Sustentabilidade do Setor da Construção,  seminários de normas técnicas, Hub da Construção, entre outros. Esses espaços promoveram painéis, talks e rodada de negócios ao longo dos três dias e se dedicaram a colocar no centro da pauta os desafios, avanços, caminhos e soluções para todo o universo da indústria da construção.

Casas pré-fabricadas: modelo já é realidade

Pelo 3º FICONN (Fórum de Inovação da Construção Nordestina), cujo tema foi “Avanços e desafios para Industrialização da Construção Civil no Brasil”, o destaque foi a palestra “Construção industrializada: a casa como produto”, no qual o diretor de Engenharia e Operações da Tecverde, Stephan Constantino, apresentou a metodologia da empresa para construção industrializada, tratando a habitação como um produto padronizado e escalável. “Com foco nos 5Ps (Produto, Processo, Pessoas, Plataforma e Performance), o framework da Tecverde busca otimizar toda a cadeia construtiva – do projeto à entrega – garantindo velocidade, qualidade e controle em empreendimentos de grande escala”, apresentou o engenheiro.

A Tecverde desenvolve e aplica projetos e soluções para o programa habitacional do Governo Federal Minha Casa Minha Vida, entre outros, e apresentou dois cases relacionados ao programa: o Parque Palafitas, de Santos (SP), no qual mostrou os desafios do entorno do local onde foi alocado; e um empreendimento habitacional no bairro Baleia Verde, em São Sebastião (SP), que destaca a escalabilidade de soluções. No entanto, segundo Stephan, embora o mercado já aceite a tecnologia, ainda enfrenta dificuldades para aderir a industrialização: “já passamos do momento difícil de aceitação, sentimos que isso está superado, mas quando falamos em industrialização, o cliente nunca está preparado para pagar mais por isso, pela velocidade, maior nível de qualidade. A dificuldade que a gente tem hoje é relacionada à doutrinação do cliente, pois o cliente precisa se adaptar para os avanços”, analisou.

O modelo de negócios da Tecverde está voltado para construtores, B2B, incorporadores e, mesmo de olho em empreendimentos próprios, o foco ainda é externo, como o Minha Casa Minha Vida (maior mercado da empresa; 95%). O executivo explica que o momento é de conscientização do mercado financeiro. “É entender o que precisa ser feito para vingar: adaptar processos, contratos, responsabilidades, timings; definir muito bem os papéis e o mercado entender que para colher, precisa mudar a maneira como enxerga. O movimento da industrialização está acontecendo no momento certo e à medida em que as regulamentações e certificações começarem a exigir e cobrar dos empresários, essas soluções serão chave”, concluiu Stephan.

Novas tecnologias no cerne dos negócios imobiliários

Na Arena Cimatec BIM, montada no estande do Senai Cimatec, o tema central foi a inovação no setor. Durante a plenária “Mercado imobiliário de Salvador: Inteligência Artificial (IA) como ferramenta de diagnóstico e prospecção”, os engenheiros Maurício Felzemburgh e Bruno Leão, da empresa Build Up Tecnologia da Construção e professores do Senai Cimatec, fizeram uma amostra de como a aplicação de IA no mercado imobiliário da capital baiana gerou resultados práticos significativos, oferecendo novas ferramentas para investidores e incorporadoras. “Através de metodologias de aprendizado supervisionado e não supervisionado, foi possível desenvolver modelos preditivos de preços e identificar produtos imobiliários típicos, revelando oportunidades de negócio e reduzindo riscos em novos empreendimentos. São ferramentas primordiais para o mercado imobiliário, para definir imóveis para moradia (apartamentos) a partir de dados já existentes”, definiu Bruno Leão.

A análise identificou nove perfis de imóveis (clusters) na capital baiana, agrupados em três categorias principais: popular/antigo (até R$ 6 mil/m²), médio padrão (R$ 7 mil a R$ 10 mil/m²) e luxo (acima de R$ 11 mil/m²). Um dos insights revela o fenômeno da compactação urbana, onde apartamentos menores em áreas nobres atingem os maiores valores por metro quadrado. “A definição desses clusters a partir da tendência de Salvador (verticalização) revelou lacunas no mercado, identificando nichos com potencial inexplorado e menor concorrência. E isso pode ter relação com duas coisas: o mercado não está inovando ou o momento econômico. E para atender essa primeira lacuna, a IA pode ajudar e auxiliar o mercado a fazer essas leituras para responder dúvidas do incorporador. É um modelo que consegue uma precisão maior para definição de valores, por exemplo”, explicou Maurício Felzemburgh.

Além de mapear o mercado existente, a tecnologia se mostrou crucial para prospectar o futuro. A IA conseguiu detectar demandas não atendidas, apontando nichos com potencial inexplorado. Para os desenvolvedores, isso se traduz na capacidade de otimizar projetos – testando virtualmente diferentes configurações de plantas – e minimizar riscos, assegurando que novos lançamentos estejam alinhados com as expectativas reais do consumidor. “Em um mercado com diferentes níveis de formalização e transparência, a IA surge como um elemento crucial para descomplicar a complexidade e orientar decisões estratégicas com base em evidências”, destacaram os executivos da Build Up, empresa que tem em seu portfólio a análise de dados, estudos de viabilidade e avaliação que balizou o anúncio de venda da Casa de Itália, em Salvador.

Sustentabilidade como vetor de oportunidades

Encerrando o 3º Seminário ESG e Sustentabilidade do Setor da Construção, o painel “Sustentabilidade na prática: Casos de sucesso de empreendimentos certificados” debateu a importância da sustentabilidade no setor da construção e a destacou dentro de um cenário de oportunidades, no qual agrega valor e promove a valorização dos negócios e o aumento de atratividade para o setor. Em sua explanação, o arquiteto Antonio Macêdo Filho desmistificou a complexidade dos processos de certificação e mostrou como incorporadoras podem transformar ESG em vantagem competitiva. “ESG não são três coisas isoladas, mas um conceito: governança sócio ambiental. E o foco do mercado deve ser em busca de favorecer investimentos em negócios que tenham essa visão”, analisou o consultor, considerado um dos precursores da sustentabilidade em edificações no Brasil.

Foto: Divulgação

Além de casos reais de empreendimentos que alcançaram certificações ambientais no Brasil, demonstrando a viabilidade e os benefícios tangíveis da sustentabilidade na construção civil, Antonio Macêdo Filho falou sobre instrumentos e indicadores, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODSs); os Escopos 1, 2 e 3 de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) definidas pelo GHG Protocol; e destacou os 12 indicadores de sustentabilidade na construção, adotados pelo método da “Sustentabilidade Possível”, desenvolvido pelo arquiteto com mais de 25 anos de experiência.

“Trata-se de uma abordagem prática que desmitifica a sustentabilidade, combatendo três obstáculos que são o custo como barreira, a complexidade do processo e a falta de profissionais especializados”, explicou. Para isso, a metodologia da “Sustentabilidade Possível” adota um processo estruturado em cinco etapas (diagnóstico e estudo de viabilidade técnica; definição de estratégias; plano de ação com metas de desempenho; implementação e documentação; auditoria e certificação), a partir dos 12 indicadores fundamentais que servem como bússola para avaliar a sustentabilidade real de empreendimentos na construção civil.

Indo além dos aspectos ambientais tradicionais, a lista integra métricas de eficiência energética e hídrica com critérios sociais e econômicos. Desde o uso de fontes renováveis de energia e a qualidade do ar interior até a gestão de resíduos e a escolha de materiais de baixo impacto, os indicadores abrangem também acessibilidade, condições de trabalho no canteiro de obras e o impacto positivo na comunidade local. Completam o quadro a análise do custo total da propriedade, a resiliência às mudanças climáticas e o compromisso com a inovação contínua, desenhando um panorama completo do que significa construir de forma verdadeiramente sustentável. “São pontos cruciais baseados em padrões internacionais de avaliação de desempenho ESG para a construção”, pontuou o executivo que atua com consultorias, mentorias, cursos e produção de conteúdo.

Leia também: ConstruNordeste discute impactos e perspectivas da construção civil na região

Resultados da ConstruNordeste 2025

A ConstruNordeste 2025 reafirmou o protagonismo do Norte e Nordeste no cenário nacional da construção civil, reunindo mais de 35 mil visitantes, 200 estandes e 12 estados representados em três dias de feira no Centro de Convenções Salvador. Com 76 palestrantes e 70 horas de conteúdo sobre industrialização, sustentabilidade e transformação digital, o evento também se destacou pelo impacto econômico: a rodada de negócios registrou 172 reuniões e gerou uma estimativa de R$ 18 milhões em negócios, envolvendo grandes redes varejistas e construtoras como Leroy Merlin, MRV e Sertenge. Com mais de 1.500 profissionais mobilizados e mais de 20 patrocinadores, a feira consolidou-se como a maior do segmento na região, reforçando seu papel como catalisadora de negócios e inovações para o setor.

Promovida pela Bahia Eventos, com apoio institucional do Sinduscon-BA, da FIEB e do Sebrae, a feira renovou o compromisso de fortalecer a cadeia produtiva do setor. Na avaliação de Bruno Portela, head da Bahia Eventos, o evento ampliou sua capacidade de gerar negócios e reforçou o papel de Salvador no mapa da construção civil brasileira. “O que move a feira é entregar valor imediato para quem constrói: conexões, conteúdo aplicável e oportunidades reais de negócio”, destacou. A ConstruNordeste 2026 já tem data marcada: de 12 a 14 de agosto de 2026, no Centro de Convenções Salvador.

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