Em um contexto de metas climáticas no âmbito da COP30, o Investindo Por Aí selecionou 10 inovações pertencentes ao universo do evento, mas que possuem um DNA 100% nordestino. Na lista a seguir separamos startups, projetos e produtos que fazem uso da tecnologia e inovação para promover um desenvolvimento mais sustentável para a região.

1.   Reciclagem de entulho

No primeiro item da lista vamos até Alagoas para destacar um projeto inovador de reciclagem. A iniciativa, liderada pela empresa Urban Ambiental e com apoio do Banco do Nordeste (BNB), faz reciclagem de resíduos provenientes da construção civil, promovendo a economia circular ao reaproveitar esses entulhos, seja no próprio setor da construção civil ou em obras de infraestrutura e pavimentação. Mensalmente o projeto está retirando cerca de 136 toneladas de entulho nas regiões do agreste e sertão do estado.

A partir do financiamento do Banco do Nordeste, por meio de linha de crédito destinada aos setores de comércio e serviços, a Urban Ambiental adquiriu novos equipamentos e montou a usina, que já registrou um aumento de 40% na produtividade desde sua inauguração. Em fevereiro deste ano o projeto implantou a primeira Usina de Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (RCD) de Arapiraca.

O trabalho da empresa não visa apenas a uma nova modalidade de mercado, ela combate o descarte irregular desses resíduos, que quando jogados fora de maneira indevida  podem contaminar o solo, além de gerar focos de doenças e desvalorizar a área pública.

2.   Startup Ih Alagou

O segundo item da nossa lista vem de um importante projeto de Pernambuco. Recife, conhecida como a “Veneza brasileira”, historicamente sofre com alagamentos na cidade em tempos de chuva. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a capital pernambucana é a 16ª colocada no ranking global de exposição a eventos extremos, como enchentes e elevação do nível do mar. Pensando nesse problema que estudantes criaram a startup Ih Alagou, desenvolvido durante o desafio Hacker Cidadão 11.0, promovido pela Prefeitura de Recife.

A ideia está em um dispositivo de baixo custo e alta durabilidade com eletrônica e conexão à internet. O mecanismo fica instalado em canos de medição nas ruas, assim, o equipamento envia informações em tempo real a um banco de dados, permitindo monitorar pontos de alagamento com escalabilidade. Com isso, as autoridades podem ser acessadas por gestores públicos e servir de base para alertas enviados à população.

O projeto ganhou diversos prêmios, incluindo o 1º lugar no Hacker Cidadão. Além disso, a iniciativa integrou o Startup20, vinculado ao G20 e está selecionada para a fase final do BNDES Garagem.

3.   MicroCiclo

No Rio Grande do Norte, uma startup formada apenas por mulheres chama a atenção de toda a comunidade científica. Com surgimento em 2019, o grupo é uma divisão acadêmica de base biotecnológica, fundada por pesquisadoras da UFRN e tem como objetivo desenvolver soluções para o tratamento de efluentes oleosos industriais. Assim, elas produzem produtos compostos por bactérias não patogênicas e degradadoras de frações do petróleo.

Assim como as demais startups, a empresa conta com iniciativas de apoio e programas de aceleração e redes de empreendedoras, conquistando 8 editais desse tipo de ação. Além disso, a MicroCiclo já conquistou mais de R$ 800 mil de capital investido no projeto e 4 prêmios, sendo 3 deles internacionais e 1 nacional.

4.   Biofluid

Do Maranhão, outra startup faz uso de fluidos biodegradáveis para buscar soluções inovadoras. Assim, A Biofluid é uma empresa maranhense que desenvolve uma poderosa solução para o segmento de usinagem, que tem como principal matéria prima o coco babaçu.

O produto da Biofluid é um fluido de corte 100% biodegradável e de origem vegetal, que atende aos critérios de normas e legislações ambientais para uso nas indústrias de transformação, diminuindo o desgaste prematuro dos equipamentos e a frequente quebra da ferramenta de corte. Além de, segundo a empresa, diminuir o consumo da corrente elétrica, gerando menor custo agregado às plantas industriais dos setores.

Hoje, a startup faz parte do Inova Maranhão, programa do governo do estado, vinculado à Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI) que tem como objetivo estimular junto à sociedade maranhense o desenvolvimento de ações voltadas para a inovação, empreendedorismo, desenvolvimento tecnológico, desenvolvimento sustentável e inovação social.

5.   GreenExpan

Um pouco semelhante ao primeiro item da lista, a inovação paraibana também é voltada para a construção civil, mas de produtos bem distintos. Desenvolvido por pesquisadores da UFPB, a GreenExpan desenvolve agregados leves regionais a partir de resíduos industriais — materiais granulares, geralmente inertes, formados por grãos de dimensões variadas.

O objetivo do produto é reduzir significativamente as emissões de CO2 e melhorar o desempenho dos materiais utilizados na construção civil. Além disso, os agregados também tiveram aplicabilidade em áreas como paisagismo, agricultura e gestão de recursos hídricos, principalmente no controle de lixiviação de metais pesados.

Por fim, a startup tem o apoio da Agência UFPB de Inovação Tecnológica (INOVA) e de instituições como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e a Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (FAPESQ).

6.   Capim Pimenta Startup

O sexto item da lista também é um produto proveniente de startups, mas esse vem do estado da Bahia. A Capim Pimenta Cosméticos Naturais fez uma linha de itens cosméticos veganos e sustentáveis.

A startup une tecnologia, sustentabilidade e inovação ao utilizar ingredientes da biodiversidade nacional e investir em tecnologia  e pesquisa sobre bioativos naturais para tratar condições de pele da população brasileira, como acne, melasma, rosácea e oleosidade.

No último mês de julho, a empresa ganhou o primeiro lugar no Nordeste On (NEON), maior evento de inovação e empreendedorismo do Nordeste. A startup faz parte do programa Árity Incubadora do Parque Tecnológico da Bahia, vinculado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), desde 2023. A ideia do projeto, além de ajudar na realização de ideias inovadoras, é incentivar o desenvolvimento econômico e socioambiental da Bahia.

7.   Acqualog

Fortaleza é uma das capitais brasileiras que mais possuem startups no Brasil, com cerca de 406 negócios inovadores segundo o Sebrae Startups Report Brasil 2024. Sendo assim, não foi simples escolher apenas um projeto para integrar esta lista, porém, como se faz necessário, a Acqualog ocupa a sétima posição do ranking.

A Acqualog faz um monitoramento acessível para água potável em áreas rurais. O projeto faz uso de sensores para medir remotamente variáveis hidrométricas hidrométricas (nível, vazão e pressão) e qualitativas (pH e cloro). A ideia da startup é reduzir custos de análise, prevenir escassez hídrica e aprimorar a eficiência do monitoramento da água de consumo.

Em junho deste ano, a startup ficou em segundo lugar na premiação do Ceará Mais Digital, levando um prêmio de R$15 mil reais.

8.   Projeto Centelha 2

Diferentemente dos itens anteriores, o escolhido para Sergipe não se trata de uma startup, mas de um programa que tem como objetivo oferecer suporte financeiro e institucional para impulsionar um ecossistema de inovação que fortalece a competitividade sergipana e dinamiza a economia local. São 9 startups selecionadas que desenvolvem uma série de projetos, indo de kits de robótica educacional até cosméticos sustentáveis e tecnologias para melhorar solos agrícolas.

O programa Centelha 2 é desenvolvido em parceria com a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) e possui quase R$5 milhões investidos para apoiar 88 projetos inovadores no Nordeste, com Sergipe se destacando pelo dinamismo do ecossistema local.

9.   Hubs de Hidrogênio Verde

Fechando o giro pelos estados nordestinos, chegamos ao Piauí. Assim como foi feito em Sergipe, não escolhemos uma única startup, mas uma tendência que vem se destacando, nesse caso, os hubs de hidrogênio verde. Apesar de ser uma tendência no Nordeste e até mesmo no Brasil, o Piauí vem se destacando como um grande expoente da matriz energética limpa no país.

Conforme trouxemos em série especial sobre o hidrogênio verde no Nordeste, no Piauí, o governador Rafael Fonteles também tem planos ambiciosos. Ele acredita que o hidrogênio verde pode representar a “verdadeira industrialização do Nordeste”, por meio do aproveitamento do sol, vento e água abundantes na região.

Segundo o site Investe Piauí, o projeto do estado prevê 3 hubs de H2V, que serão estabelecidos em locais estratégicos do estado, levando em consideração a existência de demanda, recursos renováveis, baixo preço da eletricidade, infraestrutura disponível e contexto hídrico não conflituoso.

10.   Instituto Robótica Sustentável

O último item da lista contempla um projeto nascido em escola pública e que tem a reciclagem como pivô da ideia. Criado pelo professor André Cardoso em 2015, no colégio que ele próprio lecionava, a ideia era, junto dos alunos, reaproveitar caixas de papelão e peças usadas de computador para montar robôs, brinquedos, videogames, artes e até consertavam  equipamentos eletrônicos com peças sobressalentes, reduzindo custo.

Com o tempo o projeto cresceu e em 2022 passou a ser uma organização sem fins lucrativos chamada Instituto Robótica Sustentável. O projeto faz a coleta e a separação de resíduos eletrônicos, reutilizando-os para itens de robótica. Em 2023 foram recolhidas 15 toneladas de resíduos, 30 empresas beneficiadas e 7 pontos de coletas voluntárias, e só em janeiro de 2024, mais de 1,2 toneladas.

Este texto integra a série de reportagens especiais do Investindo Por Aí sobre a COP30