A Inpasa Brasil, uma das maiores biorrefinarias da América Latina, anunciou a duplicação de sua unidade industrial instalada em Balsas (MA). Com capacidade atual para processar cerca de 3 mil toneladas de milho por dia, a planta passará a operar com o dobro desse volume até o fim de 2025. A expectativa é de que o investimento gere até 4,5 mil empregos diretos e indiretos e transforme a dinâmica econômica e energética da região.
O que é a Inpasa e como ela funciona
Especializada na produção de etanol a partir do milho, a Inpasa opera com um modelo de biorrefinaria que alia eficiência industrial, valorização de coprodutos e redução de impactos ambientais. Entre os principais produtos estão:
- Etanol anidro (misturado à gasolina) e etanol hidratado (utilizado diretamente como combustível veicular);
- DDGS (Dried Distillers Grains with Solubles), farelo rico em proteína para alimentação animal;
- Óleo de milho bruto, destinado às indústrias alimentícia e de biodiesel;
- Energia elétrica gerada a partir da queima de biomassa (casca de milho e cavaco de madeira).
A planta de Balsas adota um sistema de cogeração que aproveita a biomassa excedente do milho para gerar energia térmica e elétrica. Isso reduz a dependência de fontes externas e torna o processo mais sustentável. Atualmente, a unidade já é autossuficiente em energia elétrica — e a duplicação deve ampliar essa capacidade, permitindo inclusive o fornecimento para a rede local de distribuição.
Dados técnicos da operação maranhense
Hoje, a unidade de Balsas tem capacidade para produzir cerca de 500 milhões de litros de etanol por ano, a partir de aproximadamente 1 milhão de toneladas de milho. Com a duplicação, a produção poderá chegar a 1 bilhão de litros anuais, posicionando-se entre as maiores do Brasil fora do eixo Centro-Oeste.
A tecnologia utilizada é a dry milling, que consiste na moagem a seco dos grãos, seguida de hidrólise e fermentação. Esse método é considerado mais eficiente em termos de aproveitamento energético e menos intensivo no uso de água.
- Consumo de água: cerca de 2,8 litros por litro de etanol produzido — abaixo da média nacional;
- Emissões evitadas de CO₂: estimativa de redução de até 2,5 toneladas de CO₂ equivalente por tonelada de milho processada;
- Rendimento médio: 400 litros de etanol, 300 kg de DDGS e 15 kg de óleo por tonelada de milho.
Papel estratégico para o Maranhão
A instalação da Inpasa em Balsas marca um novo momento para o sul maranhense. A cidade integra o Matopiba — fronteira agrícola que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia —, região com forte produção de grãos, mas ainda com baixa industrialização local. A biorrefinaria agrega valor ao milho, reduz a exportação in natura e amplia a geração de renda regional.
Segundo Flávio Peruzo P. Gonçalves, vice-presidente Comercial e de Operações da Inpasa, a escolha por Balsas envolve posição logística estratégica, oferta de milho e apoio institucional.
“Vamos duplicar esse parque industrial para consumir até 2 milhões de toneladas de grãos por ano. Isso movimenta transporte, armazenamento, serviços e, claro, coloca o Maranhão no mapa das bioenergias”, afirma.
Peruzo é um dos principais executivos da companhia, com atuação na expansão das unidades no Brasil e no Paraguai. Com trajetória sólida no setor agroenergético, ele lidera a agenda de crescimento da Inpasa com foco em eficiência, sustentabilidade e inovação.
Impacto ambiental, biodiversidade e bioeconomia
A bioenergia tem se consolidado como alternativa à dependência de combustíveis fósseis. Segundo dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), o etanol de milho pode reduzir em até 70% as emissões de gases de efeito estufa em relação à gasolina.
Além disso, os coprodutos — farelo e óleo — impulsionam cadeias produtivas como a criação de aves, suínos e a produção de biodiesel. Em um cenário de transição energética, o modelo adotado pela Inpasa fortalece a bioeconomia como estratégia nacional de desenvolvimento, especialmente em regiões fora dos grandes polos industriais.
Entretanto, especialistas destacam que a industrialização acelerada no campo também exige atenção aos impactos ambientais. A ativista climática e estudante de engenharia de energias renováveis Mikaelle Palmares ressalta que o Nordeste ocupa posição estratégica no novo modelo energético brasileiro. “Vejo o Nordeste como uma das regiões mais promissoras do Brasil para liderar a transição para uma economia verde”, destaca. Ao mesmo tempo, ela pondera que “apesar dos avanços, há desafios importantes a serem pontuados. A instalação de grandes complexos eólicos e solares precisa considerar os impactos sobre a biodiversidade local”.
Com o avanço do projeto e articulação entre setor público e privado, a expectativa é de que o sul do estado se consolide como um dos principais polos agroindustriais do Nordeste. A inauguração da nova fase da planta está prevista para contar com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin e outras autoridades federais, simbolizando o início de um novo ciclo para a economia verde no Maranhão.