Enquanto o Nordeste se destaca cada vez mais no cenário nacional, Sergipe emerge como um polo de inovação que alia tecnologia, sustentabilidade e desenvolvimento regional. Com quase R$ 5 milhões investidos no Programa Centelha 2, em parceria com a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), o estado tem fomentado startups capazes de transformar ideias inovadoras em soluções práticas para desafios locais — e com potencial para impactar toda a região.
O Programa Centelha 2 oferece suporte financeiro e institucional para impulsionar um ecossistema de inovação que fortalece a competitividade sergipana e dinamiza a economia local. As nove startups selecionadas desenvolvem projetos variados, que vão desde kits de robótica educacional até cosméticos sustentáveis e tecnologias para melhorar solos agrícolas.
Os kits de robótica educacional combinam peças, componentes eletrônicos, sensores e softwares de programação, permitindo que alunos criem e programem seus próprios robôs. Enquanto algumas iniciativas usam kits prontos, como os da LEGO Education, outras adotam materiais reciclados e de baixo custo, estimulando a criatividade e a consciência ambiental.
No campo dos cosméticos sustentáveis, os produtos são feitos com ingredientes naturais, como óleos essenciais e extratos vegetais, além de embalagens recicláveis ou biodegradáveis. Os processos produtivos buscam reduzir o consumo de água e energia para minimizar o impacto ambiental. Exemplos incluem máscaras faciais de biocelulose e ácido hialurônico obtido por fermentação natural.
A Sudene, em parceria com instituições como a Fapitec (Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe) e a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), cria um ambiente favorável para o desenvolvimento dessas iniciativas, por meio de capacitações e apoio financeiro. Mais que resolver problemas locais, esses projetos têm potencial para aumentar a competitividade do Nordeste como um todo.
O papel estratégico da Sudene e a escolha das startups
Manoel Barreiros, coordenador de Tecnologia e Inovação da Sudene, destaca que “um dos eixos do Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste, que guia as políticas públicas da região, é o apoio à inovação”. Ele explica que a inovação permeia diversos setores da economia e da sociedade, e que a Sudene tem buscado fomentar essa inovação em todos os estados sob sua atuação.
No edital Centelha 2, a Sudene, junto com as fundações estaduais, financiaram startups que atuam em áreas estratégicas. Barreiros destaca que a Sudene também lançou editais focados em inovação social e turismo, reforçando seu compromisso com o desenvolvimento sustentável e inclusivo da região.
Entre os temas priorizados no edital estão tecnologias como:
- Automação: uso de máquinas para executar tarefas sem intervenção humana;
- Big data: análise de grandes volumes de dados para gerar informações relevantes;
- Biotecnologia: uso de organismos vivos para criar soluções em saúde, agricultura e meio ambiente;
- Blockchain: registro digital seguro e descentralizado de informações;
- Inteligência artificial: sistemas que simulam a capacidade humana de aprender e tomar decisões;
- Machine learning: computadores que aprendem automaticamente a partir de dados;
- Internet das coisas: dispositivos conectados que trocam informações entre si;
- Nanotecnologia: manipulação da matéria em escala extremamente pequena;
- Realidade aumentada: sobreposição de elementos virtuais ao ambiente real para enriquecer experiências.
Essas tecnologias são aplicadas em setores estratégicos, como agronegócio, energia, educação, saúde, tecnologia da informação e telecomunicações. Por exemplo, a biotecnologia pode promover uma agricultura mais sustentável, enquanto a internet das coisas ajuda a otimizar o consumo de água e energia.
As startups foram selecionadas para enfrentar os principais desafios que afetam a competitividade do estado, com soluções alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente nas áreas de sustentabilidade ambiental, educação tecnológica e inovação social.
Barreiros explica que a Fapitec buscou estimular o empreendedorismo inovador, oferecendo capacitação e apoio financeiro não reembolsável, chamado de subvenção econômica, para que as startups desenvolvessem produtos ou processos inéditos. Esse recurso facilita a criação de empresas de base tecnológica, que usam ciência e tecnologia para transformar setores econômicos tradicionais, aumentar a produtividade, gerar empregos especializados e promover o desenvolvimento regional.
Em Sergipe, essas organizações desempenham papel essencial na modernização da economia local, tornando-a mais competitiva e sustentável.
Impacto econômico e social
- Foram investidos quase R$ 5 milhões na Região para apoiar 88 projetos inovadores no Nordeste, com Sergipe se destacando pelo dinamismo do ecossistema local.
- O programa contribui para fortalecer o ambiente de inovação, atraindo empresas, gerando empregos e renda, e promovendo o desenvolvimento regional sustentável.
- A iniciativa vai além do apoio às startups, buscando construir um ambiente sólido para negócios inovadores que aumentem a competitividade do Nordeste.
- O programa impulsiona a diversificação econômica, fortalecendo setores estratégicos como agropecuária, energia renovável e tecnologia da informação, fomentando o crescimento econômico sustentável na região.
Desafios que ainda precisam ser superados
Apesar dos avanços, os obstáculos persistem, especialmente em termos de infraestrutura e capacitação. A ausência de incubadoras, espaços de coworking e incentivos fiscais adequados limita o potencial de crescimento das startups. Além disso, a falta de integração entre setor público, privado e comunidades locais dificulta a escalabilidade dos negócios inovadores.
Outro desafio importante é o acesso a financiamento sustentável, especialmente para empresas com foco em soluções ecológicas. A ativista climática Mikaelle Farias destaca que “incentivos mais robustos e políticas públicas eficazes são essenciais para garantir que as soluções ambientais não fiquem restritas a iniciativas pequenas e se tornem parte de uma transformação mais ampla na economia do estado.”
Por fim, a adaptação da tecnologia de ponta às necessidades regionais demanda uma mentalidade mais flexível e incentivos para inovação local. “Para os especialistas, é necessário mais do que inovação; é preciso que ela seja acessível e adaptada ao contexto de Sergipe, considerando os desafios específicos do estado”, conclui Farias.