
Nos últimos anos, o Nordeste tem diversificado sua matriz produtiva. Estados vêm adotando incentivos fiscais, infraestrutura tecnológica e parcerias com universidades para estimular empresas de base tecnológica.
A região começa a se posicionar de forma mais enérgica em cadeias estratégicas da inteligência artificial, biotecnologia, energias limpas e indústria 4.0. O movimento, não por acaso, se conecta à transição energética global e às políticas de descentralização econômica no Brasil.
Alguns setores lideram esse cenário. A chamada Energia Limpa é um deles. O Ceará articula um hub de hidrogênio verde, enquanto o Rio Grande do Norte atingiu 98% de matriz elétrica renovável em 2024. No Piauí estão alguns dos maiores parques solares da América Latina.
No setor de Tecnologia da Informação e IA, Pernambuco conquistou o posto de estado sede do Porto Digital, que faturou R$ 6,2 bilhões em 2024, e abriga centros de pesquisa como o CESAR.
O Ceará regulamentou o Distrito de Inovação em Saúde, em parceria com a Fiocruz, mirando a produção local de insumos estratégicos e a Bahia expande o SENAI CIMATEC Park, com projetos que conectam pesquisa acadêmica à indústria de alta complexidade.
“Estamos assistindo a uma reconfiguração da base econômica do Nordeste. Ao investir em energia limpa, tecnologia e inovação, os estados não apenas reduzem a dependência histórica do setor primário e do turismo, como também se inserem em cadeias globais de alto valor agregado. Esse movimento amplia a competitividade regional e cria condições para uma nova onda de crescimento sustentável, com geração de empregos qualificados e atração de investimentos de longo prazo”, afirma o economista Danilo Siqueira, pesquisador da Universidade Federal de Alagoas.
Cada estado opera seus próprios programas de atração. Pernambuco oferece créditos presumidos de ICMS pelo PRODEPE; o Ceará concede isenções que podem chegar a 99% via PROADE; o RN tem o PROEDI, com até 12 anos de redução de ICMS. Além disso, há políticas regionais da Sudene, que permitem redução de até 75% do IRPJ.
A diversificação econômica tem três efeitos centrais: atração de investimentos intensivos em P&D, de startups digitais a complexos de energia limpa; criação de empregos qualificados, fortalecendo a retenção de jovens formados em universidades locais. Inserção internacional: com o hidrogênio verde e as renováveis, o Nordeste aparece em cadeias globais de transição energética.
Criado para articular os nove estados da região, o Consórcio Nordeste tem incorporado cada vez mais a pauta da inovação em suas agendas. Nos últimos anos, lançou a Chamada Nordeste, em parceria com Sudene e bancos públicos, para captar investimentos estratégicos em áreas como energia renovável, hidrogênio verde, bioeconomia e data centers.
O bloco também firmou compromissos internacionais, como a adesão à meta global de triplicar a capacidade de energias renováveis até 2030, e apresentou um pacote de 246 projetos avaliados em R$ 127,8 bilhões ligados à transição energética e à indústria 4.0. Além disso, promove missões internacionais para atrair capital estrangeiro e produz estudos técnicos sobre ciência, tecnologia e inovação voltados aos desafios da região.
“Com o Consórcio Nordeste, os estados ganham escala para disputar investimentos estratégicos. Ao apresentar projetos conjuntos em energias renováveis e inovação, a região passa a ser vista não apenas como produtora de commodities, mas como um polo competitivo de tecnologia e sustentabilidade”, afirma Carlos Gabas, que lidera a articulação de ações integradas em Ciência, Tecnologia e Inovação do Consórcio.

2019
Pernambuco – Porto Digital ultrapassa 10 mil empregos diretos, consolidando-se como o maior polo de TI da região.
Rio Grande do Norte – Início da expansão eólica em larga escala, com leilões que impulsionam a matriz renovável.
Ceará – Governo lança o projeto do Hub de Hidrogênio Verde no Porto do Pecém.
2020
Bahia – SENAI CIMATEC Park avança em projetos de indústria 4.0 e biotecnologia, aproximando pesquisa e empresas.
Paraíba – Parque Tecnológico Horizontes de Inovação amplia editais e incubação de startups.
Maranhão – Casarão Tech se firma como hub de inovação em São Luís.
2021
Ceará – Fiocruz firma parceria para estruturar o Distrito de Inovação em Saúde.
Piauí – Complexo Solar São Gonçalo entra em operação, com mais de 600 MW, um dos maiores da América Latina.
Sudene (regional) – Regulamentação de benefícios fiscais com redução de até 75% do IRPJ para novos projetos.
2022
Rio Grande do Norte – UFRN expande o Metrópole Parque, abrindo espaço para startups de base tecnológica.
Alagoas – Lançamento do CIPT/Jaraguá, voltado a inovação e startups.
Bahia – Expansão do Parque Tecnológico da Bahia com novos residentes em bio, energia e TIC.
2023
Ceará – Primeiros memorandos de entendimento internacionais no Hub de Hidrogênio Verde (bp, Eletrobras).
Paraíba – Campina Grande aparece entre as cidades mais inovadoras no ranking ICE/ENAP.
Maranhão – Finep aprova R$ 14 milhões para estruturar o Parque Tecnológico Renato Archer.
2024
Pernambuco – Porto Digital fecha o ano com R$ 6,2 bilhões de faturamento e 21,5 mil empregos.
Rio Grande do Norte – Estado alcança 98% de matriz elétrica renovável, referência nacional.
Ceará – Projeto de R$ 17,5 bilhões do Brasil Fortescue no Hub de Hidrogênio Verde é aprovado.
Alagoas – Governo anuncia R$ 17 milhões em bolsas e laboratórios no CIPT.
Piauí – Decreto cria oficialmente o Parque Tecnológico do Estado.