O Governo Federal autorizou, na última quinta (22), a transferência da gestão, operação e manutenção do sistema de metrô da Região Metropolitana do Recife para a iniciativa privada. A decisão, publicada no Diário Oficial da União por meio da Resolução nº 324 do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), marca um novo capítulo na história do metrô pernambucano, que há anos enfrenta críticas por sua precariedade operacional.
Atualmente sob responsabilidade da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), vinculada ao Ministério das Cidades, o metrô passará por um processo de transição em três etapas: a transferência dos bens da União para o governo de Pernambuco, a concessão da operação à iniciativa privada e a oficialização da titularidade dos ativos pelo Estado. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) será responsável por coordenar os estudos técnicos e modelar o projeto da concessão.
A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, apoiou a medida, classificando-a como uma resposta necessária à atual situação do sistema. “O metrô está sucateado, anda a 17 km/h, coloca em risco a população. Trabalhamos desde o início do governo em busca de soluções”, afirmou. Segundo ela, reuniões quinzenais com o BNDES e a Casa Civil têm avançado na definição de um modelo de concessão que permita melhorar a infraestrutura e garantir um transporte público mais digno à população.
Inaugurado em 1985, o Metrô do Recife é um dos mais extensos do país, com 39,5 km de trilhos, 37 estações e três ramais (Centro, Sul e Curado). Mesmo com essa abrangência, o sistema sofre com falhas elétricas constantes, falta de peças para reposição de trens e paralisações frequentes, comprometendo o atendimento diário a mais de 190 mil usuários. O plano do governo é atrair investimentos privados para modernizar o sistema — incluindo reforma de estações, melhoria da sinalização e substituição de parte da frota.
Entretanto, a decisão gera ruídos. O Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (Sindmetro-PE) expressou “profunda indignação” diante da concessão. Em nota, a entidade afirmou que a medida ignora o histórico de luta dos trabalhadores por um metrô público, de qualidade e com tarifa social. O sindicato também lembrou o Acordo Coletivo Especial de Trabalho firmado em novembro de 2024 com o governo federal, que garantiu o vínculo empregatício federal dos metroviários do Recife.
O Artigo 4º da Resolução nº 324 revoga a possibilidade de criação de uma subsidiária da Superintendência Regional de Recife, o que impediria um modelo de transição semelhante ao adotado em Belo Horizonte, onde os trabalhadores foram absorvidos por uma nova empresa estatal local. O Sindmetro promete acionar oficialmente o governo federal para exigir transparência no processo e participação da categoria nas decisões.
A ausência de um cronograma definido para o leilão não impede o avanço dos trâmites. O governo de Pernambuco sinaliza que, em breve, uma proposta concreta será anunciada, após as etapas de consulta pública, elaboração do edital e recebimento de propostas. A expectativa é que a concessão traga melhorias estruturais e operacionais ao sistema, mas o embate entre o interesse público, as garantias trabalhistas e a promessa de eficiência privada deve continuar alimentando o debate sobre os rumos do transporte urbano na capital pernambucana.
