Com uma costa de mais de 8 mil quilômetros e um vasto território marítimo sob sua jurisdição, o Brasil tem na chamada “economia do mar” uma das maiores apostas para o desenvolvimento sustentável e a geração de empregos nos próximos anos. De acordo com a Marinha do Brasil, aproximadamente 25% da população nacional depende diretamente de atividades ligadas ao mar. O setor já representa cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
O conceito de economia do mar vai muito além da pesca e da navegação. Segundo a economista Andréa Bento Carvalho, autora de uma das teses mais abrangentes sobre o tema no Brasil, o setor abrange ao menos 40 tipos de atividades econômicas distribuídas em 280 municípios costeiros. São segmentos que envolvem desde o transporte marítimo, a indústria naval e a pesca até o turismo costeiro, a produção de sal e petróleo, a biotecnologia marinha e a construção civil em áreas litorâneas.
“O litoral sul concentra os maiores indicadores de população, PIB e emprego em atividades marinhas”, destaca a pesquisadora, que estima que, em 2015, a economia do mar brasileira tenha gerado mais de R$ 1,1 trilhão em PIB, com R$ 500 bilhões apenas em salários. Ao todo, os setores diretamente e indiretamente ligados ao mar empregaram cerca de 19 milhões de pessoas naquele ano.
Demanda em alta e vocação natural
Os números chamam atenção para a importância estratégica do mar na agenda de desenvolvimento nacional. Segundo a Matriz Insumo-Produto do Mar (MIP Br Mar), elaborada por Carvalho, a demanda final dos setores marinhos em 2015 foi estimada em R$ 1,3 trilhão. Isso demonstra o peso que a economia azul tem na movimentação de mercados internos e externos.
Com o avanço tecnológico e a busca por soluções sustentáveis, novas frentes vêm se consolidando. O Brasil se destaca em pesquisas voltadas à biotecnologia marinha e à exploração racional de recursos naturais, como o pré-sal e a energia eólica offshore. Ao mesmo tempo, o turismo de base costeira cresce com força em estados como Alagoas, Bahia e Rio de Janeiro, gerando empregos e renda para comunidades locais.
Políticas públicas e sustentabilidade
A Marinha do Brasil tem incentivado a criação de políticas públicas voltadas para a proteção e o uso sustentável do espaço marítimo. O objetivo é integrar segurança, ciência e economia, garantindo que as atividades gerem riqueza sem comprometer os ecossistemas marinhos. “É preciso tratar o mar como ativo estratégico, com um olhar voltado ao desenvolvimento e à soberania”, alerta a instituição.
Ainda de acordo com a Marinha, o Brasil é signatário de tratados internacionais voltados para o uso sustentável dos oceanos, e participa ativamente de fóruns globais sobre a chamada “economia azul”. A expectativa é que, com planejamento e investimentos coordenados, o país consiga ampliar ainda mais a participação do mar no PIB, ao mesmo tempo em que combate desigualdades e promove inclusão social nas regiões litorâneas.
Oportunidade para investidores
Para o mercado, a economia do mar representa uma oportunidade concreta de diversificação e retorno. Empresas de logística, construção naval, energias renováveis e turismo têm ampliado sua atuação em áreas costeiras, impulsionadas por incentivos fiscais, investimentos em infraestrutura portuária e o fortalecimento de marcos regulatórios.
Alagoas, por exemplo, já colhe frutos do crescimento do turismo e da pesca artesanal, enquanto estados como Ceará e Rio Grande do Norte despontam na produção de energia eólica em alto-mar. “O potencial é imenso, e o Brasil tem uma vocação natural para liderar esse movimento, desde que haja planejamento e valorização da nossa riqueza marítima”, conclui a pesquisadora Andréa Bento Carvalho.