O segundo dia de atividades do Energia 360 Alagoas – Caminhos para a Segurança Energética, realizado nesta quarta-feira (16), reuniu nomes de peso dentro do cenário energético nacional. Os debates trouxeram à tona temas relacionados à integração entre as fontes energéticas do país, além de perspectivas sobre a transição energética dentro da conjuntura geopolítica atual.
Estiveram presentes lideranças como o Secretário Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME), Pietro Mendes; José Firmo, CEO da Petroreconcavo, Sylvie D’Apote, diretora executiva de Gás Natural do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), e Luisa Franca, diretora da Transportadora Associada de Gás (TAG).
Além de palestras e painéis de debate, o evento contou ainda com workshops sobre o desenvolvimento do armazenamento de gás natural no Brasil e sobre segurança operacional. Uma rodada de negócios também foi realizada neste segundo dia.
Geopolítica e setor energético: desafios e oportunidades
A palestra do dia, ministrada pelo professor e mestre em Políticas Públicas Oliver Stuenkel, apresentou um apanhado sobre o cenário geopolítico global atualmente e os impactos dos recentes conflitos internacionais para o setor energético.
Em entrevista para o Investindo Por Aí, ele afirmou que as tensões podem gerar repercussões na cadeia de energia, exigindo atenção de autoridades do ramo. “Eu vejo que diferentes tipos de energia serão impactados de formas diferentes a nível global. Então o impacto é imenso, inclusive sobre a transição energética e, portanto, atores que atuam nesse ramo precisam monitorar o cenário geopolítico para se preparar contra possíveis imprevistos e tensões como a gente está vendo nesse momento”, afirmou.
Se o cenário global parece delicado, o Brasil se destaca na contramão e caminha com estabilidade, de acordo com o professor. Para ele, o país é visto por investidores internacionais como um parceiro confiável por não estar exposto a grandes riscos geopolíticos. Dessa forma, a exportação de combustíveis nacionais não deve ser afetada.
“O Brasil está bem preparado para o mundo de ontem, que é o mundo das energias fósseis, mas também muito bem preparado para o mundo de amanhã, o mundo da energia renovável. Então eu não vejo nenhum risco nesse momento nesse sentido, e isso é a grande vantagem do Brasil: é muito difícil pensar em algum tipo de conflito geopolítico que envolva o Brasil e as perspectivas que o Brasil tem como exportador de energia também são muito boas”, explicou.
Diálogos para a construção da convergência energética
O primeiro painel da quarta-feira contou com a presença de Eduardo Hirschle, da Origem Energia, Ricardo Botelho, CEO da Energisa, Luis Henrique Guimarães, membro do Conselho da Cosan e Gustavo Labanca, CEO da Transmissão Brasil. Mediado por Sylvie D’Apote, diretora executiva de Gás Natural do IBP, a conversa trouxe o tema “Convergência Energética: setores elétrico e de gás natural”.
A convergência energética nada mais é do que a integração entre os setores produtores de energia. O conceito vem ganhando protagonismo entre especialistas, empresas e governos e propõe um sistema energético mais eficiente, sustentável e inteligente. Essa convergência acontece quando diversas fontes de energia – a exemplo da solar, eólica, hidrelétrica e do gás natural – trabalham de forma coordenada para garantir o abastecimento das redes.
Durante a conversa entre os representantes das empresas e entidades, foram apresentados desafios para o fortalecimento dessa agregação entre setores, como o elétrico e o de gás natural. Durante sua fala, a mediadora Sylvie D’Apote apontou que todas as iniciativas de integração são pautadas em três pilares centrais: sustentabilidade, segurança e acessibilidade.
Para Ricardo Botelho, o desenvolvimento das cadeias elétrica e de gás estão entrelaçados. “São dois mundos diferentes, mas que são simbióticos. Eles são primos, são ligados e em alguns momentos eles parecem que estão afastados e o que a gente tem que tentar fazer, para o bem do país, é olhar onde que um setor pode contribuir com o outro, no sentido, por exemplo, de resolver problemas que são comuns do país”, destacou.
Já Luis Henrique Guimarães afirmou que o primeiro e principal desafio a ser superado para a consolidação das integrações é o planejamento estratégico, que atualmente é feito individualmente por cada setor. Na opinião do especialista, é preciso superar os interesses individuais das empresas para alcançar melhores objetivos. “A gente precisa ter um planejamento integrado, que olhe as várias as várias dimensões e, assim, tomar as decisões que são melhores para o conjunto da obra, e não as individuais”.
Um dos pontos mencionados no painel foi a possibilidade de uso da estocagem de gás como uma ferramenta para unir os elos da cadeia. Com o crescimento das fontes renováveis intermitentes, como solar e eólica, o gás natural estocado aparece como uma alternativa para garantir flexibilidade ao sistema elétrico, podendo, por exemplo, ser acionado rapidamente para abastecer usinas termelétricas em momentos de baixa geração renovável, funcionando como uma espécie de “bateria química” e proporcionando estabilidade à matriz.
No viés econômico, a formação de estoques também ajuda a suavizar oscilações de preço, trazendo mais previsibilidade ao mercado e criando um ambiente mais favorável para investimentos. Nesse sentido, Alagoas está bem posicionada no debate, pois é referência nacional como o primeiro projeto privado e comercial de estocagem de gás em operação no país, localizado no município do Pilar, com operação da Origem.
Além disso, a empresa recebeu na última terça-feira (15), a licença do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) para mais um projeto de Estocagem Subterrânea de Gás Natural (ESGN) no estado, com estimativa de investimento de US$ 200 milhões (cerca de R$ 1,1 bilhão).
Para Fábio Morgado, diretor da Algás, empresa detentora da concessão pública de distribuição e venda de gás natural no estado de Alagoas, o Energia 360 ajuda a reafirmar o estado, cada vez mais, como pioneiro e grande celeiro para investimentos da cadeia. “Nós temos projetos termelétricos aqui em Alagoas, principalmente ali no Pilar, e trazer esses debates para cá e essas discussões que têm acontecido vai trazer alguns subsídios para a gente negociar com quem de fato pode implantar novos projetos por aqui”, apontou.
Último dia de atividades
Na manhã desta quinta-feira (17), serão realizadas as últimas atividades do evento. Estarão em voga temas como o potencial econômico de bacias sedimentares e investimentos em infraestrutura para melhorias do setor. O ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy abrirá as atividades do dia, seguido por líderes de empresas como a Petrobrás e a S&P, além da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).