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26 de julho de 2024 23:37

Em nova gangorra, Ibovespa afunda enquanto juros futuros e dólar sobem

Em nova gangorra, Ibovespa afunda enquanto juros futuros e dólar sobem

Saldo do Dia: Rendimento de papéis de dívida da Casa Branca retomaram caminho de alta. Com ares de profecia autorrealizável, ações consideradas mais arriscadas que a média penaram de olho no 'adeus' aos estímulos do BC americano. Na cena local, ruídos sobre offshores de Guedes e Campos Neto se somam o risco fiscal e inflação

Por Gustavo Ferreira
Para Valor Investe

O pregão de sexta-feira (1º) deve ter levado alguns a pensar que outubro fosse perfeito para recuperar com facilidade as perdas de setembro. Ingenuidade. A gangorra com a curva de juros americana tornou a se inverter. E uma nova onda vendedora das ações varreu o mundo desta segunda-feira.

Em Nova York, papéis de 10 anos dos títulos americanos tornaram a subir para perto dos 1,5%, nas proximidades dos níveis mais altos desde junho. E esse rali se explica numa boa notícia.

A economia americana parece recuperar o fôlego a ponto de prescindir de estímulos monetários. O que é reforçado não só por taxas de crescimento de saltar aos olhos, mas por um efeito colateral indigesto. Uma inflação mais salgada do que se deseja. O que prescreve, portanto, o começo do fim dos estímulos praticados pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) desde março de 2020. É o chamado “tapering”. Acostume-se com a palavra, deve fazer parte da sua vida por longo tempo.

⎮Mas nem tudo são flores. Quão mais inflados foram pelo Fed rumo a níveis distantes de seus ⎮fundamentos, mais os ativos tendem a murchar na hora do “adeus”.

Em novembro, espera-se, vai começar a chover menos dólares. Até que as doses mensais de US$ 120 bilhões ao mês despejadas nos mercados seque por completo em meados de julho de 2021. Quando, enfim, estará aberta a porteira para as taxas de referência americanas começarem a subir. E o mercado, como se sabe, antecipa as coisas.

A profecia autorrealizável dos analistas vem puxando, com um ou mais sessões de respiro, esses preços para baixo desde a última semana com alguma violência. As ações da chamada “Big Tec” americanas foram as mais beneficiadas desde março de 2020 pelas injeções monetárias e pelos juros zerados nos Estados Unidos. Logo, são as que mais tem sofrido realizações em Nova York. O índice Nasdaq, aquele com maior espaço dedicado em sua composição dedicado à disrupção digital, afundou 2,14%.

E se está ruim em Wall Street, imagine para os mercados emergentes. Que ficam relativamente mais arriscados quando os rendimentos dos papéis de dívida do governo americano pagam melhor. São considerados, afinal, os rendimentos mais seguros do mundo, à prova de calote. Logo, países ainda em desenvolvimento tendem a ter a fuga de dólares incentivada. Ainda mais, dentre eles, os que oferecem riscos acima da média. E eis que estamos no Brasil.

O Ibovespa mergulhou 2,22% nesta segunda, aos 110.393 pontos, enquanto o preço do dólar à vista subia 1,43%, aos R$ 5,4450. O que implica queda ao índice, cotado em moeda americana, de 3,60%. Bem, bem, beeeem mais profunda que da média das ações emergentes, representada por queda de 1,47% do ETF do índice MSCI Emerging Markets negociado em Nova York.

Das 91 ações do Ibovespa, só cinco subiram. Ao todo, movimentaram na sessão R$ 27 bilhões.

“Quando o mundo vai mal, o Brasil mais do que vai mal historicamente, mas, mesmo assim, a sensibilidade demonstrada na bolsa tem estado acima do normal”, diz o economista-chefe Marco Caruso, do banco Original. E lembra que não apenas um, mas duas “placas tectônicas” estão se mexendo na economia global. Também a China passa por desaceleração. Que já vinha superando expectativas. Que podem ser ainda mais frustradas no lastro da crise da Evergrande.

“No caso da China, somos vendedores de commodities. Eles são grandes compradores, e o Ibovespa e o Brasil como um todo acaba pego pelos dois movimentos”, diz. “No caso dos Estados Unidos, o mercado agora lê uma mudança de postura do Fed. Não mais está tão disposto a suportar uma inflação acima do ideal, e agora está aceitando menos essa inflação mais alta, fora as nossas questões que não são novidade.

Alessandra Ribeiro, sócio e diretora de macroeconomia da Tendências Consultoria pensa em linha semelhante a de Caruso. “Infelizmente, já está até ficando chato, mas o foco principal do mercado tende a continuar sendo o risco fiscal ainda por um bom tempo, não só um outubro, mas pelos próximos meses, ao que parece.”

Segue, conforme relata, o enrosco sobre como o governo vai fazer para pagar o Bolsa Família turbinado que prometeu em 2022. Ou seja, está em aberto se o plano traçado pelo governo no Congresso vai sair do papel. O que significaria aprovar um calote parcial dos precatórios, para sobrar espaço abaixo do teto de gastos, e a reforma do Imposto de Renda, para fornecer a fonte de receitas exigida para o novo programa pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

Se essa engenharia falhar, estaria nos planos tentar postergar o pagamento do auxílio emergencial. Ao menos até os primeiros meses do ano, quando o governo tentaria com mais tempo colocar seus planos anteriores em prática. Uma solução, na visão de Ribeiro, perigosa.

“Quando se fala em extensão do auxílio emergencial até abril, num momento em que a economia já está se recuperando, com boas notícias do mercado de trabalho, não parece fazer sentido”, diz. “Faz sentido um novo Bolsa Família, sim, focado em quem mais precisa, mas também vemos que este governo quer fazer omeletes sem quebrar ovos. Ou seja, não quer reduzir outros gastos, para amplificar o Bolsa Família, o que faria todo o sentido para a realidade brasileira. Mas não.”

Não bastando o risco fiscal e o rumo das taxas nos Estados Unidos para ditar a toada da curva de juros brasileiras, há o descontrole das expectativas de inflação por parte do Banco Central (BC). Em novo passo da trajetória de alta iniciada no meio de julho, a pesquisa semanal Focus dá conta de projeção do mercado agora em 4,12%, enquanto o centro da meta para o “horizonte relevante” de 2022 é 3,50%.

Acabaram os problemas? O Brasil é igual coração de mãe, sempre cabe um novo. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, se uniu ao ministro da Economia, Paulo Guedes, no mais novo ruído oferecido por Brasília. Ambos foram alvo de reportagem da revista Piauí sobre offshores. Em bom português, empresas localizadas em “paraísos fiscais”. Entenda melhor a polêmica clicando aqui.

A curva de juros nacional também tem seu ritmo próprio de gangorra com nossa bolsa, mesmo que os juros americanos nem mesmo estivessem em alta. A renda fixa brasileira pagando melhor, por si só, tira atratividade dos mercado acionário. Além disso, com o prêmio de risco de longo prazo subindo, aumento o custo de capital das empresas listadas. O que deprime projeções de margens de lucros e, por conseguinte, seus valores de mercado nos pregões.

  • Quão mais curto o prazo do contrato, mais os prêmios exigidos por investidores refletem as expectativas para a Selic. De sexta para cá, taxas de contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) para 2023 subiram de 9,13% para 9,20%.
  • No longo prazo, o cheiro de calote na dívida federal é quem manda. Do pregão passado para este taxas DI para 2031 foram de 10,87% para 11,00%.

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