Entre os dias 15 e 17 de julho, Maceió foi palco do Energia 360 Alagoas – Caminhos para a segurança energética, promovido pela Origem Energia. Realizado no Jatiúca Hotel & Resort, o evento trouxe debates fundamentais para o futuro do setor energético no Brasil e colocou o estado no centro das discussões.
Com uma programação ampla, o encontro contou com a presença de grandes players do setor energético. Estiveram presentes representantes de órgãos públicos ligados à cadeia, assim como de empresas e investidores do ramo. Os debates trouxeram à tona questões ligadas à segurança, flexibilidade e integração energética, além de desafios regulatórios e à atração de novos investimentos para a cadeia.
Luiz Felipe Coutinho, CEO da Origem Energia, celebrou o valor desse momento de integração. “A Origem tem o imenso orgulho de reunir aqui em Alagoas lideranças locais, nacionais, empresários, para discutir a segurança energética. É motivo de orgulho observar a profundidade dos debates, os temas em questão, e ver como todo mundo está muito antenado acerca da importância da flexibilidade energética para garantir a segurança do nosso sistema”, apontou.
Um dos grandes nomes presentes no evento foi Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda e diretor de Estratégia Econômica e Relações com o Mercado do Banco Safra. Em entrevista ao Investindo Por Aí, ele destacou a relevância de Alagoas dentro do cenário nacional. “Considero extremamente positiva essa oportunidade de reunir pessoas de grande representatividade do setor, principalmente porque Alagoas é uma referência. Eu acho que foi um evento de altíssima qualidade, de grande seriedade, discutindo os temas da realidade brasileira e nordestina.”
Para Clara Alves, superintendente técnica de Regulação e Fiscalização dos Serviços de Gás Canalizado na Arsal, o evento foi uma grande oportunidade de conexão e debate com representantes de órgãos de outros estados. “Foi uma grande oportunidade de networking, de ver e ouvir os colegas, saber as percepções deles. Além disso, também tivemos a chance de aprimorar os conhecimentos e de entender melhor como questões globais e nacionais impactam aqui no nosso estado”, apontou.
Desafios e nuances do cenário energético mundial
As palestras principais de cada dia trouxeram um tema em comum: o cenário geopolítico mundial e seus impactos para o setor, especialmente no que diz respeito à transição energética. À frente desses diálogos estiveram Carlos Pascual, vice-presidente de Geopolítica e Relações Internacionais da S&P Global; Oliver Stuenkel, mestre em Políticas Públicas e professor da Universidade de Harvard; e o ex-ministro Joaquim Levy.
Apesar das oscilações na conjuntura global, a exemplo dos conflitos no Oriente Médio e do aumento da inflação nos Estados Unidos, os especialistas afirmam que o Brasil deve se manter estável nos próximos momentos. Para eles, o país se destaca por não estar envolvido em grandes embates internacionais e por seu grande potencial de atração de investimentos estrangeiros, especialmente dentro do setor energético.
Oliver Stuenkel ressalta que a capacidade de produção de energia limpa nos coloca em uma posição favorável para manter bons diálogos com outras nações. “O Brasil está bem preparado para o mundo de ontem, que é o mundo das energias fósseis, mas também muito bem preparado para o mundo de amanhã, o mundo da energia renovável. Então eu não vejo nenhum risco neste momento nesse sentido, e isso é a grande vantagem do Brasil: é muito difícil pensar em algum tipo de conflito geopolítico que envolva o Brasil, e as perspectivas que o país tem como exportador de energia também são muito boas”, explicou.
Já o ex-ministro Joaquim Levy afirma que, diante das dúvidas e incertezas trazidas pelas recentes declarações do presidente estadunidense Donald Trump sobre a taxação de produtos brasileiros, o momento pede cautela e moderação. “A economia brasileira é grande, é diversificada e a gente tem muita capacidade de diálogo, então acho que não é uma questão de se precipitar. É preciso estar atento, medir os riscos, mas se conduzir com tranquilidade.”
Os diálogos trazidos pelos três especialistas apresentam um ponto em comum: eles acreditam que o Brasil, por seu grande potencial produtor de energia, tem um trunfo em meio às incertezas internacionais. Além disso, o bom histórico diplomático do país o posiciona em um lugar de neutralidade diante das adversidades.
Caminhos para a integração energética
Durante os três dias de evento, os debates sobre integração energética estiveram presentes entre os participantes. Diálogos sobre os desafios e os benefícios de unir as cadeias produtoras de energia foram apresentados ao longo dos painéis e palestras.
A convergência energética se refere à atuação coordenada das diversas formas de energia, como solar, hidrelétrica e gás natural. O conceito se liga a outras definições: flexibilidade – que representa a capacidade do sistema de responder rapidamente às variações de oferta e demanda – e power balancing – que diz respeito à manutenção do equilíbrio entre geração e consumo de energia.
Apesar de distintos, esses conceitos fazem parte de um mesmo ecossistema. A convergência energética depende da integração física e setorial, exige flexibilidade para operar com múltiplas fontes e só se sustenta se houver power balancing constante para manter a rede elétrica estável.
Para Roberto Ardhengy, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), pensar em integração é manter o Brasil como grande produtor e exportador de energia. “Os sistemas energéticos do mundo estão cada vez mais exigentes, eles necessitam que você tenha uma certa segurança, uma garantia de fornecimento. O Brasil tem fontes energéticas diversificadas, e essa integração das diversas soluções energéticas vai fazer com que a gente consiga modernamente entregar esse produto tão importante para a economia da melhor forma possível.”
Membro do conselho da Cosan, Luis Henrique Guimarães destaca que a solução para garantir um abastecimento energético seguro e de qualidade – como produto interno e de exportação – depende da construção de propostas que unam os setores da cadeia, a exemplo do elétrico e do gás. “A gente precisa ter um planejamento integrado, que olhe as várias dimensões e, assim, tomar as decisões que são melhores para o conjunto da obra, e não as individuais.”
Regulação em pauta: como garantir processos assertivos e otimizados
Na última quinta-feira (17), o encerramento do Energia 360 foi marcado por grandes debates sobre a regulação dos processos de produção, armazenamento e distribuição de energia no Brasil.
Durante a mesa “Evento em perspectiva: cenários energéticos”, o advogado Guilherme Vinhas afirmou que o desenvolvimento energético do país passa diretamente pelo fortalecimento das entidades reguladoras nacionais, como a Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Para ele, o enfraquecimento desses órgãos, a exemplo dos recentes cortes de orçamento da ANP, prejudica não só as empresas e investidores, mas também o consumidor final. “A gente precisa de uma agência reguladora com musculatura para todos os desafios que vêm pela frente. Além das atribuições normais dela, também as novas atribuições conectadas à transição energética. Se a ANP reduz a fiscalização e deixa de testar a qualidade dos combustíveis no país inteiro, isso tudo é muito ruim para o consumidor”, destacou em entrevista ao Investindo Por Aí.
Já Verônica Coelho, CEO da Equinor Brasil, reforçou que o país tem um grande potencial produtor e, por isso, atrai grandes investimentos internacionais. Para seguir com esse fluxo, ela destaca que é imprescindível que existam normas técnicas bem fundamentadas e processos mais otimizados. “O ambiente regulatório precisa ser feito de maneira competente e com qualidade que possa ser sustentado a longo prazo. É muito importante que a gente tenha previsibilidade do que vai acontecer no regulamento todo da indústria daqui a 15, 20, 30 anos. Para que a gente possa investir com segurança de que o retorno desse investimento será realizado conforme previsto, conforme os investidores decidiram apostar seus recursos”, afirmou.
Um dos pontos discutidos ao longo do debate foi a centralização das legislações envolvidas nos processos da cadeia energética. Atualmente, além das normas federais, cada um dos 27 estados possui também as suas diretrizes. Luiz Felipe Coutinho destacou que esse é um dos entraves a serem enfrentados pelos investidores para o desenvolvimento do setor, que traz benefícios a curto, médio e longo prazo para o país.
“É preciso resolver as nossas questões internas, entender e otimizar a nossa vocação dentro da realidade para que isso vá se configurar lá na frente em competitividade enquanto país. Isso vai gerar riqueza, vai diminuir a pobreza energética, vai trazer empregos de valor agregado. Tudo isso passa por simplesmente pensar de uma maneira mais otimizada nos recursos que nós já temos.”
Alagoas em destaque no cenário nacional
A realização de um evento de grande porte para debater questões ligadas ao mercado energético em Maceió reafirmou, nacionalmente, a posição de Alagoas dentro desse cenário: o estado é visto como uma grande potência produtiva.
Reafirmando essa posição e o compromisso da Origem com a produção de energia limpa no estado, a empresa recebeu, na terça-feira (17), a licença ambiental do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) para seu projeto de Estocagem Subterrânea de Gás Natural (ESGN) no estado, com investimento previsto de US$ 200 milhões (cerca de R$ 1,1 bilhão).
O secretário-executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro, esteve presente na abertura do evento e destacou a posição vanguardista do estado, que receberá um projeto pioneiro nunca antes desenvolvido no Brasil. “Alagoas, além de produzir biogás, vai poder estocar gás, então a energia daqui de Alagoas vai ser muito mais barata, pela proximidade dessas estocagens. Com isso, o estado se coloca na vanguarda de ter uma energia de transição energética e com menor custo. É aí que vamos poder desenvolver uma cadeia produtiva nova aqui no estado a partir dessa percepção de que energia é o futuro.”
De acordo com Ediberto Omena, presidente da Algás, Alagoas está preparada para receber esse e outros projetos do setor energético. “Nós temos áreas preparadas para as grandes indústrias que queiram se instalar aqui, e isso é trazer mais emprego, mais investimento, mais indústrias para Alagoas. Eu diria que o estado pode se tornar um parque industrial com esse grande investimento da Origem para a estocagem do gás. As indústrias precisam do gás natural, uma energia limpa, descarbonizada, e nós vamos ter esse gás de reserva para entregar”, afirmou.
As atividades desenvolvidas pela Origem Energia no estado somam, desde 2022, investimentos anuais de US$ 120 milhões, além do aumento da produção local de petróleo e gás. Para Luiz Felipe Coutinho, o desenvolvimento dos próximos projetos, como o de estocagem de gás, consolida Alagoas como um hub energético. “A gente acredita muito que, a partir dos investimentos da Origem, Alagoas se torne a principal bateria do sistema elétrico brasileiro. Nós vamos investir mais de US$ 700 milhões nos próximos quatro anos para efetivamente criar essa bateria aqui no estado, e Alagoas vai ser, se não o principal, um dos principais hubs energéticos do Nordeste e do Brasil”, apontou.