Em uma iniciativa que sinaliza o fortalecimento das políticas ambientais no Brasil, o Estado do Piauí anunciou na última semana a criação de um programa de créditos de carbono vinculado a ações públicas de combate ao desmatamento. A proposta, articulada por meio da Investe Piauí, empresa de economia mista do governo estadual, busca alinhar preservação ambiental e geração de oportunidades sustentáveis para comunidades locais.
O programa difere dos tradicionais projetos de compensação florestal geralmente encabeçados por proprietários privados. O Piauí aposta em uma abordagem jurisdicional, que envolve diretamente o poder público e populações da região, cobrindo áreas extensas e buscando evitar a simples transferência do desmatamento para outras localidades. Iniciativas semelhantes estão sendo estruturadas nos Estados do Pará e Tocantins.
A estruturação do projeto contará com aporte financeiro de R$ 10 milhões a R$ 20 milhões da gestora de investimentos Silvania, que também atuará como intermediária na comercialização dos créditos. A parte técnica ficará a cargo da consultoria brasileira Systemica, enquanto o desenvolvimento do programa será liderado pela empresa de serviços ambientais Geonoma.
Segundo os organizadores, se o Estado conseguir reduzir o desmatamento da Mata Atlântica em 10% ao ano, a iniciativa poderá gerar mais de 20 milhões de créditos de carbono até 2030. Esses créditos poderão ser vendidos no mercado internacional a empresas e países interessados em compensar suas emissões de gases de efeito estufa e cumprir metas climáticas.
“Por meio da Investe Piauí e com o apoio da Silvania, não apenas protegeremos nossas florestas, mas também criaremos oportunidades sustentáveis para nossas comunidades”, afirmou o governador do Piauí, Rafael Fonteles (PT), em nota oficial.
A movimentação ocorre em um momento estratégico para o Brasil, que se prepara para sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro deste ano em Belém (PA). O governo federal tem buscado reafirmar sua liderança no debate climático global e renovar o compromisso com metas ambiciosas de redução de emissões.
Apesar das promessas, o mercado de créditos de carbono ainda enfrenta questionamentos. Em diversos casos, iniciativas do tipo não entregaram os benefícios ambientais prometidos, gerando críticas de especialistas e ambientalistas. Ainda assim, diante de um cenário de arrefecimento político nas ações contra a crise climática e aumento das temperaturas globais, esses mecanismos têm ganhado relevância como ferramentas de compensação e transição.
Na semana passada, a União Europeia apresentou, pela primeira vez, uma proposta que autoriza os países do bloco a utilizar créditos de carbono originados em nações em desenvolvimento como parte do cumprimento de suas metas de redução de emissões. A medida pode representar uma oportunidade para projetos como o do Piauí se inserirem em um mercado global em expansão.
O avanço do programa piauiense será observado de perto por outros entes federativos e investidores ambientais. Caso consiga aliar transparência, rastreabilidade e impacto concreto na preservação florestal, a iniciativa poderá se tornar referência no uso de instrumentos econômicos para fomentar o desenvolvimento sustentável e a justiça climática no Brasil.