Alagoas quer deixar de ser apenas um produtor de gás natural para se tornar um hub de energia estratégica no Brasil. Durante o primeiro dia do evento Energia 360 Alagoas: Caminhos para a Segurança Energética, que ocorre até o dia 17, em Maceió, autoridades, empresários e especialistas destacaram o papel do Estado na nova geografia energética do país – com infraestrutura pronta, oferta abundante de gás barato e um projeto inédito de estocagem subterrânea em fase de implantação.
Promovido pela Origem Energia com apoio do Governo de Alagoas, o encontro debateu os rumos da segurança energética nacional e apresentou as oportunidades de negócios e inovação geradas pelo setor.
“Mais que um debate técnico, o evento mostra que Alagoas está preparada para liderar a transição energética no Brasil”, afirmou George Santoro, secretário-executivo do Ministério dos Transportes. Segundo ele, Alagoas abriga o primeiro projeto do país de estocagem de gás, o que pode atrair empresas que desejam contratar energia de forma estável e barata. “Essa vantagem energética impulsionará investimentos industriais, logísticos e de serviços, tornando o estado referência em transição energética”, reforça.
Inovação com selo alagoano
Entre os temas centrais do evento esteve o projeto de estocagem subterrânea de gás natural – o primeiro do tipo no Brasil e na América Latina. Desenvolvido pela Origem Energia, o projeto terá capacidade inicial de 150 milhões de m³, com previsão de expansão para até 1,8 bilhão.
“É um divisor de águas para o setor”, avaliou Simone Araújo, diretora da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Ela reconheceu o desafio de regular um modelo inédito no país, mas reforçou que o projeto servirá como referência para políticas públicas e infraestrutura energética.
A iniciativa tem potencial para suavizar picos de demanda, reduzir a sazonalidade no sistema elétrico e atrair grandes consumidores industriais que buscam previsibilidade e menor custo de energia.
Para a Origem Energia, a proposta é clara: transformar Alagoas na bateria energética do país, combinando a flexibilidade do gás com a intermitência das fontes renováveis, como solar e eólica. O CEO Luiz Felipe Coutinho explicou que a tecnologia, já usada há décadas nos EUA e Europa, representa um avanço estratégico para a região e para o Brasil.
A ideia é permitir que empresas de tecnologia, data centers, indústrias e termoelétricas se instalem em Alagoas para operar com gás competitivo e energia limpa, fomentando empregos de maior valor agregado e impulsionando o PIB local.
Infraestrutura, logística e qualificação: o tripé do novo ciclo
Para George Santoro, a competitividade do Estado não se resume ao gás. Projetos como a duplicação do arco metropolitano, o novo porto em Pilar, a ponte Alagoas-Sergipe e o leilão de reserva de capacidade integram um plano maior de atração industrial.
“O Estado tem uma das moléculas de gás mais baratas do país. E está investindo pesado em infraestrutura, logística e qualificação de mão de obra para sustentar esse novo ciclo de desenvolvimento”, disse Santoro.
O presidente da Federação das Indústrias de Alagoas (FIEA), José Carlos Lyra, ressaltou o protagonismo do estado na nova cadeia produtiva da energia. Já o economista Joaquim Levy destacou que a abundância de gás barato e energia renovável no Nordeste tende a reposicionar a região no mapa industrial brasileiro.
Para o setor regulador, o momento exige adaptação e aprendizado. Simone Araújo (ANP) destacou que a agência está construindo, junto com os operadores, a regulação da estocagem subterrânea e de tarifas mais justas para o transporte de gás.
Um novo modelo energético, com DNA nordestino
Mais que gerar energia, Alagoas está moldando um novo modelo energético para o Brasil — descentralizado, mais limpo, competitivo e integrado ao desenvolvimento regional. Como resumiu o executivo Joelson Mendes, da Origem Energia: “Estamos revitalizando campos antes abandonados, criando empregos, atraindo investimentos e gerando conhecimento local.”
Já o CEO da Transportadora Associada de Gás (TAG), Tomaz Guadagnin, destacou os benefícios da abertura do mercado de gás, como a redução de até 20% no preço ao consumidor no Nordeste. E acrescentou que esse novo modelo energético precisa estar integrado ao sistema de transporte e deve aprender com experiências internacionais para amadurecer com segurança.
O primeiro dia do evento contou com autoridades e representantes de peso. Estiveram presentes o Secretário-Executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro; o ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy; o presidente da FIEA, José Carlos Lyra de Andrade, que representou o presidente da CNI, Ricardo Alban; o Secretário-Chefe do Gabinete Civil de Alagoas, Felipe Cordeiro, representando o governador Paulo Dantas; além do Conselheiro Emérito do CEBRI, José Luiz Alquéres, e da diretora da ANP, Symone Araújo.
E o encerramento desse primeiro dia aconteceu em grande estilo: a Origem Energia recebeu a licença ambiental prévia do Instituto do Meio Ambiente (IMA) de Alagoas para implantar seu inovador projeto de Estocagem Subterrânea de Gás Natural (ESGN) no Estado. Com aporte previsto de US$ 200 milhões, a iniciativa foi oficialmente anunciada pelo presidente do IMA, Gustavo Lopes, no final do segundo bloco.
O evento é presencial e gratuito, e segue por mais dois dias no Jatiúca Hotel & Resort.