Jornalismo econômico para a inovação no Nordeste -
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17 de maio de 2024 16:32

EXCLUSIVO: Nordeste puxa crescimento da fruticultura no Brasil

EXCLUSIVO: Nordeste puxa crescimento da fruticultura no Brasil

Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte são protagonistas no cultivo de manga, uva e melão
Rio Grande do Norte é o maior produtor de melão do mundo

 

Por Luiza Müller
Especial para o Investindo Por Aí

Responsável por 21,58% da produção nacional de fruticultura, o Nordeste brasileiro avança em tecnologia para usufruir do aumento de demanda no mercado internacional de produtos como uva, melão e manga, além de guaraná e graviola. Os principais polos de produção estão localizados nos estados da Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte. A região é a segunda do País no cultivo de frutas. Em termos nacionais, o Brasil é o terceiro maior produtor mundial, com mais de 2,5 milhões de hectares cultivados (atrás apenas da China e Índia). O mercado interno continua sendo o destino principal das frutas, considerando que apenas 3% da produção é exportada – uma distribuição que tende a mudar.

De acordo com Guilherme Coelho, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), o sucesso da fruticultura da região não é por acaso. Com forte incidência do sol e grande disposição de água de boa qualidade, a região tem se destacado como importante produtora e exportadora de frutas. “Com o sol abundante, há menor ocorrência de pragas porque o ambiente não é úmido, e, com nossos sistemas de irrigação, temos água de boa qualidade vinda do rio São Francisco”, afirma Guilherme.

Mangas e uvas do Vale do São Francisco

Campeã em exportações, a manga cultivada no sertão de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) é permeada pela irrigação do “Velho Chico”, apelido carinhoso dado ao rio São Francisco. Onde antes o cenário desértico do semiárido nordestino era predominante, hoje, a região do Vale do São Francisco, compreendida entre a Bahia e Pernambuco, tornou-se a maior exportadora nacional de manga e uva.

O polo agroindustrial do Vale do São Francisco representou 90% das 272,6 mil toneladas da exportação da fruta em 2021. O valor é 12% maior que o registrado em 2020, consagrando, assim, o segundo ano consecutivo de recordes em volume de exportação nacional.

De acordo com o Observatório do Mercado de Manga da Embrapa Semiárido, a maior apreciadora das mangas brasileiras foi a Holanda, destino de 45% do volume de exportações. Os Estados Unidos, por sua vez, representam o segundo maior mercado, com participação de 19%, seguidos pela Espanha, com 17%.

Quanto aos valores, o faturamento chegou a US$ 248,1 milhões no ano, contra US$ 247,4 milhões em 2020. Ainda segundo a Embrapa, o valor foi pouco alterado em função da cotação dos preços em moeda estrangeira, que em 2021 foram menores do que os obtidos em 2020.

Majoritariamente cultivada no município de Juazeiro, na Bahia, a uva também é destaque na região do Vale do São Francisco. Segundo Giuliano Elias Pereira, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, o cultivo da fruta na região se destaca como um dos mais tecnológicos do país e do mundo. “Começando na poda, usa-se a cianamida hidrogenada, um hormônio que promove a brotação homogênea dos ramos, bem como possibilita uma maturação homogênea de uvas, antes da colheita. Durante o desenvolvimento das videiras, ao longo do período de produção, aplicam-se diferentes produtos, seja via fertirrigação, seja via aplicação de nutrientes que aumentam a qualidade de uvas, principalmente para mesa”, explica Gabriel acerca da importância do manejo do homem e da utilização de insumos e tecnologias para a qualidade da produção.

Além de uvas de mesa, o polo agroindustrial também possui destaque na vinicultura e produção de sucos de uva integrais, contando com aproximadamente 700 hectares destinados ao vinho e 1.000 hectares destinados aos sucos. De acordo com Gabriel, uma das principais características da vitivinicultura do Vale do São Francisco é a produção contínua propiciada pelo clima da região, com possibilidade de podas e colheitas durante praticamente todas as semanas, o ano todo.

Quando somadas, as duas frutas tiveram volume de exportação de 27.114 toneladas, só nos primeiros três meses de 2022. O faturamento foi de US$ 34 milhões desde o começo do ano, montante superior ao mesmo período de 2021, que contou com uma receita de US$ 27 milhões. Neste cenário, o volume médio de um milhão de toneladas de produção anual de frutas do Vale gera faturamento médio de R$ 2 bilhões por ano. Deste total, R$ 440 milhões correspondem às vendas ao mercado externo.

Melões do Rio Grande do Norte

A fazenda com a maior produção de melão do mundo fica em Mossoró, no Rio Grande do Norte. O estado, que é responsável pela produção de 90% da exportação brasileira da fruta, apontou faturamento de US$ 103 milhões em vendas ao estrangeiro em 2021. O volume exportado, por sua vez, atingiu o patamar de 172.930 toneladas, em comparação com as 161.150 toneladas vendidas em 2020.

De acordo com Fábio Queiroga, presidente do Comitê Executivo de Fruticultura do Rio Grande do Norte (Coex), o sucesso em exportações se deve à janela de produção da fruta no estado, que coincide com o período em que os países do hemisfério Norte – como Estados Unidos e Canadá – não estão produzindo melão.

Além do fator temporal, as frutas produzidas no estado contam com tecnologia de ponta em seu cultivo. “O que é feito na comunidade europeia, fazemos aqui. Realizamos práticas conservacionistas, fazemos uso da manta TNT – que faz uma proteção física contra pragas e diminui a necessidade de defensivos químicos – e trabalhamos com sistema de irrigação localizado, que nos permite fazer fertirrigações de forma bastante pontual, com gasto mínimo de fertilizantes e água”, explica Queiroga.

Para a safra de março, é esperado que mais de 300 mil toneladas de melão sejam produzidas. A projeção de resultado financeiro também é otimista, com um faturamento esperado de US$ 250 milhões, um crescimento de 15% quando comparado ao mesmo período de 2021.

Potencial de crescimento e pandemia

Durante o período pandêmico, houve maior conscientização e preferência por produtos naturais e saudáveis. Segundo um levantamento realizado pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (USP), houve um crescimento de quase 5% no consumo de frutas e verduras pelo brasileiro em 2020.

Esta tendência também pode ser observada pelo incremento no volume de exportações de frutas nacionais. “Em 2021, batemos o recorde de US$ 1 bilhão de dólares em exportações de frutas. Concomitantemente, crescemos em volume, com acréscimo de 18% em quantidade exportada. Isso nos mostra que o mundo está consumindo mais frutas”, aponta Guilherme Coelho.

Com a união destes fatores, é possível notar um horizonte otimista para o cenário de exportações no ramo de hortifruti. Amplo em tecnologia e potencial produtivo, o Nordeste mostra-se cada vez mais como um polo crucial para esta expansão nacional e global.

 

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