Jornalismo econômico para a inovação no Nordeste -
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9 de maio de 2024 00:54

Exclusivo: o papel do Nordeste na transição energética do Brasil

Exclusivo: o papel do Nordeste na transição energética do Brasil

Dados recentes mostram os números da liderança da região que tem buscado se desenvolver com a preservação do meio ambiente
Reprodução
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Na vanguarda das energias renováveis, o Nordeste se destaca por concentrar mais de 90% da capacidade nacional de geração de energia eólica e com cinco estados entre os seis maiores produtores de energia solar do país. Este feito consolida sua posição como liderança na transição energética do Brasil.

O Investindo por Aí analisou dados do setor e buscou especialistas para analisar o cenário das energias renováveis no Nordeste brasileiro, com destaque para as fontes eólica, solar e de biomassa.

O país, historicamente reconhecido como potência em energias renováveis, confirma seu protagonismo com o domínio das tecnologias hidrelétrica, de biomassa, solar e eólica. Estas formas de energia não apenas impulsionam o desenvolvimento regional, mas também sinalizam para um futuro mais sustentável e resiliente no contexto energético nacional.

Transição energética e crescimento econômico

O professor Mario González, Coordenador do grupo de pesquisa Creation – Energias Renováveis da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), estado com maior número de turbinas eólicas em operação no país, afirmou ao Investindo por Aí que a principal vantagem da energia renovável, principalmente a eólica e solar, é desacelerar o aquecimento do planeta como consequência da redução da emissão de gases do efeito estufa ao substituir as fontes fósseis de energia.

Professor Mario Gonzalez | Reprodução
Professor Mario Gonzalez | Reprodução

“Além disso, as energias renováveis possibilitam diversificar as fontes de energia de um país. Por serem grandes aliadas no combate ao aquecimento global, essas fontes apresentam um desenvolvimento tecnológico constante, tornando-se mais eficientes e reduzindo o custo de produção de energia, fator que pode impactar diretamente na tarifa paga pelos usuários”, disse o professor.

Ele defende ainda que as energias renováveis possuem grande potencial para geração de emprego durante todas as fases do ciclo de vida (projeto, construção/instalação, operação e manutenção e descomissionamento), além de estimular o crescimento de áreas rurais e urbanas, a partir da criação de novos empreendimentos (como restaurantes, pousadas e hotéis) que fornecerão suporte para os projetos.

Dados analisados pelo IPA a partir de informações da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), mostram quem são os maiores produtores de energias renováveis do país. Os números são relativos a dezembro de 2023. Confira abaixo.

Maiores produtores de energia eólica no Brasil são estados do Nordeste

UF Eólica
RN 137288,62 Mw
BA 130584,58 Mw
PI 56454,3 Mw
CE 35984,76 Mw

Entre os 6 maiores estados produtores de energia solar, o Nordeste conta com 5 deles

UF Solar Fotovoltaica
MG 53863,264 Mw
BA 29555,274 Mw
PI 21153,51 Mw
CE 17330,138 Mw
RN 14899,836 Mw
PE 13790,7 Mw

Energia de Biomassa em Alagoas

Em Alagoas, destaca-se a produção de energia através do gás metano produzido em aterros sanitários, como é o caso da Alagoas Ambiental. No município do Pilar, na Região Metropolitana de Maceió, está instalada a primeira Usina de Energia Elétrica através do gás metano gerado pelo lixo.

Entre os 4 estados onde 100% da produção de energia é proveniente de fontes renováveis, um estado é do Nordeste – Alagoas

UF Percentual de renováveis
PA 100,00%
AL 100,00%
AP 100,00%
DF 100,00%

Jéssica Santos, engenheira civil e técnica em Eletrotécnica, atua na coordenação dos projetos de Energia Renovável da Alagoas Ambiental, como geração de energia através do biogás e energia fotovoltaica. Ela explica que o gás metano é um subproduto da decomposição dos resíduos orgânicos, altamente poluente que contribui negativamente com o efeito estufa, provocando o aquecimento global.

“A produção de energia através do gás metano contribui com a saúde populacional e com o meio ambiente, visto que deixamos de emitir esse gás para a natureza”, explica.

A engenheira destaca ainda que a indústria de energias renováveis proporciona emprego e renda para atuação no campo de biogás e na operação e manutenção dos geradores movidos a biogás.

“A diversidade da matriz energética é de extrema importância para um país desenvolvido, pois reduz a dependência de matrizes energéticas que podem se tornar escassas, como a hidrelétrica, que depende totalmente de água para geração de energia. Além disso, contribui diretamente no combate às mudanças climáticas, pois as fontes renováveis de energia utilizam matérias-primas renováveis e que não agridem o meio ambiente”, continuou.

Potencial Inexplorado

Francisco Diniz Bezerra, coordenador de Estudos e Pesquisa do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (ETENE), do Banco do Nordeste, destacou ao IPA que os vultosos investimentos em geração eólica e solar contribuem para a geração de emprego e renda em suas respectivas cadeias produtivas.

Francisco Diniz Bezerra, coordenador de Estudos e Pesquisa do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (ETENE), do Banco do Nordeste | Foto: acervo pessoal
Francisco Diniz Bezerra, coordenador de Estudos e Pesquisa do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (ETENE), do Banco do Nordeste | Foto: acervo pessoal

Ele afirma ainda que o potencial do Nordeste para geração eólica em terra (onshore) é de 309 GW. “Atualmente, foram instalados na região cerca de 28 GW, portanto, menos de 10%. No caso de geração eólica no mar (offshore), o potencial do litoral nordestino é de 681 GW, não tendo ainda nenhum projeto sido implantado. No caso de energia solar fotovoltaica, o que já foi implantado é ínfimo ante o elevado potencial da região”, explica.

Ainda segundo Francisco Diniz, os investimentos em geração eólica e solar geram dinamismo na economia da região e do Brasil. “Alguns estudos indicam que municípios com maior concentração de projetos instalados têm apresentado maior dinamismo socioeconômico por conta dos investimentos realizados”, afirma.

Ele aponta para o estudo da Abeeólica que retrata os ganhos socioeconômicos decorrentes da implantação de projetos eólicos.

“Além dos aspectos socioeconômicos, são empregos ‘verdes’, que contribuem para mitigar os impactos ambientais, tão importantes no atual contexto. No passado, a matriz elétrica brasileira era fortemente dependente da fonte hídrica. Neste caso, o risco de faltar energia era muito maior. Havendo insuficiência de chuvas em algumas bacias hidrográficas onde se situam importantes reservatórios, o sistema elétrico poderia entrar em colapso. Em 2021, isto somente não ocorreu graças à diversificação de fontes de geração elétrica no Brasil. No caso, houve uma participação importante na geração da fonte solar (centralizada e distribuída) e eólica, complementada por fontes térmicas. Atualmente, menos por estar menos dependente da geração hidrelétrica, o sistema está mais confiável do que no passado”, continua.

Visão ambiental

O IPA pediu ainda a opinião do analista ambiental Alder Flores. Para o especialista, o caminho da sustentabilidade é o equilíbrio entre o progresso e a preservação do meio ambiente.

“A estratégia consiste no atendimento das necessidades ambientais, sociais e econômicas, de forma perene, de geração em geração. O termo sustentabilidade é o objetivo final de todo esse esforço. É a visão de que se deseja alcançar, no equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, o desenvolvimento social e a preservação e a conservação do meio ambiente”, diz o analista ambiental.

Alder Flores
Alder Flores

Para Alder Flores, muito se fala no consumo consciente, já que na atualidade o modelo de produção econômico ainda fomenta a utilização imprudente de recursos naturais. “E no mundo inteiro esse consumo já acarreta impactos ambientais e sociais altamente significativos e, se nada for feito, pode levar ao esgotamento desses insumos ou, como queira chamar, desses recursos naturais em um futuro breve. E uma das formas de se evitar essas questões, principalmente com relação aos combustíveis fósseis, é utilizar como fonte de energia renovável a energia solar, a energia eólica e a energia da biomassa, que são energéticas inesgotáveis, diferente dos fósseis”, explica.

Alder Flores explica ainda que essas fontes de energia renováveis, são consideradas matrizes alternativas inesgotáveis de energia. “E, evidentemente, provocam menos danos ao meio ambiente. São fontes naturais que se regeneram, substituindo o uso de combustíveis fósseis. São, na verdade, opções que o ser humano pode usar de forma inesgotável, com impacto ambiental reduzido, pois não geram resíduos, tais como o dióxido de carbono, que é um dos grandes vilões do planeta”, continua.

Por fim, o analista reforça que as energias renováveis são abundantes no Nordeste. “No meu entendimento, essas fontes produzem menos ou nenhum gás de efeito estufa, causando menos impactos ao meio ambiente. São uma energia limpa, e, além de tudo, trazem acesso a comunidades isoladas. Permitem levar a eletricidade a áreas remotas em comunidades pobres”.

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