Por Luiza Müller
Exclusivo para o Investindo por Aí
Comumente vistas como “mato” ou erva-daninha, as Plantas Comestíveis Não Convencionais, ou PANCs, têm ganhado reconhecimento com o avanço da consciência ecológica global e ampliação de pautas veganas. Locais e diversas, elas podem chegar a 10 mil espécies com potencial comestível no Brasil. Entre as mais conhecidas estão a Taioba e a Ora-pro-Nóbis.
De relativo fácil manejo e adaptação a climas secos, o cultivo e comércio das PANCs é majoritariamente coordenado por famílias, comunidades e assentamentos rurais. Entre eles, está o assentamento Flor do Bosque, localizado em Messias, município alagoano, a 35 quilômetros da capital do Estado. Criado em 1998, ele reúne 35 famílias voltadas à atividade da agricultura orgânica e ecológica. Além do plantio, o coletivo comercializa as PANCs in natura e processadas em farinhas em feiras livres de Maceió.
De acordo com Maria José Cavalcante, técnica em agroecologia e membro do Flor do Bosque, o recente reconhecimento das Plantas Alimentícias Não Convencionais pelo público geral, assim como a expansão de adeptos às dietas vegetarianas e veganas, desencadeou novas oportunidades de negócios para o grupo.
“A divulgação local e nacional das PANCs tem chamado a atenção de pessoas que buscam uma alimentação alternativa, assim como de vegetarianos e veganos, que estão em busca de um alimento com alto valor nutritivo e proteico”, afirma Maria José. Em convergência com a agricultora, uma pesquisa do então Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), publicada em 2018, apontava que aproximadamente 30 milhões de brasileiros se autodeclaravam vegetarianos, o que representava, na época, uma expansão de 75% em relação a 2012.
Pesquisador da Embrapa Hortaliças e coordenador do HortPANC, Encontro Nacional de Hortaliças Não Convencionais, Nuno Madeira acredita que o interesse pela nutrição funcional e os debates sobre as PANCs no meio gastronômico também contribuíram para a sua difusão. Elas já figuram nos cardápios de diversos restaurantes.
“Ainda não temos uma cadeia produtiva estruturada, mas já vemos que certas espécies, como o jambu, estão bem disseminadas em algumas regiões. Assim, aos poucos percebemos uma grande inserção comercial”, explica Nuno
Bioeconomia
A discussão acerca das PANCs perpassa o campo de estudo da bioeconomia, definida pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) como “um mundo onde a biotecnologia contribui com parcela importante da produção econômica”.
Em vista do potencial de uma economia pautada pelos bioinsumos, ainda em 2012, o mercado de bioeconomia da União Europeia já atingia o montante de 2,4 trilhões de euros. Desse montante, a agricultura foi responsável por 404 bilhões. Além do valor movimentado, o setor sustenta aproximadamente 22 milhões de empregos.
Para Clarissa Taguchi, fundadora da PANCs Brasil, movimento de disseminação dessas plantas, a bioeconomia é uma área que deve se expandir no Brasil ao longo dos próximos anos. “A biodiversidade também está presente na recuperação e manutenção de florestas, a chamada bioeconomia trata espécies nativas como fonte econômica e de desenvolvimento”, explica Taguchi.