O Nordeste brasileiro está se posicionando na vanguarda do desenvolvimento sustentável, apostando na Economia Circular como modelo estratégico para o futuro. Essa agenda foi o foco central do II Fórum Nordeste de Economia Circular (FNEC), realizado em Recife, Pernambuco, nos dias 16 e 17 de outubro, reunindo gestores públicos, pesquisadores, personalidades internacionais e o Consórcio Nordeste e a Sudene.
A Economia Circular, que enfatiza a redução, reutilização, reciclagem e regeneração de recursos para minimizar resíduos, não é vista apenas como uma teoria, mas como uma “agenda de agora”. O superintendente da Sudene, Francisco Alexandre, enfatizou que o conceito “reconstrói, dá uma nova estrutura para minimizar os impactos na natureza. É uma agenda de agora, porque nós já estamos no futuro.”
O evento serviu como uma plataforma crucial para “furar bolhas”, como destacou Liu Berman, embaixadora do Movimento Reinventando Futuros e uma das idealizadoras do Fórum. O objetivo é promover reflexões e provocações que se transformem em políticas públicas concretas que façam a diferença na vida dos cidadãos nordestinos.
Um dos painéis mais notáveis do Fórum destacou a “Cultura como ferramenta de regeneração”. A Secretária de Economia Criativa e Inovação do Consórcio Nordeste, Karine Gurgel, defendeu a importância de reconectar a cultura nordestina com o desenvolvimento sustentável.
Para Gurgel, a valorização da cultura popular e das “tecnologias ancestrais” são a base para o cuidado com a terra e para uma visão climática resiliente. Ela ressaltou que a ciência nordestina, marcada pela resistência e a forma criativa de superar desafios, coloca a região em destaque no debate sobre sustentabilidade.
Em uma decisão estratégica para impulsionar a agenda, o Consórcio Nordeste unificou as pautas de Cultura e Turismo na mesma secretaria. “É um discurso meio que unânime: precisamos pautar isso de maneira conjunta,” afirmou Gurgel, reconhecendo a sinergia entre a identidade cultural e a promoção de um turismo mais consciente e regenerativo.
A visão foi corroborada por Maria Marighela, presidenta da Fundação Nacional de Artes (Funarte), que, em mensagem de vídeo, enfatizou que “não existe cultura de uma pessoa só”, reforçando o papel da arte na coesão social e no enfrentamento às mudanças climáticas.
Alagoas emergiu no Fórum como um dos protagonistas na implementação prática da Economia Circular e de Impacto. A Secretária de Estado do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Alice Beltrão, apresentou os avanços que colocam o estado na vanguarda da pauta no Nordeste.
Entre as iniciativas, destacam-se o marco legal e institucional do estado, incluindo a Política Estadual de Investimentos e Negócios de Impacto Socioambiental e o Comitê Estadual (CEINISA). Beltrão reforçou o compromisso do estado: “Estamos estruturando políticas, fortalecendo redes de cooperativas e apoiando negócios que transformam resíduos em oportunidades.”
Colaboração e multilateralismo
A essência do Fórum Nordeste de Economia Circular é a colaboração. Liu Berman destacou que a transformação é coletiva e acontece em rede, sendo vital o encontro entre empresas, governos e comunidades para gerar soluções reais.
O PNUD Brasil, representado por Leonel Neto, reforçou a urgência de alinhar as estratégias de desenvolvimento à lógica da circularidade, citando a máxima: “Não existe a possibilidade de descartar o planeta, porque não há um plano B.” Para ele, é crucial pensar o desenvolvimento industrial a partir dessa lógica e fomentar políticas públicas com visão abrangente das dimensões econômica, social e ambiental.
A Sudene também demonstrou seu papel ativo na agenda, anunciando o Data Nordeste, uma plataforma que reúne e disponibiliza indicadores estratégicos sobre a região, incluindo dados sobre o descarte de resíduos, facilitando a formulação de políticas alinhadas à sustentabilidade.
A participação ativa de estados como Alagoas no Simpacto, iniciativa com Sudene, Sebrae e BNB, que anunciou recursos para capacitação em economia de impacto, evidencia o compromisso regional em liderar essa transição. O Nordeste, ao integrar a resiliência cultural com a inovação econômica, busca se consolidar como referência nacional de um modelo de desenvolvimento mais justo, sustentável e, acima de tudo, circular.