
Alagoas tem se destacado no agronegócio com a aposta em culturas alternativas, como o lúpulo e a pimenta, como estratégia para diversificar a economia e expandir a presença internacional do estado. A história de Aluísio Righetti, pioneiro na introdução dessas culturas, ilustra como a inovação, aliada ao apoio de instituições como o Sebrae, pode transformar a economia regional e abrir novos horizontes no mercado global.
Lúpulo
Aluísio começou sua trajetória agrícola com pimenta nos anos 90, mas foi ao assistir a um edição do programa “Globo Rural” que se apaixonou pelo cultivo de lúpulo. Ele acreditava, inicialmente, que a planta precisava de frio, mas descobriu que o segredo estava na luz, um fator que favorece o clima de Alagoas. “Quando entendemos isso, vimos que nosso estado, com seu clima quente e ensolarado, seria perfeito para testar o cultivo de lúpulo”, conta.
O projeto começou de forma experimental com 500 plantas, e, apesar do alto custo inicial, a decisão de investir nessa cultura se mostrou promissora. O Sebrae, junto à pesquisa da Embrapa, foi essencial para superar os desafios técnicos e financeiros. Aluísio agora projeta a expansão da produção, visando 2.000 plantas e investimentos em equipamentos como a peletizadora, indispensável para o processamento do lúpulo, que precisa ser transformado em pellets para não entupir os filtros das cervejarias. “O Sebrae nos ajudou em tudo: do cultivo ao licenciamento ambiental e ao registro de marca”, diz.
Sebrae
Ingrid Santos, profissional do Sebrae, destacou o papel fundamental da instituição no apoio a Aluísio e sua empresa. “Aluísio é um cliente antigo do Sebrae, como ele mesmo costuma dizer, ‘da época em que Sebrae ainda se escrevia com C’. Ao longo de sua trajetória, ele aproveitou diversas soluções oferecidas pela instituição, desde orientações iniciais até consultorias mais especializadas”, contou Ingrid.
Ela destaca que as consultorias mais impactantes para o crescimento de Aluísio foram em áreas como qualidade, embalagem e rotulagem, além de sua participação em feiras e rodadas de negócio, que abriram portas para o comércio internacional. Ingrid também compartilhou com entusiasmo as recentes conquistas de Aluísio: “Em abril de 2024, enviamos nosso primeiro container de pimenta para a Índia. Em agosto, conseguimos exportar para os Emirados Árabes. Tudo isso graças ao apoio do Sebrae, que tem sido fundamental para o crescimento do nosso negócio”, comentou Aluísio, com orgulho.
A pimenta

Enquanto o lúpulo ainda está em fase de desenvolvimento, a pimenta-do-reino, especialmente a Pimenta do Reino Preta, já é uma realidade consolidada e uma das principais commodities agrícolas do estado. Conhecida como a “rainha das especiarias” e o “Ouro Negro”, a pimenta do reino tem sido cultivada em Alagoas desde os anos 90, com forte presença no mercado internacional, especialmente na Índia, Espanha e Alemanha. “A pimenta segue padrões internacionais rigorosos, e o que define seu preço é a oferta e a demanda global”, explica Aluísio.
Este ano, em uma ação conjunta entre o Grupo CAPA de Arapiraca e a Righetti Agrícola, localizada no município de União dos Palmares, 26 toneladas de pimenta do tipo ASTA foram exportadas de Alagoas com destino à Espanha. Em relação à logística, Aluísio explica que, inicialmente, a empresa pretendia exportar para o Marrocos. No entanto, ao perceberem a qualidade da pimenta, o destino foi alterado para a Espanha, exigindo ajustes no processo. “Já tínhamos até etiquetado a sacaria com o destino do Marrocos e tivemos que refazer tudo. A logística foi bem simples, apenas entregar no Porto de Suape. As condições eram sacaria nova, lisa, com 25 kg e etiquetadas”, destacou ele.
A exportação tem sido facilitada por parcerias com empresas exportadoras, que cuidam da logística, permitindo que Aluísio e outros produtores recebam o pagamento rapidamente após o envio dos produtos. “Carregamos o container e recebemos o pagamento no mesmo dia”, afirma ele, destacando a simplicidade e a eficiência do processo. Além disso, a colaboração entre os produtores tem se fortalecido, criando uma rede de apoio que contribui para o sucesso das exportações. “Antes, a produção era mais individual, mas com a queda nos preços, nos unimos mais, o que nos dá mais segurança”, conta.
O futuro
Januacele Vieira, gestora da cadeia de cerveja e cachaça do Sebrae, vê um futuro promissor para o cultivo de lúpulo no Brasil. “Olhando para o Nordeste, Alagoas se destaca por ser pioneira no plantio da cultivar e já ter realizado experimentos para identificar quais espécies se adaptaram melhor à nossa região e clima”, diz. Ela reforça a importância do estudo contínuo, com o acompanhamento da Embrapa e pesquisadores da UFAL, que têm analisado a boa adaptabilidade da espécie Comet, famosa por seus altos teores de alfa ácidos, responsáveis pelo amargor característico do lúpulo. “Unir ciência e tecnologia é o caminho para avançar ainda mais em qualidade e produtividade”, acrescenta.

Januacele também destaca o impacto positivo para as cervejarias, que terão uma matéria-prima com alta disponibilidade e facilidade logística, uma vez que o Brasil importa cerca de 98% do lúpulo que consome. “Com isso, fomentamos o mercado e nos tornamos competitivos no mercado nacional e internacional”, afirma.
Ela ainda completa: “A produção de lúpulo veio agregar nas ações com o segmento de cervejas artesanais. Além de ser matéria-prima, traz visibilidade para o setor, desperta a curiosidade do público e atrai instituições de pesquisa. Pensando de forma estrutural, olhamos para o plantio do lúpulo como um motor estratégico na promoção da cultura da cerveja artesanal no Estado de Alagoas.” A função do Sebrae, segundo ela, é promover ações de integração com o ecossistema do setor, realizar ações de mercado, articular com instituições parceiras de pesquisa e desenvolvimento e dar suporte ao produtor nas qualificações técnicas necessárias ao seu crescimento.